PERFIL SÓCIO-ECONÔMICO, ETÁRIO, ÉTNICO E SEGUNDO O SEXO ENTRE ESTUDANTES DA GRADUAÇÃO EM MEDICINA DA UFBA (2005-2012)
Monografias: PERFIL SÓCIO-ECONÔMICO, ETÁRIO, ÉTNICO E SEGUNDO O SEXO ENTRE ESTUDANTES DA GRADUAÇÃO EM MEDICINA DA UFBA (2005-2012). Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: marcos90 • 17/11/2014 • 5.726 Palavras (23 Páginas) • 418 Visualizações
PERFIL SÓCIO-ECONÔMICO, ETÁRIO, ÉTNICO E SEGUNDO O SEXO ENTRE ESTUDANTES DA GRADUAÇÃO EM MEDICINA DA UFBA (2005-2012)
MINELLA, LUZINETE SIMÕES
PPGICH/UFSC
Campus Universitário Reitor João David Ferreira Lima
Trindade - Florianópolis - Santa Catarina - Brasil
CEP: 88040-900
simoesluzinete@gmail.com
RESUMO
Este artigo objetiva esboçar as linhas gerais do perfil sócio-econômico, geracional, étnico e segundo o sexo, dos/as estudantes que ingressaram na graduação da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia entre 2005 e 2012. O enfoque se fundamenta numa perspectiva de gênero que privilegia suas interseções com outros marcadores da diferença - gerações, classe e etnia – de modo a refletir sobre o acesso das mulheres à carreira médica. A metodologia se baseou no levantamento de dados secundários obtidos junto às bases da instituição. Os resultados obtidos até o momento mostram que há uma maioria do sexo masculino, embora se verifique uma tendência à feminização da área; tem prioritariamente entre 17 e 19 anos; a renda familiar pode ser considerada alta, em comparação com outros cursos, concentrando-se principalmente na faixa entre cinco a dez salários mínimos. Quanto a cor, a maior parte se declarou parda. A proporção de autodeclarados pretos, revela uma tendência ascendente; a dos descendentes dos índios mostra também um incremento, embora estes continuem representando uma minoria.
Palavras-chave: Gênero. Interseções. Medicina. Feminização.
INTRODUÇÃO
Este artigo objetiva esboçar as linhas gerais do perfil sócio-econômico, geracional e étnico das mulheres que ingressaram no curso de graduação da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia, entre 2005 e 2012, à luz das interseções entre gênero, gerações, classe e etnia. Constitui parte de uma pesquisa mais ampla, em andamento, que contemplará os cursos nos Estados da Bahia e de Santa Catarina, tentando focalizar as chances e os limites de absorção de mulheres não brancas, não jovens e de baixa renda1.
A escolha da medicina como campo de investigação levou em conta vários fatores: o caráter estratégico dessa área para o avanço do conhecimento científico e tecnológico; o prestígio que proporciona, sendo por isso mesmo, tradicionalmente, uma das carreiras mais concorridas nos exames de ingresso às universidades; o alto impacto que as ações da área exercem no cotidiano da sociedade; o visível incremento do número de mulheres nas últimas décadas e finalmente, a carência de abordagens que possam acompanhar as especificidades dessa expansão. O fato de ter atuado durante muitos anos, na área de Ciências Sociais e Saúde, em particular nos âmbitos da saúde mental e da saúde reprodutiva, também interferiram nessa escolha.
Além do objetivo geral – esboçar as linhas do perfil dos/as estudantes - a pesquisa tem três objetivos específicos: a) investigar os impactos da adoção das políticas de cotas sobre o perfil dos/as estudantes. Sem dúvida alguma, os candentes debates nacionais sobre as ações afirmativas e as políticas de cotas que foram gradativamente implementadas em várias universidades brasileiras, nos últimos anos, a fim de estimular a entrada de estudantes das escolas públicas, negros/as e índios/as, motivou ainda mais a realização desse estudo; b) sintetizar os temas abordados e as metodologias utilizadas em diferentes estudos sobre a participação das mulheres no campo da ciência e da medicina, considerando os avanços realizados no âmbito das discussões sobre gênero e ciências; c) numa fase posterior, pretende-se também identificar as principais semelhanças e diferenças entre os contextos baiano e catarinense, levando em conta os impactos das suas especificidades histórico-culturais.
A metodologia se baseou no levantamento de dados secundários sobre sexo, renda familiar, idade, cor e origem dos/as estudantes inscritos entre 2005 – quando foi implantado o sistema de cotas na UFBA - e 2012, sistematizados por diversos setores da universidade, a partir do questionário sócio-econômico preenchido pelos candidatos ao Concurso Vestibular. A mesma abordagem será adotada nos cursos de outras instituições. A seleção se fundamentou no mapeamento dos cursos na Bahia, feito através de consulta aos sites das instituições de
1 Trata-se do projeto em andamento intitulado “Mulheres no campo da Medicina no Nordeste e no Sul do Brasil: interseções de gênero, gerações, classe e etnia”, iniciado em 2012, com previsão de conclusão em 2015, financiado pelo CNPq.
ensino superior e ainda, ao site das Escolas Médicas do Brasil2 que disponibiliza uma relação atualizada com nomes e endereços, além de outras informações.
Na Bahia foram encontrados cinco cursos que funcionam nas seguintes instituições, tendo sido criados entre 1832 e 20043: a) Faculdade de Medicina da Bahia (FMB/Universidade Federal da Bahia), 1832; b) Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, 1952; c) Universidade Estadual de Santa Cruz/UESC, 2000; d) Universidade Estadual de Feira de Santana/UEFS, 2003; e) Faculdade de Ciência e Tecnologia/FCT, 2004.
Foram selecionados dois cursos, um público e um privado: o da UFBA e o da Escola Bahiana. Como se vê, há grandes diferenças em relação ao período de sua criação. O mais antigo se originou em 1808, durante a presença da família real portuguesa no Brasil, quando D. João VI formalizou a criação da Escola de Cirurgia da Bahia. Esta Escola foi transformada em 1813, na Academia Médico-Cirúrgica e depois em Faculdade de Medicina da Bahia em 1832, sendo incorporada à Universidade Federal da Bahia em 19464. A Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública foi criada mais de um século depois, é uma instituição privada, mantida pela Fundação Bahiana para Desenvolvimento das Ciências (FBDC) e, além da Medicina, oferece também os seguintes cursos de graduação: Biomedicina, Enfermagem, Fisioterapia, Odontologia, Psicologia e Terapia Ocupacional5.
No momento, o levantamento de dados na UFBA foi concluído e recém iniciou-se na Bahiana6. Neste artigo são analisados apenas os dados obtidos na UFBA. No próximo item, serão sintetizadas as linhas gerais do enfoque teórico que orienta essa pesquisa. Posteriormente a análise dos resultados será elaborada principalmente a partir do diálogo com estudos anteriores (MINELLA, 2012 e 2013).
I - O enfoque: gênero e interseções
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