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Caracterização Da Arquitetura Interna Das Bacias Do Vale Do Cariri

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Por:   •  18/11/2014  •  Projeto de pesquisa  •  2.010 Palavras (9 Páginas)  •  232 Visualizações

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INTRODUÇÃO

A região do Vale do Cariri, na porção central do Nordeste Brasileiro, é caracterizada pela presença de uma série de bacias sedimentares interiores de pequeno a médio porte (Araripe, Rio do Peixe, Iguatu e Icó, entre outras). O embasamento cristalino é formado por diferentes domínios estruturais pertencentes à Província Borborema. Estes domínios encontram-se intensamente deformados e dominados por zonas de cisalhamento de idades neoproterozóicas. A reativação Eocretácica destas zonas durante o processo de rifteamento intracontinental mesozóico, associado à abertura e formação do Atlântico Sul, condicionou a estruturação interna das bacias intracratônicas. Neste contexto, tais bacias rifte registram em seu arcabouço geométrico a relação entre os esforços distensionais cretácicos e as reativações das zonas de fraqueza crustais preexistentes, que definem a trama estrutural atual da Província Borborema.

Os estudos geológicos na região das bacias rifte datam do início do século, visando o conhecimento dos recursos naturais do Nordeste. Porém, só a partir da década de 60 houve um maior interesse no reconhecimento hidrogeológico regional para fins de combate às secas, resultando em inúmeros trabalhos sobre a estratigrafia, potencial hidrogeológico e geotectônica regional. Os anos 80 se iniciaram com a aplicação de métodos geofísicos, inseridos na crescente pesquisa de petróleo nas bacias interiores do Nordeste. Os principais métodos utilizados foram a gravimetria, a magnetometria e a sísmica de reflexão. Os levantamentos gravimétricos e magnetométricos na Bacia do Araripe foram empreendidos por Oliveira (1983) e Rand & Manso (1984) e na Bacia do Rio do Peixe por Rand (1984). Um consórcio das empresas nacionais levantaram 10 linhas de sísmica de reflexão na Bacia do Araripe, em regime de contrato de risco com a Petrobrás (Ghignone et al., 1986). Mais recentemente, Bedregal et al. (1992) realizaram um detalhado levantamento gravimétrico na Bacia de Iguatu.

Apesar do avançado estágio atual do conhecimento da configuração estrutural das bacias rifte, modelagens geofísicas tridimensionais que revelem seu arcabouço geométrico ainda são escassos na região. Os trabalhos de Rand (1984) e Rand & Manso (1984) apresentam apenas modelos bidimensionais realizados em poucos cortes regionais nas bacias do Araripe e Rio do Peixe. As seções sísmicas revelam com detalhes as seqüências sismo-estratigráficas da Bacia do Araripe, porém não propiciam uma visão 3-D para toda a extensão da bacia. Bedregal et al. (1992) apresentam um modelo tridimensional para a Bacia de Iguatu, sem contudo estender suas conclusões as demais bacias interiores do Nordeste. Neste sentido, a presente modelagem gravimétrica tem como objetivo obter estimativas para a arquitetura geral deste conjunto de bacias e com isso fornecer subsídios adicionais ao conhecimento de sua evolução tectônica fanerozóica no contexto da trama estrutural precambriana.

A região do Vale do Cariri já apresentava uma considerável cobertura de dados gravimétricos, pertencentes aos acervos de dados geofísicos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Observatório Nacional. A distribuição espacial das observações gravimétricas foi complementada por uma campanha geofísica realizada pelo Laboratório de Geofísica de Prospecção e Sensoriamento Remoto (LGPSR) da Universidade Federal do Ceará (UFC) em parceria com a Divisão de Geociências do IBGE. Ao conjunto de dados gravimétricos foi aplicado um procedimento iterativo, que forneceu modelos tridimensionais para as bacias interiores. A partir de informações independentes (modelagens geofísicas, sísmica de reflexão e furos de sondagem), obtidas em trabalhos prévios, foi possível vincular, de forma indireta, as soluções da modelagem gravimétrica a resultados mais plausíveis sob o ponto de vista do conhecimento geológico local. Por fim, a partir do arranjo estrutural em profundidade revelado pela modelagem gravimétrica, realizou-se uma análise das implicações tectono-sedimentares do controle estrutural das extensas zonas de cisalhamento neoproterozóicas na evolução geotectônica das bacias rifte do Vale do Cariri.

BACIAS RIFTE DO VALE DO CARIRI

Chang et al. (1992) reconheceram três mega-seqüências estratigráficas sin-rifte continentais (fases sin-rifte I, II e III), pertencentes ao segmento norte do sistema rifte do Atlântico Sul. As seqüências sin-rifte foram desenvolvidas durante a separação América do Sul - África, no Mesozóico Superior. O sistema rifte do Nordeste do Brasil sofreu uma maior influência das duas últimas fases sin-rifte, quando ocorreram os principais esforços de estiramento e ruptura crustal com a reativação das extensas zonas de cisalhamento proterozóicas e uma expressiva sedimentação nas bacias costeiras e interiores (Matos, 1992).

A segunda fase sin-rifte (Neocomiano - Barremiano Inferior) foi marcada por uma intensa deformação distensional com estiramento crustal de orientação NW-SE, que ocasionou a formação de uma seqüência de bacias sedimentares intracratônicas, orientadas segundo uma direção principal NE-SW, denominada Trend Cariri - Potiguar por Matos (1992). Tais bacias são caracterizadas por uma geometria de meio-graben, separadas por altos do embasamento, falhas de transferências e/ou zonas de acomodação. O eixo principal do Trend Cariri-Potiguar coincide com uma concentração de seqüências de faixas supracrustais geradas e/ou retrabalhadas durante o Ciclo Brasiliano (faixas Cachoeirinha-Salgueiro, Orós, Jaguaribe, Extremo Oeste do Rio Grande do Norte e Seridó), aflorantes na porção central da Província Borborema (Jardim de Sá, 1994; Sá et al., 1995). Consequentemente, o processo de rifteamento na crosta superior teria sido influenciado, sobremaneira, por zonas de fraqueza proterozóicas (Matos, 1987). Através da inversão de anomalias gravimétricas regionais, Castro & Medeiros (1997) identificaram uma zona de afinamento crustal de direção geral NE-SW, concordante com o eixo de deformação distensional e subsidência tectônica que culminaram com a implantação das bacias do Trend Cariri - Potiguar.

As bacias rifte do Vale do Cariri (Fig. 1), também denominadas bacias interiores mesozóicas do Nordeste, são representadas pelas bacias do Araripe, Rio do Peixe, Iguatu, Malhada Vermelha, Lima Campos e Icó, entre outras de menor porte, distribuídas entre os estados do Ceará, Pernambuco e Paraíba. Este agrupamento de coberturas sedimentares de pequeno a médio porte representa os resquícios de uma bacia mesozóica pretérita

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