O ORIENTE MÉDIO EM HOLLYWOOD: A REPRESENTAÇÃO DO CORPO
Dissertações: O ORIENTE MÉDIO EM HOLLYWOOD: A REPRESENTAÇÃO DO CORPO. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: thaischoucair • 5/11/2014 • 1.590 Palavras (7 Páginas) • 170 Visualizações
O ORIENTE MÉDIO EM HOLLYWOOD: A REPRESENTAÇÃO DO CORPO
O objeto de análise escolhido pelo grupo foram os filmes “Argo” (2012) e “Munique” (2006), a partir dos seguintes critérios que consideramos importantes para o que objetivamos estudar ao longo do semestre: são filmes que tem como assunto principal algum acontecimento no Oriente Médio, são filmes que buscam uma verossimilhança com a História (ambos apresentam no começo da película os dizeres “Baseado em fatos reais”, além de apresentarem linguagem claramente verossímil), são filmes que obtiveram um grande alcance – em três vieses: bilheteria, premiações (especialmente Oscar e Globo de Ouro) e destaque na imprensa, são filmes da últimadécada, e, por fim e principalmente, são filmes que tem uma ligação com a política dos Estados Unidos (em Argo a ligação é direta, e em Munique indireta - embora incontestável).
“Argo” é de 2012, o diretor é Ben Affleck, em 2013 ganhou os Oscars de Melhor Filme, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Edição e os Globos de Ouro de Melhor Filme de Drama e Diretor. O filme se passa nos anos 70, quando o povo do Irã invade a embaixada americana e seis americanos conseguem fugir, se refugiando na casa do embaixador canadense. Forma-se um plano, então, de resgatar tais refugiados a partir de um plano de fingir a produção de um filme, chamado Argo, no território iraniano. Munique, por sua vez, é um filme do diretor Steven Spilberg, quem, em 2006 foi indicado por melhor filme ao Oscar daquele ano. O longa narra o episódio em que um grupo palestino invadiu a concentração dos atletas israelense, nas Olimpíadas de Munique. O governo do Estado judaico monta uma mega operação secreta para vingar os atletas mortos naquela noite. Cinco atrapalhados agentes são contratados para armarem emboscadas e dar cabo a vida dos mandantes do ataque.
O cinema, por agregar as linguagens visual, verbal e sonora, propiciou, em seu surgimento, uma nova forma de estar no mundo. Especialmente quando houve uma democratização do acesso aos filmes devido as mudanças tecnológicas, históricas e econômicas, o cinema passou a estar presente na vida, na consciência e no imaginário das sociedades. “A difusão democrática do cinema, por meio do desenvolvimento das tecnologias de produção, transmissão, gravação e disseminação dos filmes, torna acessível o produto às diversas camadas da vida social, pelos variados suportes e meios ehometheater, as videolocadoras, a internet, os vídeos e DVDs ampliaram a circulação de filmes, tornando-os fortes veículos de informação e cultura.” (Ana Mery Sehbe de Carli, 2007). O que é retratado no cinema, a forma como é retratado, as possibilidades de linguagem, as filmagens, os planos escolhidos, as escolhas de representação nos aspectos dos atores (figurino, expressões, falas), os olhares, e tantas outras coisas interferem diretamente na produção de sentido e não é só isso. Essas escolhas dizem da sociedade em que foi produzido (e assistido!) o filme. Dessa forma, analisar as escolhas feitas na produção do filme e a repercussão do mesmo é, também, estudar as concepções dessa sociedade. Estudar as escolhas de “Argo” e “Munique” dizem muito das concepções e objetivos da sociedade (e Governo) americana e uma das principais realidades exploradas pelo cinema é o corpo. “Os corpos do cinema, retratos das formas de comunicação do mundo contemporâneo, produzem ainda efeitos sociais e culturais, ou modelos de memória do corpo.” (Maria Teresa Santoro Dorrenberg, 2006) As escolhas na representação do corpo nos dois filmes escolhidos é o que procuramos entender e perceber neste primeiro trabalho.
É importante, antes de esmiuçar as representações do corpo nos filmes, destacar aquilo que já foi citado quando colocamos os critérios utilizados para a escolha dos filmes: ambos buscam a verossimilhança. Dessa forma, o corpo é retratado na busca pelo real, o corpo biológico, carnal, cotidiano. Assim, a importância das características desses corpos nos filmes torna-se ainda mais relevante para a construção de sentido, pois parte-se do pressuposto que nos acontecimentos reais os quais o filme se baseia, os corpos eram dessa mesma forma, agiam dessa mesma forma, ou seja, a representação dos corpos em “Argo” e “Munique” tem uma relevância imensa na construção cultural e histórica na sociedade.
Dessa forma, partimos para as características mais específicas. No filme “Argo” (2012), a primeira noção relativa aos corpos percebida assim que o filme começa - e durante algumas cenas - é a noção de multidão. Na primeira cena, milhares de pessoas iranianas muito próximas umas das outras protestam enraivecidas e gritam em coro, e, em seguida, invadem a embaixada americana. A multidão expressa uma perda de individualidade dos corpos, é como se cada indivíduo não representasse mais ele mesmo, mas sim fosse uma parte numa massa de corpos que almeja algo, pensa algo, faz algo. Nesse caso, essa multidão foi representada de forma extremamente agressiva e quase animalesca, com partes dessa multidão arrancando grades, tentando passar por cima dos muros, batendo em tudo que viam pela frente. Só com essa cena já podemos perceber claramente aquilo que permaneceria ao longo do filme: o iraniano com forte representação a partir dos aspectos de raiva, impulso, falta de raciocínio antes de agir, estupidez, agressividade e violência.
Na nossa percepção dos filmes, devido às suas características e particularidades, o principal ponto relativo ao corpo foram os gestos. Não nos referimos aqui a uma gesticulação específica ou algo desse tipo, mas sim a um conjunto de gestos dos personagens ao longo do filme, que representam (e muito) o que estava sendo mostrado. “O código gestual, desenvolvido e assimilado como referência cultural, pode mapear manifestações de defesa, de submissão, de simpatia, de aprovação, etc. São esses gestos que conduzem à hierarquia dos indivíduos em diferentes situações da vida pública e também pontuam seus respectivos papéis dentro do coletivo.”(Ana Mery Sehbe de Carli, 2007). Levamos em consideração, então, um conceito muito mais amplo de gesto, que engloba olhares, expressões faciais, formas de andar, entre tantas
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