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Relatório de Campo Beco do Marroquim

Por:   •  18/11/2018  •  Pesquisas Acadêmicas  •  1.404 Palavras (6 Páginas)  •  292 Visualizações

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        Relatório de campo

Beco do Marroquim

O bairro do Recife, com 476 anos,já teve inúmeros becos, que ao longo do tempo foram se perdendo. Becos que hoje, além de possuírem um  atrativo comercial, nos chama atenção para a herança histórica que se esconde em cada fachada de casa, em cada morador antigo, em cada símbolo e placa.

O beco do Marroquim, nos coloca frente a aspectos importantíssimos para entendimento (ou até mesmo a questionamento) do que vem a ser um beco. Um beco, como nos foi colocado, é uma rua estreita muitas das vezes classificada - baseado em um pré julgamento- como  um “mau lugar”.  Esse estreitamento pode ser visto fazendo uma referência tanto geográfica, como social. No poema  de Cora Coralina, intitulado “Becos de Goiás” (1980, p.79-82)  há a presença nítida dessa referência, onde o beco é colocado sobre tudo como um lugar sujo, triste, miserável, de prostituição e violência.

Beco de minha terra...
Amo tua paisagem triste, ausente e suja.
Teu ar sombrio. Tua velha umidade andrajosa.
Teu lado negro, esverdeado, escorregadio.
E a réstia de sol que ao meio-dia desce, fugidia,
e semeia polmes dourados no teu lixo pobre,
calçando de ouro a sandália velha,
jogada no teu monturo.
(...)


Amo e canto com ternura
Todo o errado da minha terra

Becos da minha terra,
Discriminados e humildes,
lembrando passadas eras....
Beco do Cisco.

Beco do Cotovelo.
Beco do Antônio Gomes.
Beco das Taquaras.
Beco do Seminário.
Bequinho da Escola.
Beco do Ouro Fino.
Beco da Cachoeira Grande.
Beco da Calabrote.
Beco do Mingu.
Beco da Vila Rica...

Conto a estória dos becos,
dos becos da minha terra,
suspeitos... mal afamados
onde família de conceito não passava.
“Lugar de gentinha” – diziam, virando a cara.
De gente do pote d´água
De gente de pé no chão.
Becos de mulher perdida.
Becos de mulheres da vida.
Renegadas, confinadas
Na sombra triste do beco.
Quarto de Porta e janela.
Prostituta anemiada,
Solitária, hética, engalicada,
Tossindo, escarrando sangue
Na umidade suja do beco

Becos mal assombrados.
Becos de assombração...

(...)
Mulher-dama. Mulheres da vida,
perdidas,
começavam em boas casas,
depois,baixavam para o beco.
Queriam alegria.
Faziam bailaricos.
- Baile Sifilítico – era ele
assim chamado.
O delegado-chefe de Polícia
– brabeza –
dava em cima...
Mandavam sem dó, na peia.
No dia seguinte, coitadas,
cabeça raspada a navalha,
obrigadas a capinar o
Largo do Chafariz,
na frente da Cadeia.

Becos da minha terra...
Becos de assombração.
Românticos, pecaminosos...
Têm poesia e têm drama.

        Vale ressaltar, que mesmo os becos nos trazendo a remota de ideia de “ruim” a autora, vislumbra outras marcas do local.  Essa rua pequena, aparentemente ordinária, possui um imenso registro histórico e afetivo, premissa que pode  ser observada em um trecho da obra acima, “Amo e canto com ternura/Todo o errado da minha terra”. Há todo um valor sentimental de ir e vir nessas ruelas, de presenciar suas mudanças constantes e o seu cotidiano confuso e fissural. A paisagem vernacular, entra como uma ótima classificação para um beco, onde  muitas das vezes é invisibilizado -esta não natural e comumente que já não é pautada como algo a ser observado. Berque (1998), coloca que a paisagem é uma marca, mas também uma matriz, direcionando esse pensamento para a análise de um beco, a marca é o que nós fazemos com o espaço a partir do que é predeterminado pela matriz, no qual a matriz seria o comportamento - dito anteriormente- tão natural e comum,onde o cotidiano traz a monotonia e a desvalorização dos aspectos tidos como banais pelos frequentadores.  Assim, também podemos dizer que:

"[...] a paisagem que vemos hoje não será a que veremos amanhã e nem tão pouco é a que foi vista ontem, pois a paisagem é produzida e reproduzida no decorrer do tempo, através da ação do homem e da sociedade sobre o território, levando em conta que cada ator social tem seu tempo próprio no espaço. Assim, a paisagem é por conseguinte objeto, concreto, material, físico e efetivo e é percebida através dos seus elementos, pelos nossos cinco sentidos, é sentida pelos homens afetivamente e culturalmente". (BERINGUIER, 1991, p. 7)

Voltando para o beco do Marroquino, iremos dividir sua descrição em 3 partes: O afeto por Maria, uma mulher pedinte do beco; O cenário oriental e o beco arruado.

        Neste beco tivemos a oportunidade de escutar o relato de  um comerciante que faz parte da linhagem que originou o armazém de miudezas, “Fortunato Russo Sobrinho”, que atualmente é dono desse conjunto de comércios,  que se ampliou pelo litoral do Recife e outras localidades. Fortunato nos conta que, naquele beco havia uma mulher no qual foi escrava e viveu como pedinte durante toda a sua vida. Como forma de ajuda, o armazém disponibiliza um pedaço de tecido de chita,duas vezes ao ano, e com esse pedaço de tecido Maria, produzia  suas vestes. O comércio que se localizava em frente a esse armazém, (o qual não nos foi dito o nome) também auxiliava na alimentação, a oferecendo o almoço e o jantar todos os dias. Dessa forma ela conseguiu criar dois filhos, que de acordo com que nos foi colocado, conseguiram alcançar o ensino superior. Nós foi dito também, que um pinto/escritor, Roberto Magalhães, homenageia essa mulher com um quadro - numa pequena praça-, onde podemos ver um texto e a reprodução da figura de Maria.

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