A Sociologia Pré-científica
Trabalho Universitário: A Sociologia Pré-científica. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: Julianafr • 16/9/2013 • 1.849 Palavras (8 Páginas) • 6.817 Visualizações
UNIDADE II - A SOCIOLOGIA PRÉ-CIENTÍFICA
O Renascimento
INTRODUÇÃO
O Renascimento, talvez mais do que a maioria dos diversos momentos históricos, suscita grandes controvérsias. Há quem veja nesse movimento filosófico e artístico o momento de ruptura entre o mundo medieval — com suas características de sociedade agrária, estamental, teocrática e fundiária — e o mundo moderno urbano, burguês e comercial. Mudanças significativas ocorrem na Europa a partir de meados do século XV lançando as bases do que viria a ser, séculos depois, o mundo contemporâneo. A Europa medieval, relativamente estável e fechada, inicia um processo de abertura e expansão comercial e marítima. A identidade das pessoas, até então baseada no clã e na propriedade fundiária, vai sendo progressivamente substituída pela identidade nacional e pelo individualismo. A mentalidade vai se tornando paulatinamente laica — desligada das questões sagradas e transcendentais —, as preocupações metafísicas vão convivendo com outras mais imediatistas e materiais, centradas principalmente no homem. Embora as preocupações metafísicas e filosóficas tenham importado ao homem desde a Antiguidade, no Renascimento a nova sociedade que emerge exige a distinção entre conhecimento especulativo e pragmático.
Diferentes visões do Renascimento
Alguns historiadores têm uma visão otimista do Renascimento, como a tiveram também aqueles que assim o batizaram, por terem erroneamente considerado a Idade Média como a Idade das Trevas e do obscurantismo. Para eles as mudanças que ocorreram na Europa, principalmente na Itália, e depois na Inglaterra e Alemanha, foram essencialmente positivas e responsáveis pelo desenvolvimento do comércio e da navegação, do contato com outros povos, pela proliferação de obras de arte e de obras filosóficas. Nessa ótica foi o movimento renascentista que promoveu o renascer da cultura e da erudição, o gosto pelo saber, além de tê-los, aos poucos, posto à disposição da população em geral. Mas há também os historiadores mais pessimistas, que conseguem perceber nessa época um período de grande turbulência social e política. Para essa análise, esses historiadores apóiam-se na falta de unidade política e religiosa, nos grandes conflitos existentes entre as nações, nas guerras intermináveis, nas inquisições e perseguições religiosas, no esforço de conservação.
Ilustração da Divina comédia, escrita por Dante Alighieri. Nela, o artista expressa sua visão da sociedade da época. de um mundo que agonizava, características marcantes do período. Consideram sintomas de tudo isso os exílios, as condenações e os longos processos políticos e eclesiásticos, os grandes genocídios que a Europa promoveu na América e o ressurgimento da escravidão como instituição legal. De fato, um certo clima de fim de mundo perpassa a produção artística período, expresso na Divina comédia de Dante Alighieri, no Juízo final de Michelângelo, pintado na Capela Sistina e em vários quadros do artista flamengo Heironymus Bosch. Um clima de insegurança e instabilidade perpassa a todos nessa época de profunda transição.
A retomada do espírito especulativo
De qualquer maneira, 'o Renascimento marca uma nova postura do homem ocidental diante da natureza e do conhecimento. Juntamente com o é descrédito na Igreja como instituição e o consequente aparecimento de novos credos e seitas — que conclamavam os fiéis a uma leitura interpretativa das escrituras — o homem renascentista retoma a crença no pensamento especulativo. O conhecimento deixa de ser revelado, como resultado de uma atividade de contemplação e fé, para voltar a ser o que era antes entre gregos e romanos — o resultado de uma bem conduzida atividade mental.
Assim como a ciência e a filosofia, a arte também se volta para a realidade concreta, para o mundo terreno, numa ânsia por conhecê-lo, descrevendo-o, analisando-o, medindo-o, quer com medidas precisas, quer por meio de uma perspectiva geométrica e plana.
"O visível é também inteligível", afirmava Leonardo da Vinci, encantado com as possibilidades de conhecimento pelo do uso dos sentidos. Por outro lado, a vida terrena adquire cada vez importância e com ela a própria história, que passa a ter uma dimensão eminentemente humana. Estimulado pelo individualismo e liberto dos valores que o prendiam irremediavelmente à família e ao clã, o homem já concebe seu papel na história como agente dos acontecimentos. Ele vai aos poucos abandonando a concepção que o tomava por pecador e decaído, um ser em permanente dívida para com Deus, para se tornar, na nova perspectiva, o agente da história.
Exemplos clássicos são Shakespeare evoca constantemente em suas peças a tragédia do homem diante de suas opções e sentimentos, enquanto Michelangelo faz quase se encontrarem os dedos de Deus e Adão na cena da Criação. É nesse ambiente de renovação que o pensamento científico tomará novo fôlego e, com ele, o pensamento acerca da vida social com o desenvolvimento das cidades e do comércio, as viagens marítimas, o contato com outros povos que desafiavam a sua própria realidade diante de tais diferentes culturas. Somado a isso, novas terras, novas riquezas, novos tipos de alimentos estimulavam o rompimento com o passado e instigava cenários diferentes que se descortinavam maravilhosos. Nesse ínterim as invenções tecnológicas, as revoluções na produção material da vida como por exemplo a prensa de Gutenberg que traz à luz a comunicação escrita impressa promovendo a disseminação do conhecimento religioso, artístico e científico. O mundo começa a refletir e a argumentar.
Um novo pensamento social
Num mundo que se torna cada vez mais laico e livre da tutela da Igreja Católica, o homem se sente livre para pensar e criticar a realidade que vê e vivência. Sente-se livre para analisar essa realidade como algo em si mesmo e não como um castigo que Deus lhe reservou. E, assim como os pintores que se debruçaram nas minúcias das paisagens, na disposição das figuras numa perspectiva geométrica, os filósofos também passam a questionar e dissecar a realidade social. A vida dos homens passa a ser fruto de suas ações e escolhas, e não dos desígnios da justiça divina.
Novas instituições políticas e sociais, estados nacionais, exércitos, levam os homens a repensar a vida social e a história. Ao mesmo tempo, emerge uma nova classe social — a burguesia comercial —, com novas aspirações e interesses, que renova o pensamento social. Nessa visão humana e especulativa da vida social
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