Armenia e Azerbaijão
Por: Pedro Henrique Brito • 8/9/2016 • Artigo • 2.074 Palavras (9 Páginas) • 204 Visualizações
Origem do conflito entre armênios e azeris
O domínio sobre a região do Nagorno-Karabakh gera entre Armênia e Azerbaijão o conflito que tem sua origem na tomada de decisão feita por Stalin ao colocar esta zona nas mãos do Azerbaijão. A princípio, o futuro líder soviético havia prometido esta área para a Armênia, mas tal decisão atrapalharia as relações com a Turquia, país este em que a Rússia tentava submeter ao pensamento comunista. Isso o fez mudar de ideia, escolhendo colocar o Azerbaijão como soberano da região, ainda que a maioria presente em Karabakh fosse armênia e originalmente cristã, diversamente do povo azerbaijano que são basicamente muçulmanos xiitas. Muitas tensões por parte do povo armênio e da própria Armênia foram motivadas pela decisão de Stalin, o que levou a uma guerra após a dissolução da União Soviética, abrindo espaço para que o Parlamento de Nagorno-Karabakh aproveitasse para declarar independência do Azerbaijão. O processo de independência de Nagorno-Karabakh, na perspectiva política, estava em total concordância com a legislação que até então era vigente na URSS.
O direito de optar entre seguir ou não a nação separatista é, verdadeiramente, assegurado às regiões autônomas que fazem parte dos estados que decidiram desmembrar-se da União Soviética. Como pode-se inferir, o Parlamento de Nagorno-Karabakh optou por não seguir o Azerbaijão, querendo assim estabelecer uma nova república. Esta escolha ocasionou numa guerra violenta entre o Azerbaijão e a nova República de Nagorno-Karabakh que era apoiada pela Armênia. A guerra perdurou 6 anos (fevereiro de 1988 a maio de 1994) até a assinatura do cessar fogo, que, no entanto, vem sendo desrespeitado pelos dois lados. Após a guerra brutal, as forças armênias haviam recuperado grande parte do território da República de Nagorno-Karabakh, garantindo a formação de um Estado de fato, o qual é uma nação independente e com uma estrutura política organizada, porém não reconhecida internacionalmente.
O conflito entre Armênia e Azerbaijão persiste até hoje, mesmo que não seja no nível de uma guerra, ainda que haja mortes causadas pelas recentes violações do cessar-fogo. O Grupo de Minsk, criado em 1992 pela OSCE(Organização para Segurança e Cooperação na Europa), tem um papel importante neste conflito, pois vem servindo como mediador entre as duas nações conflitantes, encorajando a negociação e tentando impedir a deflagração de uma nova guerra.
Os interesses da Rússia e da União Europeia
As intenções da Rússia no Cáucaso são objetos relevantes para o estudo dessa dissipação das divergências nessa região. Sua tomada de decisão atinge de forma direta as políticas e estratégias dos países circunvizinhos (XAVIER, 2015). Com sua política externa, a Rússia procura avançar o processo de recuperação da sua hegemonia na região do Cáucaso através de duas estratégias, estas sendo a maximização do poder e perturbação da presença dos EUA na região. Estratégias definidas pelo realismo ofensivo do John J. Mearsheimer (cit. por CAMPOS, 2013).
Na análise feita por Ruiz (2014) em sua reportagem, mostra que o comportamento da Rússia nesse conflito teve uma complexidade peculiar, por razão de ter ligação histórica com a Armênia, tanto por parte étnica quanto religiosa, e também vínculo com o Azerbaijão devido aos recursos energéticos do Cáspio que o Azerbaijão tem acesso. O país russo se colocava como neutro perante o conflito, mas na prática fornecia armas e equipamentos militares para os dois países que se encontravam em choque.
Tendo em vista a situação que se encontra no sudeste da Ucrânia, a Rússia não está interessada num descongelamento do conflito entre Armênia e Azerbaijão, pois pela relação que existe entre os russos e armênios, teria que, por fim, tomar partido e ficar ao lado da Armênia (FEDYASHIN, 2014), o que fragilizaria, na melhor das hipóteses, a sua relação diplomática com os azeris. Segundo Bizzotto (2014), por conta dessa situação, a Rússia se vê em meio à necessidade de intervir como mediador, o que na opinião de muitos especialistas e estudiosos do caso, tem um motivo muito específico que é a ampliação da influência russa no Cáucaso, de maneira que impeça a ultimação de acordos de associação comparáveis ao que a Ucrânia assinou juntamente com a União Europeia. Portanto, nos últimos anos, o interesse em exercer tal função, demonstra seu grau de empenho em influenciar aquela região.
A análise sobre o equilíbrio regional no Cáucaso torna-se essencial à medida que evolui a presença militar dos Estados Unidos no local e a Rússia passa a estabelecer uma estratégia de hegemonia da área em questão. A proeminência do tema também se liga aos atuais desdobramentos da política externa russa, cujas medidas passaram a ter uma natureza mais hostil no que diz respeito aos Estados Unidos e a Europa.
Todo esse processo de apaziguamento e preservação do status quo no Cáucaso, que tem sido atualmente desestabilizado por efeito das disputas entre armênios e azeris, certamente, propiciaria de forma rápida o desenvolvimento do projeto de unificação impulsionada por Vladmir Putin, o que de acordo a análise feita por Mearsheimer (2014), torna cada vez mais visível o propósito final do Kremlin: recriar uma espécie de bloco do Leste que tenha o poder de neutralizar a influência tanto econômica quanto militar dos Estados Unidos e da União Europeia, endossando a formação de uma nova superpotência que consiga influenciar o equilíbrio global da geopolítica.
Como analisa Simão (2010), com a União Europeia tentando fugir de sua dependência russa e objetivando aumentar sua influencia na região, atualmente busca avançar com políticas a todo o momento no entorno do Mar Negro para que estas salvaguardem seus interesses no equilíbrio político, na sustentabilidade tanto econômica quanto ambiental e na resolução de conflitos como o do Nagorno-Karabakh, tal como nas pautas energéticas que permanecem como objetivo central, o que tem mostrado na presença da disputa crescente a razão do empenhamento cada vez maior e dos esforços diplomáticos que possam assegurar reservas energéticas para a Europa.
A dependência que a UE possui em relação ao fornecimento feito pela Rússia, tem se tornado instrumento de coerção para os soviéticos, o que de acordo com Simão (2012), explicita a necessidade de diversificação das fontes energéticas europeias. Todo esse cenário torna imediato o desenvolvimento de meios que tragam a energia do Cáspio e da região central da Ásia para o mercado europeu de forma a evitar o território russo (FRADE, 2013).
As políticas relacionadas à criação de oleodutos e gasodutos têm um enfoque geopolítico muito marcado, e que a União Europeia deve reproduzir de maneira controlada. Os EUA apoiaram a construção do oleoduto BTC – sigla para Baku-Tbilisi-Ceyhan cidades onde passa o oleoduto – o que foi fundamental para a segurança energética da Europa e para garantir uma colaboração maior entre UE e os estados Euroasiáticos, como ressaltado por Frade (2013). Simão (2010) ainda diz que, contudo, a União Europeia foi atingida negativamente pela falta de entendimento estratégico na questão energética quando o fornecimento de energia foi afetado por cortes causados pela disputa entre Ucrânia e Rússia.
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