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Resenha do livro "O mundo assombrado pelos demônios" de Carl Sagam

Por:   •  12/9/2015  •  Resenha  •  1.790 Palavras (8 Páginas)  •  1.528 Visualizações

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Clézio Silva de Souza

Email: cleziopreiler@hotmail.com

Curso: ABI em Psicologia

Turno: Integral

O MUNDO ASSOMBRADO PELOS DEMÔNIOS

A ciência vista como uma vela no escuro

Carl Sagan

        Uma viagem de táxi. Esse é o fio condutor para que o cientista Carl Sagan trace uma série de reflexões a respeito da realidade atual da ciência (em especial na América do Norte), bem como sobre os prejuízos e malefícios da pseudociência e do comportamento místico e supersticioso enquanto formas de conhecer e lidar com o desconhecido em pleno século XXI.

        No caminho para uma conferência, Sagan relata que o motorista que ficara incumbido de transportá-lo era um sujeito inteligente e, em certa medida, bem informado, mas que se baseava em fontes nada confiáveis para abastecer seu tanque de conhecimentos. Nesse sentido, ao descobrir que Sagan era realmente o famoso cientista conhecido mundialmente, quis logo saber mais detalhes a respeito de UFOS, astrologia e do continente submerso de Atlântida, julgando serem estes conhecimentos subordinados aos rigorosos métodos de experimentação e comprovação das ciências. O cientista refuta seus comentários, afirmando não haver evidências concretas da veracidade dessas informações.

        Para Sagan, essa confusão feita pelo taxista a respeito de ciência e pseudociência é, na verdade, um erro cometido por grande maioria das pessoas. Decorre daí o fato de a sociedade estar tomada por práticas de magia, superstição e falsas ciências. Nesse sentido, o que o autor propõe responder em seu texto é o porquê desse alastramento moderno da pseudociência em detrimento da ciência verdadeira e quais as consequências a curto e longo prazo disso que, para ele, é uma lamentável situação. Ainda nesse caminho, Sagan busca enaltecer a ciência enquanto uma forma confiável e democrática de conhecimento, discutindo, também, maneiras de apresentá-la às pessoas de tal modo que estas se conscientizem do quão importante ela é.

        Carl Sagan afirma ser a ciência tão interessante e instigante quanto a pseudociência, no entanto, sua forma de divulgação e ensino não colaboram para nutrir o interesse da população por ela. Sua crítica se volta para o sistema educacional e os meios de comunicação, que transmitem o conhecimento científico permeado de lacunas, sendo estas preenchidas pela pseudociência. Ele destaca o fato de que espaços como as bibliotecas públicas, bancas de jornais e revistas e a mídia não divulgam adequadamente a ciência e, tampouco, desmintam o falso saber da pseudociência. Esta é mais acessível, chega com mais facilidade na TV, nas escolas e nas livrarias. O motivo é que ela vende mais.

        O cientista atribui o avanço da pseudociência nos dias atuais a um estado de vulnerabilidade da população, que, assim como no passado, em meio às crises políticas, sociais e econômicas, o desconhecido e outros tipos de problemas, se agarra a promessas confortantes de uma qualidade e um consolo na vida. Segundo o autor, a verdade pode ser bem menos interessante do que permanecer acreditando no ilógico. Saber as verdadeiras causas de certos fenômenos e o nosso real lugar no espaço pode ser um baque para nossa vaidade e egocentrismo. A pseudociência e a crença no sobrenatural nos conquista nos momentos de desespero e necessidades emocionais que devem ser supridas. Por este caminho, nos curvamos à primeira promessa de alívio desses problemas.

        O autor alerta para o fato do analfabetismo científico, que, segundo ele, atinge 95% dos norte-americanos. Diz ainda que, nos dias de hoje, uma situação como essa é super perigosa para uma nação que tanto depende da ciência e de suas invenções. Sagan levanta a hipótese de ter sido a decadência da antiga civilização grega consequência do analfabetismo científico de seus cidadãos. Ele demonstra, ainda, preocupação com a formação científica dos políticos que representam a população, dizendo ser praticamente inexistente entre os membros do Congresso dos Estados Unidos. Inquieta- -se ao questionar os rumos das decisões tomadas por esses ditos representantes do povo.

        No texto é feito um elogio à figura de Hipócrates e seu método científico usado no tratamento e prevenção de enfermidades. Afirma-se que esse grande passo para a história da medicina se deu a partir do momento em que se deixou de atribuir as patologias a motivos sobrenaturais e passou-se a investigá-las racionalmente. O autor comenta a respeito do retrocesso científico havido durante o período medieval, em contraposição ao avanço da medicina no mundo islâmico.

        A ciência é repleta de legados no que diz respeito às melhorias das condições de saúde e longevidade, como a descoberta do mundo microbiano, as prevenções contra esses microorganismo, os antibióticos, remédios, vacinas etc. Sagan é irônico ao dizer que, perante uma doença ou distúrbio, podemos buscar a cura em formas meticulosas de conhecimento ou recorrermos à ciência. Além disso, ele propõe a ciência como uma solução para os problemas ambientais e demográficos. Há uma crença na ciência como forma de progresso das nações.

        Sagan questiona o fato de ser o Estado, muitas vezes, condizente com a prática e divulgação da pseudociência, assim como a utilização de artifícios místicos por parte de seus membros no exercício de suas funções. Há interesses políticos e econômicos na manutenção da pseudociência e celebração da ignorância, no entanto, o cientista repudia a permanência na ignorância em virtude dos benefícios que ela possa trazer. De acordo com ele, há uma relação de proporcionalidade direta entre a adesão à pseudociência e a incompreensão da ciência de fato.

        O autor usa, inclusive, de contra-argumentos a respeito de algumas consequências maléficas da ciência para fortalecer ainda mais a sua tese em favor desta.  Cita invenções como as armas nucleares, a talidomida, os CFCs e os danos ambientais causados pela poluição. Fala ainda de cientistas que servem a interesses estritamente políticos e militares e lamenta a desconfiança das pessoas na ciência. Rebate dizendo que as vidas salvas pelo desenvolvimento científico são bem mais numerosas que as perdidas em todas as guerras da história.

        A pseudociência, apesar de usar os métodos e as descobertas da ciência, é totalmente diferente desta. A ciência é produzida de tal forma que ela possa ser contestada e refutada, se necessário for, ao passo que a pseudociência não oferece margens para contestação e refutação. A solução para esse fato seria o exame cético de toda forma de conhecimento.

        Sendo assim, a questão chave que Sagan aponta em seu texto é que o fato de se divulgar apenas as descobertas e produtos finais da ciência contribui para dificultar a diferenciação entre ela e a pseudociência, uma vez que a divergência patente entre as duas é a maneira como seus conhecimentos são produzidos, e não o conhecimento em si. Desta forma, Sagan propõe que também se ensine os rigorosos métodos da prática científica e o processo de construção desses conhecimentos, inclusive seus equívocos e adversidades. Sendo assim, diminuirá a confusão entre pseudociência e ciência errônea, na medida em que esta se fundamenta num processo de aperfeiçoamento e reconhecimento de seus erros e aquela se vale da falsidade para manter-se viva.

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