A Grande Guerra contra o Paraguai: Versões, causas e embates de uma Historiografia em debate
Por: Matteus Neto • 12/4/2018 • Artigo • 1.957 Palavras (8 Páginas) • 299 Visualizações
Universidade Federal do Maranhão
História do Brasil II Docente: Prof.Dr. Marize de Helena Campos
Mateus Henrique Araújo Cardoso
A Grande Guerra contra o Paraguai: Versões, causas e embates de uma Historiografia em debate
São Luís 2017
INTRODUÇÃO
No presente artigo, iremos demonstrar, em constante mudança, de como a Grande Guerra teve suas causas, seus estopim e principalmente seus “vencedores”. Aliás, é correto pensar que vencedores em guerras nunca obtiveram hegemonia em grande escala onde os países envolvidos, mesmo derrotados, ainda se incorporaram a não desistir de seus ideais revolucionários. O então conflito chamado de Guerra da Tríplice Aliança, Guerra contra o Paraguai, ou propriamente dita Guerra do Paraguai, visa acabar com a política nacionalista do déspota Francisco Solano López em sua nação paraguaia, mas de fato era uma hegemonia suficientemente capaz de deixar países latino-americanos com medo? Quem interveio? Quem realmente queria o fim do avanço deste país ao progresso? Qual o desfecho e legado que a Guerra nos deixou? Quem obteve um grande retrocesso após o fim do conflito? Ouve, de fato, vencedores?
Analisaremos passo a passo do desenrolar da maior e mais sangrenta guerra, que ao seu processo, demonstra uma verdadeira hecatombe demográfica, um genocídio bárbaro com a nação paraguaia, onde marca indelevelmente a História contemporânea da América do Sul.
Em seu Segundo Reinado, o Brasil tendo apoio da Inglaterra e “obrigado” a seguir sua política, se ver com um vizinho indesejado chamado Paraguai. Essa frase mais tarde, ganhará um forte enfoque no desenrolar do conflito nos levando a refletir: Trata-se de um mito historiográfico? Até em meados de 1970, essa ideia era aceita, mas hoje em fins acadêmicos essa tese do imperialismo britânico sendo o grande causador da guerra perde sua hegemonia.
A nação paraguaia e sua política de governo revolucionária e independente
O Paraguai, após a sua independência em 1811, teve seu inicio econômico e social a partir de uma sociedade agrária, que se redefine em uma política que contemplasse terras aos índios e mestiços (distribuição de terras, muito presente nas idéias de Lênin na NEP, em 1924), aonde foram tomadas desde o inicio da conquista por colonizadores espanhóis. José Gaspar Rodriguez de Frância, primeiro presidente da então nação independente paraguaia, iniciou um grande embate contra a igreja católica e os latifundiários, tomando-lhes as terras e arrendando-as a valores baixos aos camponeses.
Pensando de fato numa perspectiva nacionalista, foram criadas fazendas estatais, onde se praticava atividades do campo, como a agricultura, pecuária e artesanato como fontes de recurso para o fortalecimento do Estado, de modo que havia grandes quantidades de trabalho aos camponeses, os chamados sem-terras. O Estado aos poucos, se torna interventor nas relações econômicas do Paraguai, sendo um verdadeiro gestor na produção de alimentos manufaturados. Tais atitudes levaram a uma crescente independência econômica com relação aos outros países latino-americanos que aumentavam seus laços de dependência com a Inglaterra. Outro aspecto a se destacar dessa política inovadora de Frância, foi o ataque e erradicação da taxa de analfabetismo em sua nação.
Em 1840, o atual presidente vem a falecer, vindo a ser sucedido por Carlos López que prossegue sua forma de governo nacionalista a fortificação econômica paraguaia, sendo construída estrada de ferros, estaleiros para os barcos a vapor, fabricas de pólvora, de louças etc. O intenso nacionalismo que se construía era mal observado pelo capital estrangeiro, principalmente o inglês, pois o protecionismo econômico do Paraguai impedia importações européias.
O Paraguai constituía uma exceção perigosa aos interesses das potencias capitalistas. Tornava-se necessário destruir um regime que promovia um desenvolvimento autônomo. As potencias não podiam admitir uma nação que se constituía ali, no meio de vários países já dominados pela sua forma de política a doutrinar outras, que nacionalizava as terras e o comercio exterior, e promovia o ensino obrigatório e gratuito para todas as classes (ideários de pensamentos iluministas, gerando a Revolução Francesa, 1789).
Do ponto de vista dos políticos e intelectuais brasileiros e argentinos, que estudavam na Europa às custas dos escravos e camponeses, o Paraguai era visto como uma ameaça, uma “barbárie”, sendo necessário integrá-lo à “civilização”, ou seja, ao mercado mundial e controlado pelas potencias, que na época tinham a hegemonia política e econômica. O isolamento da nação paraguaia verificou-se benéfico para a população, pois erradicou-se o analfabetismo, como já citado, e ao mesmo tempo, sua industria artesanal substituía as importações dos manufaturados ingleses. Ironicamente e “coincidentemente”, ao mesmo tempo, a Inglaterra era o principal fornecedor bélico dos países da bacia do Prata, onde a partir da segunda metade do século de XX, se tem um grande embate entre nações sobre aquela área. Carlos López pretendia controlar a navegação do trecho do Rio Paraguai, ferindo os interesses dos países vizinhos e também dos comerciantes ingleses. Mas é incorreto achar que a nação paraguaia tinha esse poderio econômico, social e militar apresentado por essa historiografia, já que a mesma cede a influências inglesas em sua sociedade.
De outra forma historiográfica de compreensão, Carlos López se diferencia de Frância ao abrir o país ao comercio exterior, trazendo imigrantes e técnicos estrangeiros. Ora, pensar dessa forma é admitir que o Paraguai obteve influências capitalistas de outras nações, não sendo assim uma nação homogênea. Quando a nação ensaia uma abertura para a sua integração no comercio mundial, o ditador argentino Juan Manuel Rosas impôs um bloqueio econômico ao país vizinho (muito parecido com a crise dos mísseis em 1962, onde os Estados Unidos bloqueia a então revolucionaria ilha de Cuba de Fidel Castro).
Os problemas de fronteira se sucedem e Carlos López se dedica à criação de um bom e adestrado exercito, preparado por oficiais alemães e equipado com armamentos europeus.
Segundo Reinado Brasileiro: intervenções e derrocada de um regime fraco e genocida
Ainda em 1864, o Brasil é uma monarquia parlamentarista, sendo “governado” por um homem de 38 anos que estar no trono desde os 14, Dom Pedro II. Mary Del Priore relata que apresentam o mesmo como um homem muito culto, mas despreparado, lhe faltando polimento para governar. Naquela época, o país independente desde 1822 vive sua maior crise econômica e social, e entrando em uma Guerra, a situação se alastra a uma derrocada do império. Embora a tudo isso, a questão do Rio Prata se estabelece em um momento em que a nação em si percebe o interesse de outras nações pela área delimitada. Vários eventos levaram o Brasil a realizar intervenções armadas na região do Rio da Prata:
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