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A Etnopedologia

Por:   •  1/12/2023  •  Resenha  •  3.689 Palavras (15 Páginas)  •  61 Visualizações

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ETNOPEDOLOGIA

Autor: POSEY

RESUMO

Em seu artigo, Posey conceitua etnobiologia como o estudo dos conceitos desenvolvidos por qualquer sociedade sobre biologia ao longo da história. Ou seja, “é o estudo do papel da natureza no sistema de crenças e de adaptação do homem a determinados ambientes” (POSEY, 1986, p. 1). Em seu artigo, é chamada a atenção para o fato de que os conhecimentos tradicionais, no caso do texto com enfoque nos conhecimentos indígenas, não se enquadram nas subdivisões categóricas e precisas definidas pelas biologia, que tentam organizar artificialmente esses conhecimentos. Ao invés dessas categorias artificiais, esses conhecimentos são uma junção perfeita entre “plantas, animais, caçadas, horticultura, espíritos, mitos, cerimônias, ritos, reuniões, energias, cantos e danças” (p. 1), ordenados segundo seqüência mitológica. Essa percepção e inter-relação entre os mundos natural simbólico e social exigem uma abordagem interdisciplinar nos estudos.

Seu caráter metodológico prevê “por investigar os conceitos e relacionamentos estabelecidos pelos grupos indígenas dentro e entre as categorias cognitivas” e os padrões de classificação e nomenclatura (tipologias e taxonomias) possuem um significado cultural. O autor também explica que as categorias que são ordenadas em níveis mais altos, ou seja, superordenadas possuem indícios claros de uma organização simbólica (POSEY, 1986). Mesmo que nem todas as crenças e conhecimentos dos indígenas coincidam com a ciência ocidental, o autor sugere que registremos o máximo possível dos dados, e em sua totalidade. Isto por que, de acordo com o autor, “alguns conceitos podem gerar novas hipóteses a serem testadas” e conseqüentemente as que não são passíveis de serem testadas devem ser guardadas, e “algumas crenças [...] por mais ilógicas e absurdas que possam parecer, podem vir a demonstrar seu papel de mecanismos sociais para regular o consumo de alimentos ou para manutenção do equilíbrio ecológico” (p. 1).

No primeiro capítulo, etnotaxonomia e metodologia, o autor nos apresenta Conklin (1954), que foi o primeiro a relacionar as crenças indígenas com a classificação do mundo natural. Berlin e Berlin et al. (1966, 1973), por sua vez, estabeleceram os princípios básicos dos sistemas taxonômicos de folk[1]. Para Posey, as diferenças entre as taxonomias científicas ocidentais e as populares é que as populares possuem muitos gêneros de folk, mas poucos níveis mais altos de classificação, como o sistema hierárquico proposto por Lineu. Além disso, os níveis intermediários (que não são nem superordenados nem subordinados) ficam implícitos. O autor ainda diz que “a utilidade de uma espécie pode coincidir com a classificação fundamentada no comportamento, fundidas ambas pela espécie em questão” (p. 2). Um dos exemplos utilizado no capítulo é o dos Kayapó, que classificam os insetos junto a outros animais com carapaça, mas sem carne. O autor conta que os Kayapós classificam 14 grupos de insetos, de acordo com a sua morfologia. Os Kayapó consideram todos os insetos como “níveis básicos de objetos”, e das 14, apenas 3 possuem por eles uma classificação mais detalhada e significativa. Os 3 grupos são as abelhas, as formigas e as vespas. E embora possa-se relacionar esta maior diferenciação pelo fato de que estes insetos sociais são fontes de alimentos e outros recursos, como o mel das abelhas por exemplo, o seu simbolismo maior para esta comunidade vem da crença de que a organização social de seu povo foi moldada a partir do estudo dos insetos sociais por um antigo xamã. Dessa forma, todos estes insetos, vespas, abelhas e formigas, são ordenados em uma única categoria superordenada e estabelecida para os insetos.

Assim sendo, o autor propõe um modelo metodológico hipotético a partir de 3 pontos: o primeiro deles é que a diferenciação de uma categoria subordinada é um indício do seu significado cultural e simbólico; a segunda questão diz que a diferenciação entre uma categoria superordenada é um indício de sua importância simbólica e que elas podem fazer parte da mitologia e dos rituais; e a terceira diz que qualquer um destes indicadores pode servir como um guia para desvendar sistemas culturais.

No segundo capítulo, zonas ecológicas e unidades de recursos, diz que o maior obstáculo encontrado pelos cientistas ocidentais na compreensão dos ecossistemas tropicais é que eles generalizam a ecologia das regiões, considerando como um todo as diferentes e variadas zonas ecológicas (Moran 1981). Já na visão dos indígenas, especialmente os Kayapós citados nesse artigo, veem seu o meio ambiente como uma sucessão expandida de ecozonas. Essas ecozonas são categorias cognitivas que podem ou não coincidir com as tipologias científicas.

 Os Kayapós escolhem suas aldeias próximas a essas ecozonas, no meio da diversidade máxima de espécies, e cada uma delas possui produtos naturais diversos e distintos uma da outra de acordo com as estações do ano (Bamberger 1967; Posey 1983a). Cada ecozona está associada a plantas e animais específicos. Eles têm conhecimento acurado sobre o comportamento animal.  No caso das plantas, algumas se associam a determinados tipos de solo. Assim, cada zona ecológica vem a ser um sistema que integra solo, plantas,  animais e os kayapós, distinguindo essas zonas pela sua concentração de recursos específicos que lhes conferem características. Essas concentrações reduzem a nível perceptível de heterogeneidade a “ilhas de recursos” perfeitamente reconhecíveis que podem ser periodicamente exploradas.

Os índios e caboclos também classificam seu ambiente ecológico por níveis verticais, divididos em  nível terrestre: T1) Cobertura do dossel da floresta, onde abriga pássaros, e mamíferos arbóreos difíceis de serem apresados. As florestas dessas zonas são exploradas por causa de produtos úteis como a castanha do Pará e pedra de amolar; T2) Cobertura média: 7 a 15m acima do solo. Abriga mamíferos arbóreos e grandes aves, como araras, papagaios, etc; T3: Nível intermediário: predomina a capoeira ou a "floresta aberta", onde se concentram árvores de menor porte e arbustos que atraem pássaros e mamíferos, tornando mais lucrativa a caça. T4:Nível do solo: concentra a matéria orgânica e comunidades vegetal/animal associadas à zona de raízes superficiais. T5: Situada abaixo do nível da superfície do solo e aloja a maioria das tocas de animais e as grandes raízes e tuberosas.

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