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Uma Bula De Amor

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Por:   •  27/3/2015  •  2.191 Palavras (9 Páginas)  •  462 Visualizações

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"Vamos falar um pouco da filologia do amor? E por quê tal proposta? É que vejo que até o amor nós já não sabemos mais o que é! Assim, todos os dias, vejo as almas confundidas, desejando ter para dar o que nelas não existe, e, também, chamando de amor aquilo que é ainda instinto primal, e não o desenvolvimento do ser, até chegar ao verdadeiro amor.

Muita gente me escreve querendo soluções para seus problemas de amor. Eu, porém, sou apenas mais um irmão andando e aprendendo, no caminho, o que seja "o Caminho sobremodo excelente" do amor. Assim, não é um especialista quem fala, mas apenas um homem que também que ser maduro em seu amor.

Aliás, quem acha que já é maduro no amor?

Ora, este tal está morrendo e não sabe, visto que o amor jamais acaba também no que tem a nos ensinar! Vamos, então, o mais pedagogicamente possível, dar uma olhada nessa “Bula do Amor”. Quem sabe isto possa nos ajudar a todos?!

No amor partimos em um movimento ascendente, indo-se da libido, para a paixão, e para a compaixão. É a ‘mesma energia psicológica’ que ascende e nos atravessa, indo do básico e infantil ao que é adulto e maduro.

Assim, muitas vezes, os problemas sexuais surgem em razão de se misturar as formas de amor. Vejamos os níveis do amor:

Amor Pornéia (porneia)

Em grego, há diferentes palavras para estas etapas do amor. A primeira etapa é Pornéia (porneia), o amor voraz e devorador, o amor do bebê por sua mãe, o amor de consumo. “Amo o outro, portanto como-o”. Este amor é muito lindo em um bebê. Mas é bem menos bonito em um senhor de 60 anos que só quer “comer e devorar”. A Pornéia é uma forma de amor que precisa ser respeitada e que ocorre em um momento de nossa evolução. Para crescer, temos necessidade de nos nutrirmos do outro. Mas fazer disso um “comer o outro” como se fosse “comida”, faz mal às referencias de outras formas de amar, as quais, só crescem em nós se “pornéia” ficar em seu lugar: no chupão do peito da mãe ou da mulher que se ama, sem consumo carnívoro, pois é com afeto.

Amor Pathé e Manía

As palavras seguintes, em grego, são pathé e manía. Outro dia li Ovídio em seu livro “A arte de amar”, que de fato é a arte de evitar tornar-se amoroso. Isto porque para os antigos gregos e romanos, estar amoroso era uma doença. Sim, era uma possessão. “A arte de amar” de Ovídio é a arte de evitar cair neste estado de possessão psicológica; o que, na radicalidade proposta por ele, cria mais cinismo do que defesa contra os surtos de loucura apaixonada...!

Traduzimos a palavra pathé por paixão e ela está na origem da palavra patologia. É interessante verificar que, na tradição grega, algumas formas de amor são formas de possessão, de manía, como por exemplo: o maníaco-depressivo. A paixão faz-nos passar por estados extraordinários, maravilhosos, mas pode ser também um inferno, pelo ciúme que desencadeia.

Este amor não é de consumo, não é um amor devorador, mas é um amor de posse, de dependência e também, uma necessidade. Aqui, o amor não é um dom, é uma necessidade, uma solicitação. Há casos em que uma pessoa está namorando ou casada, mas sente a necessidade de uma outra pessoa, e até sente ciúmes se vê tal pessoa com alguém. E até comenta que ‘ama tal pessoa’. Às vezes, o que chamamos de amor não é senão ‘posse’, ‘dependência’ e ‘necessidade’. Este modo de “amor” pode gerar sofrimentos que podem até mesmo levar a pessoa a matar. Sim, assim conforme diz a voz do povo: “Matou por amor”.

Na cultura ocidental, pelo número de canções e de romances tristes que ouvimos e lemos, temos a impressão de que não existe amor feliz. Todas as histórias de amor são, ao mesmo tempo, histórias apaixonadas, possessivas, ciumentas e, freqüentemente, dolorosas. É que pathé se transforma em manía com muita facilidade e, por vezes, enlouquece quem já é predisposto ao vício em razão da carência.

Amor Éros

Depois vem a palavra Éros, que expressa não somente um amor de solicitação e necessidade, mas também de desejo. Éros era um jovem deus na mitologia grega. É ele que dá asas ao nosso “falo”, ao que em nós é “fálico”, à nossa necessidade e a nossa libido. Éros é já uma forma muito mais evoluída de amor. Não estamos mais no consumo que caracteriza a criança e o adolescente, mas começamos a viver uma sexualidade adulta. Um amor de uma pessoa por outra, desejando-a e maravilhando-se com ela.

Éros é o amor da beleza. Éros é o sexo alado, o sexo que encontra suas asas. Todavia, para os cristãos, a palavra Éros ficou muito próxima da palavra Pornéia. E isto tem gerado muitos problemas de natureza psicológica.

Amor Storgué

A palavra Storgué pode ser traduzida como ternura e harmonia, as quais são belas formas de falar de amor. É uma maneira de Harmonizar o seu ser com o ser do outro. Sim, porque os problemas entre os seres humanos são também problemas de “ritmo”. É uma experiência muito bela harmonizar sua respiração (seu Sopro), com a respiração do outro. Quando o amor atinge Storgué, em geral, ele está chegando à maturidade e à plenitude.

Esta harmonia entre duas pessoas tem como conseqüência uma cura para o ser. Por isto os antigos chineses diziam que da harmonia entre o homem e a mulher depende a harmonia do universo. Neste ponto não estamos mais ao nível da necessidade, da paixão, nem mesmo do desejo. Estamos no mundo da harmonia e, pouco a pouco, nos aproximamos da compaixão.

Amor Philia

Chegamos à palavra philia que é muito usada pelos cristãos. Daí vem o nome da cidade da Ásia menor: Filadélfia; cujo nome tem muito significado para os cristãos por ser o nome de uma das “igrejas do Apocalipse”, e, também, por ser a palavra da “fraternidade”. Esta palavra pode ser encontrada na Filo-sofia (amor à sabedoria) e em Filo-antropia (amor aos seres humanos). Em grego, distinguem-se diferentes formas de Philia.

Philia Physiqué é o amor parental, a amizade entre parentes. O amor da mãe ou do pai pela sua criança e vice-versa. É, igualmente, o amor de irmãos. Este , às vezes, é um amor difícil, porque a inveja, a concorrência muitas vezes o destrói. Mas como alguém já disse: “...um irmão é um amigo que a natureza nos dá”. Esta é uma forma de relação muito preciosa e que deve ser mantida a todo custo; isto se não houver manipulação e tentativa de abuso e seqüestro emocional.

A Philia Zeiniqué é o amor da hospitalidade, o respeito aos outros,

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