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SOCIOLOGIA

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Por:   •  25/3/2015  •  6.073 Palavras (25 Páginas)  •  129 Visualizações

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AS ORIGENS DO ANTROPOS

GUERRIERO, Silas – Olho Dágua

UNIP

Disciplina: Homem e Sociedade

“Quem somos nós?” Esta pergunta nos acompanha desde os tempos mais remotos. A antropologia, segundo a etimologia, é a ciência que busca conhecer o antropos, o humano. Longe de procurar esgotar essa tarefa, o que seria impossível dada a complexidade da natureza humanamente capítulo procuraremos apontar algumas pistas que poderão levar o leitor à fascinante aventura do conhecimento sobre nós mesmos.

Vemo-nos qualitativamente diferenciados dos demais seres e constituídos de uma natureza especial. Durante muito tempo nos enxergamos como feitos à imagem e semelhança de Deus. Em muitos povos, as mitologias de criação falam de seres criadores e de heróis civilizadores antropomorfizados e assemelhados aos seus indivíduos. Entre nós, ocidentais, herdeiros de uma visão hebraica e cristã, o livro do Gênesis relata:

Deus disse: “Façamos o homem à nossa imagem, como nossa semelhança, e que eles dominem sobre os peixes do mar, as aves do céu, os animais domésticos, todas as feras e todos os répteis que rastejam sobre a terra”.

Quanta responsabilidade! Não só o Criador nos fez semelhantes a Ele como nos deu o poder de domínio sobre todos os outros seres vivos do planeta. Essa marca carregamos até hoje. Se, na teologia contemporânea, o livro do Gênesis é visto como uma coleção de mitos (metáforas que carecem de interpretação), ainda há muita gente que crê terem sido Adão e Eva, mesmo, os primeiros habitantes humanos deste planeta.

Somos frutos da evolução?

Em meados do século XIX, humanidade levou um choque. Um cientista inglês, geólogo e naturalista, ameaçou nosso lugar sobre o pedestal dos seres vivos. Charles Darwin colocou-nos na incômoda companhia de todos os outros animais. Afirmou que todos somos frutos de uma mesma evolução biológica, assemelhando-nos a nossos parentes mais próximos, os primatas. Tamanha ousadia foi imediatamente retrucada com ironia. Muitos riram chamando os macacos do zoológico de ancestrais de Darwin; outros simplesmente ignoraram-no ou até agrediram-no. Sabe-se hoje que Darwin guardou sua idéia original por 12 anos, temendo represálias. Quando publicou On teh Origin of Species, em 1859, já tinha consciência de que os humanos também eram frutos da evolução. Esperou mais de uma década para começar a sua teoria com The Descent of Man, estendendo a transformação evolutiva de uma espécie a outra de maneira a incluir os seres humanos.

Passado um tempo, tendo a ciência confirmado a Teoria da Evolução e encontrado provas inequívocas da sua veracidade, uma saída foi sorrateiramente construída: “Certo, somos animais que, como os demais, participamos do processo evolutivo, mas acreditamos ser essa evolução um progresso: caminha-se do mais simples ao mais evoluído, ao mais elaborado, situando-nos na ponta superior”. Assim,nossa prepotência se manteve intacta: continuamos acima dos demais animais. Essa visão acaba justificando nosso domínio sobre o planeta. Arrogando-nos a exclusividade da razão, colocamos todo o resto à nossa disposição Independente das maravilhas que a humanidade já fez, somos os maiores predadores que já existiram. Se ainda não destruímos a Terra com arsenais atômicos, em pouco tempo podemos acabar com a água limpa e doce, com o ar respirável, as florestas e milhares de espécies. Que superioridade é esta? Tal visão domina o senso comum e até mesmo a comunidade científica. Quando pensamos em “vida inteligente” em outro planeta, logo pensamos em ETs feitos à nossa semelhança. Podem ser esverdeados e ter três olhos desproporcionais na fronte, mas nossa imaginação sempre os pinta com um jeitão humano.

É recente, e ainda muita tímida, a recusa a essa visão. Há evolução, mas ela não representa necessariamente um progresso positivo. É difícil reconhecermos que as mutações aleatórias da evolução dos seres vivos não caminham, necessariamente, a partir de um plano pré-determinado. A evolução poderia muito bem ter acontecido sem a emergência daquilo que chamamos de seres inteligentes (nós mesmos). Pior: pode continuar acontecendo perfeitamente sem a nossa presença, após a extinção da espécie humana.

Em 1977, o filósofo Jacques Monod deu um duro golpe na visão tradicional:

Queremo-nos necessários, inevitáveis, ordenados para sempre. Todas as religiões, quase todas as filosofias, inclusive uma parte da ciência, testemunham o incansável e heróico esforço da humanidade em negar desesperadamente sua própria contingência. (Monod, 1989:54)

Para Monod, o surgimento da vida no planeta e da espécie humana em especial são frutos de um acaso que as chances de surgirem eram praticamente nulas: “O Universo não estava grávido da vida, nem a biosfera do homem. Nosso número saiu no `jogo de Monte Carlo`”.

Sigmund Freud observou, com ironia, que as grandes revoluções científicas auxiliam na derrubada da arrogância humana de seu pedestal anterior, afastando as convicções que temos de nossa posição central e dominadora. (Freud apud Gould, 1997). A primeira dessas revoluções foi a copernicana, que nos removeu do centro de um reduzido universo e nos remeteu à condição de habitantes de um pequeno planeta que gira em volta de uma estrela, que hoje sabemos ser apenas uma, de quinta grandeza e periférica, dentre bilhões de estrelas numa das mais de 200 bilhões de galáxias existentes. A segunda grande revolução, para Freud, foi a darwiniana, por nos colocar na descendência comum a todos os demais seres vivos. Situou, ainda, sua própria descoberta sobre o inconsciente como responsável por fazer reconhecer que temos um porão desconhecido do qual a razão não consegue dar conta. Para Stephen Jay Gould, um dos mais famosos evolucionistas e palentólogos da atualidade,

...nada melhor para abalar nossa vaidade e e nos libertar do que a mudança entre nos vermos como “apenas um pouco abaixo dos anjos”, criados como mestres da natureza, feitos à semelhança de Deus para moldar e dominar a natureza, para o conhecimento de que somos não apenas produtos naturais de um processo universal de descendência com modificação (e portanto parentes de todas as demais criaturas), como também um ramo pequeno e em última instância transitório, que desabrochou tardiamente na frondosa árvore da vida, e não o ápice predestinado da escada do progresso(.Gould, 1997).

Se é compreensível, porém não justificável, que desejemos ser os senhores

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