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A TECNOLOGIA NÃO SUBSTITUI O PENSAR PROVOCAÇÕES ACERCA DA VALIDADE DA FILOSOFIA EM SOCIEDADES HIPERTECNOLÓGICAS

Por:   •  30/8/2022  •  Trabalho acadêmico  •  8.960 Palavras (36 Páginas)  •  192 Visualizações

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A TECNOLOGIA NÃO SUBSTITUI O PENSAR

PROVOCAÇÕES ACERCA DA VALIDADE DA FILOSOFIA EM SOCIEDADES HIPERTECNOLÓGICAS.

Gerson Francisco de Arruda Júnior[1]

Bruno Simões Costa Guimarães[2]

RESUMO[a]

O presente esforço visa analisar se há incompatibilidade entre o filosofar e a onipresença de artefatos tecnológicos de informação confrontando-os e colocando foco sobre o humano e sua ação, discutindo os limites do pensar dentro deste contexto de dispositivos tecnológicos, redes de computadores, automação e mundo virtual. Esperamos discutir, junto a teóricos da filosofia, tecnologia e política se todos estes fatores tecnoepistêmicos influenciam no pensar humano, sobretudo no que diz respeito à atividade filosófica. Buscaremos trazer um breve contexto sobre a tecnologia e a inegável contribuição que ela traz para a ciência e demais aspectos da vida do homem, o quanto ela trouxe de economia de tempo e recursos, incluindo os naturais. Tentaremos uma reflexão sobre o uso cotidiano e a desvirtuação por parte de alguns que planejam os algoritmos e, por fim, ensaiaremos algumas conclusões sobre este uso diuturno e o impacto no pensar  do homem contemporâneo.

PALAVRAS-CHAVE[b]: Filosofia, ação tecnologia, educação, epistemologia.

                                 

INTRODUÇÃO

        Será que a tecnologia induz o que pensar ou como pensar? É inegável que ela é um ativo na busca e aquisição de conhecimento, aprende-se música, aviação, engenharia, medicina.... Mas e o pensar? Ele se aprende?

          O homem desde os seus primórdios fez uso da técnica para facilitar a sua vida cotidiana, inicialmente e baseado na sua necessidade ele criou os primeiros artefatos que tornariam sua vida mais fácil, olhando como foco a sua prática diária.[c]

        A tecnologia é uma questão filosófica desde os mais clássicos pensadores uma vez que a técnica, a manualidade, e a tecnologia, a extensão instrumental da técnica, são realizações existenciais e, por isso, preocupação central da espécie. Portanto, para iniciar estas reflexões é preciso compreender que Filosofia da Tecnologia é um campo de estudo da Filosofia, e como tal está passível de todos os questionamentos e reflexões. Ela é oriunda da Techne grega que seria a arte ou o conhecimento artesanal, a modificação da matéria, da natureza e das coisas da Physis para o interesse do homem.

        Importante pontuar que o desenvolvimento da Techne derivou incialmente da observação e mimetização da natureza que foi discutido por Heráclito e Demócrito, posteriormente Aristóteles absorveu este conceito e amplificou, assim o humano passou não só a imitar, mas a complementar as coisas da natureza de acordo com o interesse da sociedade.

        Importante salientar que para Aristóteles Physis e Techne possuem naturezas ontológicas diferentes, a primeira possui um princípio interno de geração e movimento, uma teleologia, já a segunda é manipulada por um telos externo. As coisas naturais são manufaturadas por um artesão divino, já as coisas da Techne o homem que tenta imitar esse ser divino.

        Compondo estes preâmbulos, se faz necessário dialogar um pouco com o método científico e o Iluminismo, vale ressaltar que a palavra método vem do grego méthodos que quer dizer estudo metódico de um tema', de metá 'atrás’, em seguida, ‘através' e hodós 'caminho' e que Aristóteles foi imprescindível para a formulação  do método científico grego, estudando os aspectos empíricos da biologia e suas observações sobre Lógica.

        Os medievalistas tentaram de certa forma, devido à subordinação da igreja católica, cristianizar a filosofia, colocar a teologia como centro das discussões filosóficas e compatibilizando aos dogmas católicos.

        O Iluminismo veio com força trazendo o método científico e impulsionou os avanços tecnológicos em todas as áreas, o que retira em definitivo a filosofia como mãe de todos os saberes e coloca o tecnicismo no centro das discussões e da produção de conhecimentos. Mas será que ainda existe lugar no mundo para Filosofia? Diante de tantos avanços, a ciência se mostra quase como uma divindade oniciente, onipresente e onipotente, e qual lugar que cabe a Filosofia neste contexto tão cheio de técnicas e procedimentos rigorosos?

        Obviamente que os atributos de divindade trata-se de uma ironia para se desenhar a hipervalorização do tecnicismo sobre recursos técnicos e tecnológicos no fazer da ciência atual, e não que a utilização deles esteja errado, mas o lugar deles é o centro?

        Pretende-se com este pequeno trabalho iniciar uma discussão sobre tecnologia e Filosofia, e buscar algumas respostas sobre o lugar de ambas é disruptivo, numa intersecção ou completamente miscíveis.

DA DIFICULDADE DE DEFINIR FILOSOFIA

        A partir do momento que a Filosofia deixou de ser a mãe de todos os saberes, e principalmente após o iluminismo e da Revolução Industrial, o lugar da mesma ficou indefinido no senso comum de uma sociedade tão tecnicista.

              As oficinas deram lugar às fábricas, os artefatos evoluíram de forma rápida, e de repente nos vimos usando dispositivos eletrônicos no pulso, no bolso, no interior do carro, no controle remoto da TV. Todos ligados em rede e trocando milhões de informações entre eles e bancos de dados.[d]

            Com o passar dos tempos e, graças à linguagem, o mesmo foi acumulando conhecimento e aprimorando as suas técnicas, o que trouxe a produção de artefatos à outro patamar. Inclusive em algum momento da história moderna há uma transição do artesão, aquele que domina toda a técnica e produz totó o artefato, para o operário, aquele que produz parte da técnica e, consequentemente, parte do artefato.[e]

        Se fabrica computadores super velozes, as pesquisas para as mais diversas moléstias avançam, celulares são concentradores de funções de diversos aparelhos que neste momento cabem na palma da mão, os carros já possuem autonomia para desviar de pedestres, parar no sinal e estacionar. As ciências se desprenderam de sua matriz e tiveram uma evolução fantástica, tomando um rumo que o Homem à 200 anos atrás jamais imaginaria, a não ser que fosse um Júlio Vernie.

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