Resenha Filme "Surplus"

Para os economistas, um “surplus” se dá quando a oferta de certo produto é maior que sua demanda. O documentário que leva esse nome, dirigido por Erik Gandini, retrata a realidade que a sociedade ocidental contemporânea vem vivendo nas últimas décadas por conta da necessidade, sempre crescente, do consumismo – que, consequentemente, gera o surplus.

O filme mostra os efeitos da ganância de uma minoria sobre o resto do mundo, enfatizando a lavagem cerebral que as propagandas exercem sobre os indivíduos e o esgotamento de nossos recursos naturais, dando como exemplo uma jovem cubana que se encantou com a grande quantidade de opções de compra, alimentação e programas televisivos numa viagem à Europa e mostrando, também, imagens fortíssimas da destruição de nosso planeta por conta do consumismo, como a de um lixão enorme onde só se vê pneus velhos.

Apesar do caráter pessimista do documentário, o diretor também apresenta alternativas para esse sistema que visa somente o lucro, como a sociedade cubana, que preza pelo consumo mínimo e na qual só há propaganda governista, e a entrevista com o filósofo John Zerzan, que acredita que nossos problemas só acabarão quando abandonarmos esse sistema autodestrutivo e que viveu, durante muito tempo, somente com o dinheiro das doações de seu sangue.

A dualidade socialismo vs. capitalismo retratada ao longo do filme nos faz perceber que, para que o consumismo seja viável para uma minoria, muitos têm que trabalhar e viver sob péssimas condições. “Surplus”, feito em 2003, é um alerta para o mundo todo: se a produção continuar nesse nível, aonde iremos parar? Hoje em dia, dez anos depois do lançamento do documentário, podemos sentir na pele as consequências da exploração de nossos recursos naturais. Para que a “profecia” do diretor não se concretize por completo, devemos repensar nossa relação com tudo à nossa volta e redirecionar nossos esforços para vivermos numa sociedade mais igualitária.