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A Religião Como Sistema Cultural

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Por:   •  3/6/2014  •  1.607 Palavras (7 Páginas)  •  831 Visualizações

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A Religião como Sistema Cultural

O capítulo é bem provocativo, Geertz afirma que a antropologia da religião está em estado de estagnação, que vive da reduplicação solene, do academicismo. Segundo ele, os estudos antropológicos sobre religião, realizados após a segunda-guerra não trazem grande inovações, a não ser enriquecimento empírico. Estes estudos continuam utilizando o capital conceitual de estudos anteriores, utilizando-se de uma tradição intelectual estreitamente definida, que inclui Durkheim, Weber, Freud ou Malinowski.

Para Geertz, pequenas variações de temas teóricos clássicos não alteram este estado. Para isso seria necessário que os estudiosos se ativessem a problemas obscuros que possibilitem descobertas. Isto não significa abandonar as tradições teóricas existentes até então, mas tomá-las como ponto de partida para, assim, ampliar nossa percepção a partir delas.

O autor afirma que sua análise da religião se restringe apenas a dimensão cultural desta. Ele afirma entender a existência múltipla do termo cultura, mas que o utiliza no sentido de “um padrão de significados transmitido historicamente, incorporado em símbolos, um sistema de concepções herdadas expressas em formas simbólicas por meio das quais os homens comunicam, perpetuam e desenvolvem seu conhecimento e suas atividades em relação à vida” (p.66).

A partir desses pressupostos, Geertz apresenta um paradigma sobre a religião. Estabelecendo dois conceitos fundamentais para a teoria de Geertz – Ethos e visão de mundo -, este paradigma diz que os símbolos sagrados funcionam para sintetizar o ethos de um povo e sua visão de mundo mais ampla sobre a ordenação das coisas. Os símbolos religiosos estabelecem uma harmonia fundamental entre um estilo de vida particular (ethos) e uma metafísica especifica (visão de mundo). A religião ajusta as ações humanas a uma ordem cósmica e projeta imagens desta ordem cósmica no plano da experiência humana, o que ocorre no cotidiano de cada povo.

Geertz reduz este paradigma a uma definição, e, a partir daí, passa a dissecá-la. Segundo tal definição uma religião consiste em: “um sistema de símbolos que atua para estabelecer poderosas, penetrantes e duradouras disposições e motivações nos homens através da formulação de conceitos de uma ordem de existência geral e vestindo essas concepções com tal aura de fatualidade que as disposições e motivações parecem singularmente realistas” (p. 67).

O sentido de símbolo aqui utilizado é o de “objeto, ato, acontecimento, qualidade ou relação que serve como veículo a uma concepção – a concepção é o “significado do símbolo” (p. 67). O estudo de uma atividade na qual o simbolismo forma o conteúdo positivo, uma atividade cultural, é a realização de uma análise social. Os atos culturais, a construção, apreensão e utilização de formas simbólicas, são acontecimentos sociais como quaisquer outros. Contudo, nos mostra Geertz, por mais que o social, o cultural e o psicológico estejam imbricados na vida cotidiana, é útil separá-los a nível de análise.

Os sistemas ou complexos de símbolos são chamados de padrões culturais e representam fontes extrínsecas de informação. Eles fornecem programas para os processos social e psicológico que modelam o comportamento público. As fontes extrínsecas, ou seja, os padrões culturais, tornam-se vitais, pois o comportamento humano é instavelmente estabelecido pelas fontes de informação intrínsecas. Também é possível afirmar que os padrões culturais são modelos. Contudo, no caso dos padrões culturais o termo modelo assume duas dimensões: modelo de realidade e modelo para a realidade. Os modelos “para” funcionam para estabelecer informações para padrões de comportamento. Já os modelos “de” são a representação de modo simbólico destes padrões de comportamento, algo que, segundo o autor, provavelmente só acontece entre os humanos. Os modelos “de” são concepções gerais e os modelos “para” são disposições mentais. É esse duplo aspecto que separa os símbolos de outras espécies de formas significativas.

A intertransponibilidade dos “modelos de” e dos “modelos para” é bastante visível quanto aos símbolos religiosos. Os símbolos concretos envolvidos apontam para ambas as direções, expressam o clima do mundo e o modelam. O modelam induzindo o crente a certo conjunto distinto de disposições, ou seja, a que exista uma probabilidade e uma determinada atividade seja exercida. Quanto a atividades religiosas duas são as espécies de disposição: ânimo e motivação. A motivação é uma inclinação crônica para executar certos tipos de atos e experimentar certas espécies de sentimentos em determinadas situações, ou seja, motivações são duradouras e significativas quanto a seu fim. Já os ânimos são significativos quanto a seu surgimento, são intensos enquanto duram, mas possuem menor duração que as motivações, surgem e desaparecem com facilidade.

Os mesmos símbolos definem as disposições que estabelecemos como religiosas e colocam estas disposições em um arcabouço cósmico. A religião, além de induzir motivações e disposições, formula ideias gerais de ordem, caso contrário, segundo Geertz, ela seria apenas um conjunto de normas morais. Nesse sentido, a religião, tem sempre a necessidade de explicar a ordem geral das coisas, independente de como esta explicação se desenvolva.

Geertz aponta a dependência do homem aos símbolos e sistemas simbólicos. Eles parecem ser decisivos para que o próprio ser humano seja viável enquanto criatura, havendo quase nenhuma transigência a sugestão que a capacidade de criar, apreender e utilizar símbolos pode falhar. Se isto acontecesse, segundo o autor, seria o caos – um túmulo de acontecimentos ao qual faltam interpretações e interpretabilidade. São três os pontos no qual o caos ameaça o homem: nos limites de sua capacidade analítica – a maioria dos homens não consegue deixar sem esclarecimento problemas de análise não esclarecidos, uma inquietação profunda ocorre quando há o fracasso do aparato explanatório; nos limites de seu poder de suportar – a religião oferece a capacidade de compreender o mundo e definir as emoções, permitindo suportá-las, não saber como interpretar as emoções causa um sofrimento ainda mais profundo; nos limites de sua introspecção moral – quando algo dificulta a possibilidade de fazer julgamentos morais

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