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A Dimensão Cultural do Espaço

Por:   •  5/2/2019  •  Trabalho acadêmico  •  1.410 Palavras (6 Páginas)  •  389 Visualizações

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                                 DIMENSÃO CULTURAL DO ESPAÇO

HISTÓRICO

    Sendo o espaço um dos objetos de estudo da Geografia, ele se apresenta ao longo do tempo impregnado por aspectos culturais em suas mais simples definições. Como compartilha FERRAZ,  (2007, p.32) O entendimento sobre Cultura nos estudos geográficos tem seu processo de sistematização e institucionalização à partir do século XIX, em decorrência das novas técnicas de registro e transmissão de informações, assim como das necessidades colocadas pelo arranjo capitalista de identificar e mensurar os diversos territórios passíveis de exploração e controle econômico. Observamos claramente no determinismo (antropogeografia) de Ratzel, que usa pela primeira vez o termo Geografia cultural em 1880, em uma viagem que fez aos EUA e relaciona o meio físico com os homens que ali habitavam, os mesmos aspectos culturais são evidenciados no possibilismo de Paul Vidal de La Blache dando ênfase nas Técnicas que modificam o meio.

    Essa discursão sobre a dimensão cultural foi ampliada  nos ESTADOS unidos no início do século XX com  Carl Ortwin Sauer  em 1925,como descreve ZANATTA, (2007, p.05)

“[...] definiu a paisagem geográfica como resultado da ação da cultura, ao longo do tempo, sobre a paisagem natural. [...]”.

    Sua contribuição para o pensamento geográfico na área, encontra relevância à partir da reafirmação da paisagem como um conceito chave no entendimento da dinâmica Espacial.

    A renovação da Abordagem Cultural na Geografia aconteceu no final dos anos 70, com o viés do pensamento pós-moderno, com ênfase nas questões anímicas e ontológicas, entendendo por meio destes que a cultura está intimamente ligada à um sistema de representações (símbolos) que criam uma identidade por meio de construções compartilhadas socialmente. Esse ressurgimento é bem explicitado nas palavras de CORRÊA (1999, p.51):

           “[...]O ressurgimento da Geografia Cultural se faz num contexto pós-positivista e vêm da consciência de que a cultura reflete e condiciona a diversidade da organização espacial e sua dinâmica. A dimensão cultural torna-se necessária para a compreensão do mundo[...]”

    Vale a pena ressaltar a contribuição da geografia humanista e da geografia social marxista e da filosofia dos significados, bem como os conceitos de base da geografia; espaço, território, meio ambiente, lugar e paisagem que constroem um melhor entendimento da cultura dessa complexa cadeia de conhecimento geográfico.

ESPAÇO E CULTURA

    A geografia cultural contribui para o entendimento do espaço a partir da relação do homem com o seu habitat. Podemos assim analisar temáticas como paisagem cultural que é a interação entre o ambiente natural e as atividades humanas, onde se criam tradições, folclore, arte e outras expressões da cultura, resultando em uma paisagem natural modificada, e também ecologia cultural que é a maneira como a cultura de um grupo humano se adapta aos recursos naturais do meio ambiente e à existência de outros grupos humanos. Sendo assim, espaço e cultura se entrelaçam e evoluem no tempo proporcionando uma análise que abrange componentes materiais, sociais, intelectuais e simbólicos.

PAISAGEM COMO DIMENSÃO CULTURAL

    A paisagem sempre foi um dos viés conceituais da geografia, mas se tratando de paisagem cultural torna-se um conjunto de formas materiais dispostas e articuladas entre si no espaço (CORREA, 1995). Podemos citar como exemplo os campos, as cercas vivas, os caminhos, a casa; a igreja... com suas particularidades e peculiaridades transformadoras do homem. Ou seja, a paisagem é o resultado de uma dada cultura que a modelou, possuindo um caráter funcional e outro simbólico, logo obedecem também uma hierarquia. A paisagem  à seguir citada é, simultaneamente, funcional e simbólica, reproduzindo o status social que os indivíduos tiveram em vida, como discorrem CORREA (1995, p. 04):

“[...] A paisagem dos cemitérios das grandes cidades brasileiras é, a este respeito, exemplar. Na frente, junto à rua ou à praça estão os túmulos das pessoas ricas e de prestígio... em torno como que, formando um semicírculo, estão os túmulos dos indivíduos de classe média... na periferia do cemitério, de acessibilidade mais difícil, estão enterrados sem nenhum jazigo, os indivíduos das camadas populares[...]”

