Constituindo Um Campo"
Artigo: Constituindo Um Campo". Pesquise 861.000+ trabalhos acadêmicosPor: william200 • 20/3/2015 • 2.044 Palavras (9 Páginas) • 218 Visualizações
“Constituindo um campo”: estudos de comunidade
e o desenvolvimento das ciências sociais no
Brasil (1940-1960)
ISABELA OLIVEIRA E JANAÍNA DAMASCENO
O nome desta apresentação é também o título
do evento realizado na Faculdade de Filosoa,
Letras e Ciências Humanas da USP, no dia 18
de setembro de 2009. A iniciativa de debater a
tradição dos chamados estudos de comunidade
e sua relevância para a antropologia e as ciências
sociais encontra respaldo também na feliz coincidência
de datas, já que no ano de 2010, comemoram-se
os 60 anos da realização dos maiores
projetos de estudos de comunidade realizados
no Brasil, respectivamente, o “Projeto Columbia
University – Estado da Bahia”, coordenado
por Charles Wagley1
e o “Projeto do Vale do São
Francisco”, coordenado por Donald Pierson2
.
Acusados, por vezes, de fazerem parte de um
esquema de “engenharia social”, ou seja, de uma
pretensa antropologia e sociologia aplicadas, os
estudos de comunidade marcam um momento
profícuo da história de institucionalização das
ciências sociais no Brasil e, colocam em cena
duas das principais escolas de sociologia daquele
momento nos EUA. A saber, a tradição da
Escola de Chicago, via Donald Pierson da Escola
Livre de Sociologia e Política e a tradição
de estudos da Universidade de Columbia que
se faz presente na formação de Charles Wagley3
.
Visando dar conta destas perspectivas, na ocasião
do evento, o debate foi estruturado em torno
de duas mesas realizadas no período da manhã e
da tarde. A primeira, composta por comentadores,
foi chamada de “A comunidade em questão:
comentários a uma experiência etnográca” e teve
a participação do antropólogo Júlio Assis Simões
(USP); do sociólogo Luiz Carlos Jackson (USP) e
do cientista político Marcos Chor Maio (Fiocruz).
Parte do título desta mesa “comentários a uma
experiência etnográca” é, na verdade, mais uma
provocação que uma tentativa de denominar essas
pesquisas. A provocação ca por conta da ideia
de que não se trataria de “uma” experiência etnográca,
mas de várias, múltiplas. Dar conta dessa
multiplicidade não foi tarefa aqui vislumbrada,
mas cabe o registro de que estamos tratando de
uma denição que abarca diferentes trabalhos realizados,
sobretudo, entre as décadas de 1940 e
1960 no interior das ciências sociais em processo
de institucionalização. Mais especicamente, das
áreas de antropologia e de sociologia.
Neste sentido, vários atributos que podem
ser apontados como denidores dos estudos de
comunidade – a tentativa de apreensão unitária
de realidade social, a comunidade vista como
uma unidade com limites claramente visíveis;
a forte vinculação ao empírico, a proposição de
utilizar as técnicas de investigação desenvolvidas
na Antropologia Clássica no estudo de “sociedades
primitivas” para o estudo das “sociedades
complexas” e a investigação de pequenas localidades
rurais em suas ligações com complexas estruturas
nacionais – devem ser ainda matizados.
Apenas para citar um exemplo desta multiplicidade
de experiências etnográcas, o primado
de se estudar exclusivamente comunidades rurais
é posto em xeque quando analisamos as orienta-
ções metodológicas de Charles Wagley e !ales
de Azevedo. Ao tratarem do “método de campo
no estudo de comunidade” os autores nos alertam
para o fato de que no Brasil “a comunidade
é mais "uída e menos marcada, mais difícil de
delimitar” (Wagley e Azevedo, 1950, p. 230). Já
254 | Isabela Oliveira e Janaína Damasceno
cadernos de campo, São Paulo, n. 18, p. 253-256, 2009
em outro artigo de Wagley, este defende que os
estudos de comunidade poderiam ser realizados
em “vilas e pequenas cidades”, mas também em
“grandes metrópoles”4
(Wagley, 1954, p. 3).
Mas, independentemente
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