A Sensação
Trabalho Universitário: A Sensação. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: rosanereis • 28/7/2014 • 1.585 Palavras (7 Páginas) • 239 Visualizações
Capítulo I
Da sensação
No que se refere aos pensamentos do homem, cada um deles é uma representação, um objeto, que produz aparências diversas.
A origem de todas elas é a SENSAÇÃO (pois não há concepção no espírito do homem que primeiro não tenha sido originada, nos órgãos dos sentidos). A causa da sensação é o corpo exterior, ou objeto, que pressiona o órgão próprio de cada sentido, como no gosto e no tato, como na visão, no ouvido e no olfato. E é a esta aparência que os homens chamam sensação; e consiste, no que se refere à visão, ouvido, língua e paladar, em frio, calor, dureza, macieza, e outras qualidades, tantas quantas discernimos pelo sentir. A sensação nada mais é do que a ilusão originária causada pela pressão.
Capítulo II
Da imaginação
Nenhum homem duvida da verdade da seguinte afirmação: quando uma coisa está em repouso, permanecerá sempre em repouso, a não ser que algo a coloque em movimento. Mas esta outra afirmação não é tão facilmente aceita: nada pode mudar por si só. Porque os homens julgam, não apenas os outros homens, mas todas as outras coisas, e, porque depois do movimento se acham
sujeitos à dor e ao cansaço, pensam que todo o resto se cansa do movimento e procura espontaneamente o repouso. Assim, acontece também no movimento produzido nas partes internas do homem, quando ele vê, sonha etc., pois após a desaparição do objeto, conservamos ainda a imagem da coisa vista, embora mais obscura. E é a isto que os latinos chamam imaginação, por causa da imagem criada pela visão. Mas os gregos chamam-lhe ilusão, que significa aparência.
A IMAGINAÇÃO é uma sensação em declínio, quer estejam adormecidos, quer estejam despertos. Esta sensação em declínio denomina imaginação, mas, quando queremos exprimir o declínio e significar que a sensação é antiga e passada, denomina-se memória. Muita memória chama-se experiência. As imaginações daqueles que se encontram adormecidos denominam-se sonhos. Não pode haver no sono nenhuma imaginação, a inquietação das partes internas, pela conexão que têm com o cérebro e outros órgãos mantém-nos em movimento, e por isso as imaginações aparecem como se o homem estivesse acordado, um sonho tem de ser mais claro, do que os nossos pensamentos quando despertos.
Disto se segue que é difícil estabelecer uma distinção entre sensação e sonho. Quando considero que nos sonhos não penso nas mesmas pessoas, lugares, objetos, ações que ocupam o meu pensamento quando estou acordado, e
que sonhando não recordo uma tão longa cadeia de pensamentos coerentes, acordado observo muitas vezes o absurdo dos sonhos, mas nunca sonho com os absurdos dos meus pensamentos despertos.
Em suma, os nossos sonhos são o reverso das nossas imaginações despertas. Observa-se a maior dificuldade em discernir o sonho dos pensamentos despertos, o que é fácil de acontecer a um homem cuja consciência se encontra muito perturbada, e dorme sem mesmo ir para a cama. Pois aquele que se esforça por dormir, no caso de lhe sobrevir alguma imagem insólita, só a pode pensar como um sonho.
Lemos acerca de Marco Bruto (filho de Júlio César, que apesar disso o matou), na noite antes da batalha contra César Augusto, viu uma tremenda aparição, que é narrada pelos historiadores como uma visão, mas, consideradas as circunstâncias, podemos facilmente ajuizar que nada mais foi do que um breve sonho. Pois estando sentado na sua tenda, pensativo e perturbado, ao dormitar no frio, sonhar com aquilo que mais o atemorizava, e esse temor o fez acordar, e gradualmente deve ter feito a aparição sumir. E, não estando seguro de ter dormido, não podia ter nenhuma razão para julgá-Ia um sonho, ou algo senão uma visão. Pois mesmo aqueles que estão acordados, se forem e supersticiosos, se estiverem obcecados por contos de horror, estão sujeitos a tais
ilusões e julgam ver espíritos e fantasmas de pessoas mortas, quando é apenas a imaginação deles.
Desta ignorância nasceram, no passado, a maior parte da religião dos gentios, ninfas, e outros seres semelhantes, e nos nossos dias fadas, fantasmas, e gnomos. Não há dúvida de que Deus pode provocar aparições não naturais. Porém, não é questão central da fé cristã que ele as provoque com tanta freqüência. Cabe ao homem sensato só acreditar naquilo que a reta razão lhe apontar como crível. Se desaparecesse este temor supersticioso dos espíritos, os homens estariam muito mais preparados para a obediência civil.
A imaginação que é suscitada no homem é o que geralmente chamamos entendimento.
Capítulo III
Do pensamento (da conseqüência ou cadeia de imaginações)
Da Seqüência ou CADEIA de Imaginações o homem pode muitas vezes perceber o curso deste e a dependência de um pensamento em relação a outro. Assim, num discurso da guerra civil, o pensamento da guerra introduziu o pensamento da entrega do rei aos seus inimigos; este pensamento trouxe o pensamento da entrega de Cristo; e este, por sua vez, o pensamento das trinta moedas, que foram o preço da traição. E tudo isto num breve momento, pois o pensamento é célere.
A segunda é mais constante por ser regulada por algum desejo ou desígnio. Pois a impressão feita
por aquelas coisas que desejamos ou tememos é forte e permanente, ou (quando cessa por alguns momentos) de rápido retorno. É por vezes tão forte que impede e interrompe o nosso sono. Que levou a dar aos homens o seguinte preceito, Respice finem, o que significa que em todas as nossas ações devemos olhar muitas vezes para aquilo que queremos ter, pois deste modo concentramos todos os nossos pensamentos na forma de atingi-lo.
Por seqüência, ou CADEIA de pensamentos, entendo aquela sucessão de um pensamento discurso
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