Resenha do Filme "Obrigado por Fumar"
Por: Rodolpho Cezar • 22/6/2017 • Resenha • 1.717 Palavras (7 Páginas) • 1.127 Visualizações
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Universidade Federal do Rio de Janeiro
CFCH – Centro de Filosofia e Ciências Humanas
Escola de Comunicação da UFRJ
Prof. Rodrigo Almeida Cruz
Aluno: Rodolpho Carvalho Cezar
DRE: 113149880
Disciplina: Legislação e Ética em Comunicação - PP
Análise sobre o filme “Obrigado por Fumar”
(Thank You for Smoking, 2005)
Rio de Janeiro, RJ
2016.1
- Crie uma relação entre a forma de agir do personagem Nick Naylor e as campanhas publicitárias para produtos que apresentem qualquer situação prejudicial ao consumidor.
Uma vez J. Lacan, pai do método psicanalítico que leva seu nome, citou a seguinte frase: “Você pode saber o que disse, mas nunca o que o outro escutou”. Ou seja, numa tranmissão de informação unidirecional entre dois pontos A e B, a mensagem transmitida por A pode ser recebida de forma diferente por B, e não durante o processo de transmissão, mas no momento que atinge seu alvo. Da mesma forma num exemplo mais simples, em um diálogo entre duas pessoas, a importância da mensagem não se encontra nela mesma. E não, também não se encontra na reação que pode causar no receptor. Não para Nick Naylor pelo menos.
É muito fácil e previsível dizer que o personagem de Nick Naylor, muito bem interpretado por Aaron Eckhart, é a personificação da publicidade. É um lobista de sucesso, cujo trabalho consiste apenas em convencer as pessoas de consumir seu produto – fato que não poderia ser melhor explicado do que na cena entre ele e o filho discutindo sobre sorvete. No que o pequeno fala que não se sentiu convencido pelos argumentos do pai, ele responde calmamente: “Não era você quem eu queria convencer. Eram eles.” E aponta para as pessoas ao redor. Aliás, todas as melhores discussões do filme são sem duvida entre os dois personagens, que colocam em cheque toda a mecânica do que Nick está fazendo ali.
Agora, durante todo o filme, algo passa despercebido à princípio, mas ao ser revelado se explica a real natureza do personagem principal: Nick Naylor, em momento nenhum, responde se pessoalmente considera o cigarro ruim ou bom. Porque isso não importa.
Veja, como o mesmo diz ao início, o seu produto é uma das maiores causas de morte nos Estados Unidos, mesmo que não exista na realidade do filme nenhuma pesquisa que ateste a relação entre o tabaco e casos de câncer. Uma criança com câncer de pulmão e ex-tabagista aparece ao lado do personagem, e o expectador ainda se sente impulsionado a torcer por ele. Porque ele não se pergunta o óbvio, aquela criança está na situação que está porque fumou. Ele só se pergunta “como eu vou colocar a situação ao meu favor”. Ou melhor: “Como eu vou vender o meu produto”.
Porque o produto de Nick não é o cigarro. E apesar de ser uma conclusão óbvia, também não são as palavras. Sócrates em seu famoso ensaio sobre a retórica expressa sua indignação ao pensamento coletivo da sociedade culta grega sobre a retórica, que seria a arte de se expressar bem. Quando para o filósofo, consistia apenas na persuasão de vários assuntos não-aprofundados para se convencer o publico de que o sofista estaria num grau de entendimento e poder sobre o tema abordado. Claro, o personagem Nick sabe muito sobre cigarro, porque é obrigado a tal pelo seu trabalho. Mas levando em consideração a lógica de Sócrates, seu produto é o convencimento.
Como Nick explica a seu filho, e em várias partes do filme, no segundo que o consumidor se sente na liberdade de escolher o que consome, está a brecha para o personagem implantar o cigarro como uma possibilidade. E da mesma forma como os colegas do lobista, cerveja e armas são oferecidas não pelos benefícios e malefícios que trazem, mas pela possibilidade inferida. Liberdade de escolha aqui é a palavra-chave, e o conceito é exaustivamente repetido durante o filme.
Sendo assim, Nick não é a publicidade em si. Ele é apenas um lobista que precisa pagar sua hipoteca, como ele mesmo coloca, e o faz porque é extremamente bom no que faz. A publicidade na verdade está em cada consumidor que recebe a mensagem proferida por Nick de forma que ele mesmo se convença a comprar e consumir o produto. Então quem o vende não é Nick – ele vende apenas a idéia. O próprio cliente é quem se vende o cigarro, quando pensa no produto como relaxante, como recompensa por alguma tarefa ou problema, ou pelo status que o ato de fumar traz, pela acessibilidade, ou até mesmo pelo vício.
Entende como a publicidade funciona para um produto nocivo? Ela o desfigura, e renomeia o consumidor como produto. Porque como Lacan disse, não importa o que a publicidade, Nick, eu e você possamos dizer sobre o cigarro. Quem vai “dizer” de fato o que vale a pena é o receptor. E Nick Naylor sabe que o tem que fazer é só plantar a idéia – e esperar que a árvore germine e dê frutos da forma como esperava.
- Classifique como ética, ou não-ética, a atitude do personagem Nick Naylor, no filme.
Nick Naylor é o clássico sofista. Ele utiliza da retórica para conseguir o que quer, e consegue. Mas se queremos definir, se sua atitude é ou não ética, devemos primeiramente lembrar de conceitos básicos sobre a arte de se expressar.
Existem três bases que suportam a retórica de acordo com o s teóricos mais antigos: logos, pathos e ethos. Logos, que significa o Verbo, significaria a razão, o conhecimento prévio em exercício básico, a lógica. Pathos é a paixão e emoção, ou melhor dizendo, o sentimento implantado ao discurso de forma que o transforme em direção ao receptor da forma desejada. E por fim, ethos seria a ética. Ou seja, a credibilidade do sofista posta em cheque diante do receptor. Sendo mais claro, como ele usa de sua capacidade pessoal para atestar os argumentos que tem a oferecer, e fazer com que acreditem.
Ora, se pensarmos dessa forma, não seria Nick o sofista mais ético no ponto de vista do filme? Mas se pegamos o conceito básico de ética, como exercício da moral, como relação dos princípios de um ser em relação à sociedade que vive, não há como obter uma decisão unânime. Porque se questionar o personagem e a ética em suas atitudes, é questionar seu posicionamento em frente aos argumentos levantados pelo filme, seria então questiona-la em relação à realidade da peça audiovisual e a que vivemos agora. E em ambas as possibilidades a resposta seria provavelmente: Sim, são carregadas de ética.
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