    A paisagem também como matriz cultural serve como mediadora na transmissão de conhecimentos, valores e símbolos de uma geração para outra. A partir de uma visão de COSGROVE identificamos dois tipos de paisagem; a paisagem da cultura dominante no qual o grupo dominante tem o poder e as “paisagens alternativas” criadas por grupos não dominantes que se subdividem em paisagens residuais; ex: mundo rural e certas áreas das grandes cidades,  paisagens emergentes; ex: acampamentos hippies dos anos 60 nos EUA ou acampamentos dos “sem terra” no sul do Brasil e paisagens excluídas; ex: ciganos e minorias raciais e religiosas, muitas vezes imperceptível aos olhos da cultura dominante.

PERCEPÇÃO AMBIENTAL COMO DIMENSÃO CULTURAL

    Sendo a natureza um espaço socialmente produzido do qual o homem se apropria por meio de seus diversos grupos sociais, esse mesmo espaço não é percebido do mesmo modo por esses diversos grupos, pois são constituídos de atributos peculiares próprios como renda, sexo, idade, práticas trabalhistas, crenças, mitos, valores e utopias.

    A percepção de cada grupo com relação a esses atributos possui uma base eminentemente cultural; ex: o mesmo espaço habitado por agricultores e criadores de animais, onde o agricultor utiliza o espaço de forma mais aprofundada para o desenvolvimento das técnicas de plantio e o criador de animais utiliza este mesmo espaço de forma mais superficial na criação e reprodução de animais; comprovando assim, que a percepção do ambiente tem fortes raízes culturais. Outro exemplo é a mudança na avaliação ambiental das cidades próximas às praias, que eram pouco valorizadas antes do século IXX, e que muda a partir do século XX com elementos que induziam a progressiva transferência das elites e classes médias abastardas para o setor litorâneo. Ou seja, a percepção ambiental, no caso, associasse a incorporação de áreas até então desvalorizadas, ao espaço urbano.

SIMBOLISMO COMO DIMENSÃO CULTURAL

    Segundo ISNARD o espaço geográfico é também um campo de representações simbólicas, sendo que, as formas espaciais no qual o simbolismo se manifesta, ou seja; ganha materialidade são meios através dos quais a cultura é modelada. Os símbolos estão cada vez mais presentes no cotidiano social como discorre COSGROVE, (1989, P.126):

“[...] Admite-se que a paisagem geográfica contém um significado simbólico porque é produto da apropriação e transformação da a natureza, na qual foi impressa através de uma linguagem, os símbolos, os traços culturais do grupo, ao geógrafo competindo decodificar a paisagem, aprendendo a ler o seu significado[...]”

    Com relação ao simbolismo que impregna o espaço ele não caracterizam apenas os atributos econômicos; ex: acessibilidade e amenidades. Caracteriza-se também por conter símbolos que derivam de valores culturais que ali se acham enraizados a hierarquia social entre bairros. Esses símbolos podem trabalhar com retenção, atração ou resistência, sendo assim o espaço simbólico pode conferir outra racionalidade a organização espacial, para o qual a cultura constitui-se o ingrediente fundamental, o mesmo se dá com a cultura de lugares centrais teorizada na década de 30, por CHRISTALLER, que gera localizações otimizadas por comerciantes e prestadores de serviços , onde o deslocamento racional por parte dos consumidores para um dado bem ou serviço o custo e o tempo gastos são minimizados a partir da cultura de lugares centrais; ex: as cidades. Ainda que esta racionalidade pareça ser dominante, constitui-se mesmo um traço cultural.

    Um dos principais expoentes dessa linha composta por significado é o anglo-saxão Denis Cosgrove que propõe a integração entre o materialismo dialético e os aspectos subjetivos na apreensão da paisagem por meio de seu significado.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

    Espaço e cultura cada vez mais nas últimas décadas, a despeito do mundo globalizado se apresenta como uma nova forma de perceber as diferenças nos vários entendimentos da dicotomia Homem-Meio e se apresenta como uma nova forma de perceber a organização espacial e atenuar a ideia de que a organização espacial só pode ser inteligível por meio dos processos de produção.

BIBLIOGRAFIA

  • ZANATTA, Beatriz Aparecida, A Abordagem Cultural na Geografia, São Paulo,2007.

  • CORRÊA, Roberto Lobato, A Dimensão Cultural do Espaço: Alguns Temas:, Rio de Janeiro – UFRJ, 1995.

  • JAMES, S. Duncan, O Supraorgânico na Geografia Cultural Americana, UERJ, 2002

  • COSGROVE, Denis, Geografia e Espaço: Cultura e Simbolismo na Geografia Humana, Londres MacMillan, 1989.

  • CHRITALLER, Valter, Teoria dos Lugares Centrais, New Jersei,1966.

  • ISNARD, Hildebert, O espaço do Geografo, Rio de Janeiro, 1978.

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