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Sociologia

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Por:   •  3/12/2014  •  2.486 Palavras (10 Páginas)  •  3.199 Visualizações

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INTRODUÇÃO

O objetivo aqui é apresentar alguns conceitos básicos da Sociologia, partindo, para isso, de situações sociais cotidianas. Uma eleição, uma escola e uma greve são tomadas como exemplos de situações nas quais as ações de indivíduos e de grupos de indivíduos só podem ser compreendidas nas suas inter-relações recíprocas. Ou seja, essas ações, presentes no cotidiano da vida em sociedade, não dizem respeito apenas à ação individual, mas também à ação social e, por isso, são o objeto de estudo da Sociologia. Assim, as principais teorias sociológicas clássicas estarão interessadas principalmente no problema da relação entre indivíduo e sociedade. Os conceitos de Émile Durkheim (fato social), Max Weber (ação social) e Karl Marx (classe social) são apresentados como tentativas de explicação dessa relação. Em seguida, a discussão se dirige para a relação entre a vida do indivíduo, sua biografia, e a sociedade mais ampla na qual está inserido, mostrando-se que as biografias individuais só podem ser compreendidas quando situadas no contexto histórico mais amplo.

IDEOLOGIA: UM CONCEITO POLÊMICO

O conceito de ideologia foi criado por Destutt de Tracy, filósofo francês, no final do século XVIII. Tracy tinha como pressuposto que as ideias não poderiam ser compreendidas como se possuíssem vida própria. Segundo ele, a ideologia deveria ser compreendida como "ciência das ideias", assemelhando-se às ciências naturais. Na elaboração desse conceito, partia-se da crença na razão (própria do espírito iluminista do século XVIII) e no poder da ciência em submeter as ideias ao mesmo processo de análise e compreensão dos objetos naturais. Esta é a razão da concepção da ideologia como ciência - como ciência das ideias.

Raymond Williams afirma que o conceito de ideologia pode ser definido, basicamente, de acordo com três concepções básicas:

1. Como sistema de crenças de uma classe ou grupo social. Nessa concepção estariam incluídos os valores, idéias e projetos de um grupo ou classe social específico.

2. Como sistema de crenças ilusórias - o que se costuma chamar de "falsa consciência". Essas crenças ilusórias, baseadas em critérios impossíveis, de ser comprovados, contrastariam com o conhecimento verdadeiro ou científico.

3. Como o processo geral de produção de significados e ideias.

Conforme Williams, as duas primeiras conotações serão as mais encontradas no pensamento marxista, vertente que se destacou no estudo da ideologia.

No livro A ideologia alemã, Marx e Engels apresentarão os três elementos básicos que caracterizarão sua compreensão da sociedade capitalista e sua definição de ideologia (definição como veremos, fortemente apoiada nas duas concepções destacadas por Williams). Esquematicamente, esses três elementos são:

• Separação - resultante da afirmação da divisão da vida humana em duas instâncias específicas: a infraestrutura, que é a esfera da produção material, e a superestrutura, esfera da produção das ideias. De maneira muito simplificada, podemos dizer que a infraestrutura se compõe da economia (a produção dos bens necessários à sobrevivência dos homens) e a superestrutura se constitui da moral, do direito, da política e das artes.

• Determinação - relação decorrente da separação entre infraestrutura e superestrutura. Partindo dessa separação, observa-se o domínio estabelecido pela infraestrutura sobre a superestrutura. Serão as relações de produção que irão determinar (definir) a organização social - as formas de comportamento e de convívio entre os homens. Conforme o princípio da determinação apontado por Marx e Engels, as ideias têm sua origem na vida material - e são por ela determinadas. Mas o que é essa vida material? São as relações de produção que os homens estabelecem entre si, as quais dependem, por sua vez, das relações desses homens com os meios de produção - terra, máquinas, matérias-primas, fábricas, força de trabalho. Será, portanto, a esfera econômica (a organização da produção material, com a sua diferenciação entre possuidores e não possuidores dos meios de produção) que irá organizar as ideias sobre essa sociedade.

• Inversão - elemento constitutivo fundamental do conceito de ideologia, considerada distorção da realidade. Numa metáfora famosa do livro A ideologia alemã, a ideologia faz com que a vida apareça para os homens como no interior de uma câmera fotográfica: de cabeça para baixo. Isto é, ela aparece para os homens de maneira inversa àquilo que é na realidade. Nesse contexto, o conhecimento científico, ou saber real, será o elemento capaz de desmascarar a ideologia, recolocando o mundo de cabeça para cima, mostrando a realidade tal como ela é. Segundo Marx e Engels, destruindo a inversão que a ideologia produz, o conhecimento científico vai revelar os mecanismos de separação e determinação.

Para compreender a sociedade capitalista a partir dessas três relações (separação, determinação e inversão) estabelecidas por Marx e Engels, não podemos tomá-las como formas imutáveis e inquestionáveis. No que diz respeito à definição de ideologia, por exemplo, é fundamental que se note que, ao longo do tempo, os próprios autores acabaram relativizando a conotação mistificadora que inicialmente deram ao conceito (essa relativização aparece no prefácio de Para a crítica da economia política, escrito por Marx, em 1859). Além disso, eles também relativizaram a questão da determinação estrita da esfera econômica (infraestrutura) sobre a superestrutura (em cartas que escreveu a outros pensadores, Engels reconheceu um certo grau de independência - ou autonomia relativa - da superestrutura diante da infraestrutura). É preciso que se diga finalmente que, ao longo do tempo, os elementos destacados por Marx e Engels serão questionados, reinterpretados ou aprimorados por outros pensadores (inclusive e principalmente os de linha marxista), o que comprova não serem esses elementos formas congeladas e irretocáveis de compreensão da realidade.

De qualquer modo, retomando o tema da ideologia na obra desses autores, é interessante observar que ele veicula uma relação fundamental, que é a oposição entre os conceitos de falso e de verdadeiro. Em A ideologia alemã, parece haver espaço para dois tipos de ideias: as falsas ou distorcidas (em resumo, a própria ideologia) e as verdadeiras. Essas ideias verdadeiras seriam construídas pela ciência e funcionariam como as armas necessárias para combater a classe dominante. Para Marx,

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