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Ninguém Nasce Feito: é Experimentando-nos No Mundo Que nós Nos Fazemos

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Por:   •  14/10/2014  •  497 Palavras (2 Páginas)  •  1.413 Visualizações

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Ninguém nasce feito. Vamos nos fazendo aos poucos, na prática social de que

tomamos parte.

Não nasci professor ou marcado para sê-lo, embora minha infância e

adolescência tenham estado sempre cheias de “sonhos” em que rara vez me vi

encarnando figura que não fosse a de professor.

“Brinquei” tanto de professor na adolescência que, ao dar as primeiras aulas no

curso então chamado de “admissão” no Colégio Osvaldo Cruz do Recife, nos

anos 40, não me era fácil distinguir o professor do imaginário do professor do

mundo real. E era feliz em ambos os mundos. Feliz quando puramente

sonhava dando aula e feliz quando, de fato, ensinava.

Eu tinha, na verdade, desde menino, um certo gosto docente, que jamais se

desfez em mim. Um gosto de ensinar e de aprender que me empurrava à

prática de ensinar que, por sua vez, veio dando forma e sentido àquele gosto.

Umas dúvidas, umas inquietações, uma certeza de que as coisas estão sempre

se fazendo e se refazendo e, em lugar de inseguro, me sentia firme na

compreensão de que, em mim, crescia de que a gente não é, de que a gente

está sendo.

Às vezes, ou quase sempre, lamentavelmente, quando pensamos ou nos

perguntamos sobre a nossa trajetória profissional, o centro exclusivo das

referências está nos cursos realizados, na formação acadêmica e na

experiência vivida na área da profissão. Fica de fora como algo sem

importância a nossa presença no mundo. É como se a atividade profissional

dos homens e das mulheres não tivesse nada a ver com suas experiências de

menino, de jovem, com seus desejos, com seus sonhos, com seu bem-querer

ao mundo ou com seu desamor à vida. Com sua alegria ou com seu mal-estar

na passagem dos dias e dos anos.

Na verdade, não me é possível separar o que há em mim de profissional do

que venho sendo como homem. Do que estive sendo como menino do Recife,

nascido na década de 20, em família de classe média, acossada pela crise de

29. Menino cedo desafiado pelas injustiças sociais como cedo tomando-se de raiva contra preconceitos raciais e de classe a que juntaria mais tarde outra raiva, a raiva dos preconceitos em torno do sexo e da mulher.

(...)

Não nasci, porém, marcado para ser um profissional assim. Vim me tornando desta forma no corpo das tramas, na reflexão sobre a ação, na observação atenta a outras práticas ou à prática

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