Reflexão da obra “А construção social da realidade”
Resenha: Reflexão da obra “А construção social da realidade”. Pesquise 861.000+ trabalhos acadêmicosPor: camillaamorimm • 30/5/2014 • Resenha • 1.777 Palavras (8 Páginas) • 363 Visualizações
1 – REFLEXÃO DA OBRA “A CONSTRUÇÃO SOCIAL DA REALIDADE”
Peter L. Berger e Thomas Luckmann partilham a autoria deste livro que explora, no primeiro capítulo, após uma introdução de carácter geral, o problema da construção social da realidade a partir dos alicerces do conhecimento na vida quotidiana. O segundo e terceiro capítulos constituem o núcleo da obra e apresentam a sociedade como realidade objectiva. No que diz respeito à realidade objectiva, assume uma importância cada vez maior a institucionalização e a legitimação através da organização social. Quanto à realidade subjectiva, destacam-se a interiorização da realidade através da socialização e a identidade no âmbito da estrutura social, construindo-se assim uma ponte teórica para os problemas da Psicologia Social
No seu Tratado de Sociologia do Conhecimento intitulado “A Construção Social da Realidade” (op.cit,pp.124/132), Peter Berger e Thomas Luckmann desenvolvem uma análise dos “processos de legitimação pelos universos simbólicos” que toma por base a intersubjetividade e a biografia individual. Abordam o problema da transmissão a uma nova geração das “objetivações da ordem institucional”, assim tornada histórica. Quer dizer, a legitimação é uma questão de tradição teórica, incluindo as explicações e justificações.
O esquema analítico desses autores afirma a precedência do conhecimento sobre os valores, e se aplica a partir da distinção de quatro níveis. Inicialmente, a legitimação “incipiente” acha-se presente “logo que um sistema de objetivações lingüísticas da experiência humana é transmitido”. É o primeiro nível, que inclui “todas as afirmações tradicionais simples do tipo ‘é assim que se faz as coisas”. É o nível pré-teórico e constitui o fundamento do conhecimento evidente “sobre o qual devem repousar todas as ‘teorias subseqüentes’ e, inversamente, nível ao qual estas devem atingir para serem incorporadas à tradição”.
O segundo nível contém proposições teóricas em forma rudimentar, incluindo esquemas explicativos que relacionam “conjuntos de significações objetivas” e que “são altamente pragmáticos”, como “os provérbios, as máximas morais e os adágios da sabedoria” - ademais das lendas e histórias populares.
O terceiro nível já compreende “teorias explícitas”: um “corpo diferenciado de conhecimentos” oferecendo um “quadro de referência” amplo para a “conduta institucionalizada”. Já se nota a função de “pessoal especializado” para a transmissão desse conhecimento, pelo que o processo de legitimação começa a atingir “um grau de autonomia em relação às instituições legitimadas”, podendo gerar “seus próprios procedimentos institucionais”.
É somente impõem os universos simbólicos como tais, isto é, como “corpos de tradição teórica que (a)-integram diferentes áreas de significação”, (b)-abrangem a ordem institucional em “processo de significação”, (c)-se referem a realidades diferentes das pertencentes à experiência da vida cotidiana”, (d)-realizam o grau mais alto de integração “de particulares áreas de significado” e de “processos separados de conduta institucionalizada”. Quer dizer, “todos os setores da ordem institucional acham-se integrados num quadro de referência global”. Desse modo, a “integração reflexiva de processos institucionais distintos alcança sua plena realização”; “todas as teorias legitimadoras menores são consideradas como perspectivas especiais”; “os papéis institucionais tornam-se modos de participação”.
Para Berger e Luckmann os universos simbólicos são passíveis de cristalização segundo processos de “objetivação, sedimentação e acumulação do conhecimento”. Esses processos de cristalização levam a um mundo de produtos teóricos que, porém, não perde suas raízes no mundo humano de tal sorte que os universos simbólicos se definem como “produtos sociais que têm uma história”.
Desse modo, se quisermos entender o significado desses produtos temos de entender a história da sua produção, em termos de objetivação, sedimentação e acumulação do conhecimento. A “função nômica” (função de fazer observar as rubricas e normas dos procedimentos regidos por símbolos, como procedimentos de tipo litúrgicos) do universo simbólico é que “põe cada coisa em seu lugar certo”, permitindo ao indivíduo “retornar à realidade da vida cotidiana”.
A análise dos processos de legitimação por Berger e Luckmann tem em conta que, nas objetivações em que as teorias são observadas, surge a questão de saber “até que ponto uma ordem institucional, ou alguma parte dela é apreendida como uma faticidade não humana”, e que essa “é a questão da reificação da realidade social”.
Trata-se de saber “se o homem ainda conserva a noção de que, embora objetivado, o mundo social foi feito pelos homens e, portanto, pode ser refeito por eles”. É a reificação como grau extremo do processo de objetivação, extremo esse no qual “o mundo objetivado perde a inteligibilidade e se fixa como uma faticidade inerte. Os significados humanos são tidos, então, como “produtos da natureza das coisas”.
Quer dizer, a reificação é uma modalidade da consciência, de tal sorte que, mesmo apreendendo o mundo em termos reificados, o homem continua a produzí-lo - paradoxalmente, o homem é capaz de produzir uma realidade que o nega. Em conseqüência a análise visando a integração reflexiva nota que “a reificação é possível no nível pré-teórico e no nível teórico da consciência”: “os sistemas teóricos complexos podem ser descritos como reificações, embora presumivelmente tenham suas raízes em reificações pré-teóricas” -“a reificação existe na consciência do homem da rua” e não deve ser limitada às construções dos intelectuais.
Da mesma maneira, seria “um engano considerar a reificação como uma perversão de uma apreensão do mundo social originariamente não reificada”: “a apreensão original do mundo social é consideravelmente reificada. Em contrapartida, prosseguem Berger e Luckmann, a apreensão da própria reificação como modalidade da consciência “depende de uma desreificação ao menos relativa, exigência sóciológica esta que “é um acontecimento comparativamente tardio”.
Completando seu esquema analítico, os autores mencionados notam que as instituições podem ser apreendidas em termos reificados quando se lhes outorga “um status ontológico independente da atividade e da significação humanas”. Quer dizer, através da reificação “o mundo das instituições parece fundir-se com o mundo da
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