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Faça a Coisa Certa - Entre amor e ódio

Por:   •  3/10/2023  •  Resenha  •  840 Palavras (4 Páginas)  •  72 Visualizações

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Faça a Coisa Certa - Entre amor e ódio

Lucas Cavallini, João Baricatti e Alexandre Puga - 3JOB

“1989, o número, outro verão.” As ruas quentes de Bed-Stuy são como uma panela de pressão prestes a explodir.

Spike Lee, diretor e roteirista, utilizou da sua vivência brooklyniana para construir uma das obras mais importantes do cinema independente, o célebre e tenso “Faça a Coisa Certa” , segundo filme da sua carreira.

Fazendo um recorte da época na vida real, lá para o final dos anos 80, o bairro de Bed-Stuy era esquecido pela polícia, políticas públicas e pela sociedade em geral e beirava a insalubridade. Com uma predominância de moradores latinos, negros e coreanos, a vizinhança permaneceu marginalizada até a Geração X do Upper East Side decidir sair da casa dos pais.

Com um novo fluxo de “hipsters”, pessoas brancas ricas que rejeitavam a idealização de morar em Manhattan, o bairro começou a ser desmontado por políticas públicas que envisionavam não a melhora, mas a expulsão dos antigos moradores, como a alta nos aluguéis, maior policiamento e encarceramento desenfreado.

No campo da arte, vários criativos da área começaram a desenvolver correntes artísticas para preservar a visão e a história de quem sempre morou em Bed-Stuy, além de denunciar o que estava rolando na vizinhança, pauta pouco noticiada para a população geral. Dentre alguns movimentos notáveis, na música temos o coletivo Native Tongues formado pelos grupos De-La Soul, Jungle Brothers e A Tribe Called Quest, que centravam sua estética em referências afrocêntricas e uma ótica mais “copo meio cheio” da vida.

Já no cinema, quem carregava a tocha era o Spike Lee. Mesmo que a música tenha inspirado bastante do seu trabalho em “Faça a Coisa Certa”, o diretor preferiu seguir por uma linha mais combativa.

Dentro do filme não temos um protagonista explícito, mas contamos com a antropomorfização do bairro de Bed-Stuy, guiada por Mookie, interpretado por Spike Lee. A câmera não é travada nele, mas segue o diretor através do seu dia como personagem, afim de mostrar diversas narrativas diferentes. É como se o pontapé inicial dependesse de Mookie e depois as histórias se carregassem sozinhas.

Como anunciado por Samuel L. Jackson no começo do filme, aquele é o dia mais quente do ano. Isso não é apenas uma previsão do tempo, mas sim um elemento narrativo central para entender a “panela de pressão” que vai esquentando durante as duas horas de longa metragem até a sua explosão no final.
        A pressão aumenta ao longo do dia, com vários embates étnicos entre o elenco. Os focos narrativos são Sal, italo-estadunidense que tem uma pizzaria no fim da rua, Mookie, Vito, os coreanos e Buggin’ Out, que decide agitar um boicote à pizzaria por “não ter retrato de nenhum Irmão na parede”.

        É uma dessas andanças de Mookie que conhecemos outro foco narrativo e ponto filosófico central do filme, Radio Raheem com seu rádio que não para de tocar “Fight The Power” e “anel de quatro dedos” de amor e ódio. O filme trabalha na contraposição desses dois poderes, como se para cada escolha da nossa vida, devêssemos escolher entre seguir um desses dois caminhos, o apaziguador ou o revoltado.

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        O filme faz uma ponte entre esses dois conceitos filosóficos e Malcolm X e Martin Luther King como uma forma de debater não apenas o uso da violência, mas como ela pode ser legítima em casos de opressão.

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