Malinovski E Joao Pina Cabral
Artigo: Malinovski E Joao Pina Cabral. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: guedesf • 27/11/2014 • 2.093 Palavras (9 Páginas) • 365 Visualizações
Após a leitura dos textos “Os Argonautas do Pacífico Ocidental”, de BronslawMalinovski e “Notas criticas sobre observação participante no contexto da etnografia portuguesa” de João Pina Cabral, e tendo em conta aspectos fulcrais como o trabalho de campo prolongando, a aprendizagem da linguagem nativa, a observação participante e a abordagem qualitativa podemos constatar que todos estes pontos estão presentes em ambos os textos, embora alguns possam ser diferenciados face ao local geográfico onde o estudo é feito.
Segundo Malinovski, na Etnografia, o autor é em simultâneo o seu próprio cronista e historiador, ou seja, mesmo que as suas fontes de informação sejam facilmente acessíveis, elas são também altamente incertas e complexas, isto é, não estão materializadas em documentos fixos mas por sua vez no comportamento e na respectiva memória dos homens vivos. O autor diz também que em qualquer ramo do conhecimento, os resultados de uma pesquisa devem ser apresentados de um maneira neutra e honesta, à semelhança do que diz João Pina Cabral no seu texto, sendo então possível identificar o primeiro elo de comparação entre os dois. Na sua investigação na tribo dos Papua-Melanésios, o primeiro contacto é feito na companhia do seu “cicerone branco”, que desde logo são rodeados pelos nativos, especialmente quando estes sentem a existência de tabaco (elemento compensatório face à presença do até agora sujeito estranho), isto porque há uma necessidade para qualquer grupo social de sentir que existem vantagens na presença do investigador. No seu primeiro dia de trabalho como investigador e já sem a presença do “homem branco”, existem as primeiras tentativas de interacção com os nativos recorrendo à linguagem “pidgin-English” e também algumas trocas de tabaco o que proporciona uma atmosfera de amabilidade mútua (o que em semelhança ao que escreve João Pina Cabral, refere o tal “pagamento” feito em cada tribo face ás\aos necessidades\desejos em especifico por parte dos nativos). Numa primeira instância, Malinovski optou por observá-los e tentar perceber os nomes das ferramentas que usavam enquanto trabalhavam no seu dia-a-dia, bem como algumas expressões técnicas. No entanto, o autor tinha a sensação de que seria impossível obter uma comunicação fluente com os nativos e que a melhor solução para ultrapassar este obstáculo era trabalhar na recolha de dados concretos, elaboração de censos da aldeia, registo de genealogias e recolha de termos que designavam as formas de parentesco.
Condições adequadas ao trabalho etnográfico
É importante manter a distância dos brancos, no que toca a informação sobre os nativos e aproveitar ao máximo o tempo na tribo mantendo uma relação estreita com os membros da mesma, sendo só isto possível acampando dentro do seu território. No entanto, devido às necessidades pessoais do investigador a população vizinha “Homens Brancos” desempenham um papel importante pois garante-lhe segurança, comida e satisfação de outras necessidades básicas e essenciais.
A constante presença do investigador deixa de ser um problema para os nativos, sendo que estes se habituam à sua presença e acabam por encará-lo como membro integrante do grupo e das suas vidas. O facto de o investigador acabar por entrar na vida dos nativos, acaba por ser “um mal ou um aborrecimento necessário”, que acaba por ser compensado, neste caso, por donativos de tabaco. A aprendizagem do comportamento nativo por parte do investigador leva a um maior contacto e uma melhor relação, pois este adquire a sensibilidade necessária para perceber quais as boas e más maneiras para aquela tribo, sendo devido a esta atitude e à capacidade de apreciar a companhia, bem como a participação em alguns dos seus jogos, que o investigador começa a sentir-se parte da tribo. Este tipo de posição é fulcral para qualquer tipo de trabalho de campo.
Estar treinado e actualizado não é sinónimo de “ideias preconcebidas”, ou seja, se um investigador for para uma tribo ou qualquer outro grupo social com ideias previamente concebidas com o objectivo de tentar prova-las e não estar disposto a desistir delas, o seu trabalho torna-se inútil. O investigador orienta-se, fundamentalmente, segundo a inspiração da teoria e claro que pode ser ao mesmo tempo um pensador e investigador teórico e, nesse caso, pode valer-se de si próprio para obter estímulo, ou seja, pode conceber teorias e guiar-se por elas na sua investigação prática. Sendo assim, o primeiro objectivo do trabalho de campo etnográfico é construir um esquema claro e firme da constituição social, bem como enaltecer as leis e normas dos fenómenos sociais, deixando de parte os aspectos irrelevantes.
Existem fenómenos muito importantes que não é possível reter através de questionários ou da análise de documentos, pois têm de ser observados. Estes fenómenos têm o nome de impoderabilia da vida real, onde se inserem coisas como a rotina de um dia de trabalho, pormenores relacionados com a higiene corporal, modos de cozinhar e comer, o ambiente à volta da fogueira e as conversas, etc etc.
Notas criticas sobre observação participante no contexto da etnografia portuguesa – João Pina Cabral
O autor começa por referir a importância do método de observação participante, contudo elucida-nos para a subestimação do investigador em si, ou seja, dá-se mais relevo à investigação propriamente dita, do que ao investigador que está no terreno. JeansCopans prevê o desaparecimento da observação participante, necessidade de um etnógrafo treinado passar um período de aproximadamente dois anos a partilhar das condições de vida das populações que estuda, comunicando com elas na língua local e prestando atenção a todos os aspectos da vida cultural e social. Isto porque existe uma tendência para novas formas de pesquisa devido à mudança das populações que se estudam. BronislawMalinovski promove o método de observação participante “ só com ele, durante a primeira Guerra Mundial, o método da observação participante chega à maturidade”. Depois da primeira guerra mundial o objecto de estudo alargou burocrática e fisicamente, ou seja, existe uma maior facilidade de acesso aos povos mais primitivos. A antropologia deixou de ser a ciência das cidades primitivas e chega assim a centros urbanos europeus e norte americanos. O antropólogo deixa de ser classificado pelo objecto de estudo e começa a ser classificado pelo método e discurso. A etnografia já não se limita apenas ao estudo dos “povos sem história”, até porque todos os grupos sociais, até aos mais primitivos têm uma história, ou seja, a perspectiva histórica é fundamental para todos os
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