A Guerra Fria e a Escalada nos Conflitos Regionais
Por: Enio Fortes • 12/9/2017 • Ensaio • 1.201 Palavras (5 Páginas) • 436 Visualizações
Ensaio — A Guerra Fria e a Escalada nos Conflitos Regionais
Com o final da Segunda Grande Guerra, duas grandes superpotências hegemônicas (EUA e URSS) surgem e se rivalizam no novo concerto mundial. Com a Europa arrasada por anos de intenso conflito em seu território, o vácuo deixado pelos por seus atores é rapidamente ocupado pelas superpotências, que competem por uma posição mais consolidada globalmente de seus sistemas e ideologias pelo mundo. Com isso, o processo de descolonização das antigas colônias africanas e asiáticas tem início, e diversos novos países vão sendo criados e reconhecidos. Neste processo, Estados Unidos e União Soviética veem uma oportunidade única de expandirem suas zonas de influência pelo globo e se propõem de maneira rápida a aproveitar as instabilidades regionais no terceiro mundo para tal fim.
Já os novíssimos países muitas vezes se veem sufocados pelos interesses das superpotências em suas aspirações regionais que, sem levar em consideração as especificidades que engendram tais disputas, somente as julgam com uma extensão de sua própria competição ideológica, fazendo dessas contendas regionais guerras por procuração entre os EUA e a URSS, onde a derrocada de um dos lados necessariamente implica no sucesso do outro, na chamada Guerra Fria. Tal situação permitiria um teste de forças, militares e políticas, entre as duas partes sem o ônus que um confronto direto acarretaria para o mundo como um todo, uma guerra nuclear.
Neste ensaio, busco demostrar que a intervenção das superpotências nos conflitos regionais no terceiro mundo somente levaram a uma escalada em tais situações e nem nada trouxeram de vantajoso para as superpotências da Guerra Fria além do dispêndio de capital político, financeiro, militar. Para isso, analisarei os eventos da Guerra Civil Angolana como forma de demonstrar tal afirmação.
Com o fim da Guerra de Independência Angolana, com um golpe de estado em Portugal que levou a retirada do controle português sobre suas colônias africanas e lhes garantia a independência, o mais novo estado africano mergulhava em uma sangrenta guerra civil em novembro de 1975. Com o vácuo deixado com a saída dos portugueses de Angola, diferentes grupos políticos buscavam assegurar sua posição no poder do novo estado, sendo eles: O Movimento Popular pela Libertação de Angola (MPLA) e a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA). Iniciada a guerra civil, o MPLA, que possuía uma ideologia de esquerda Marxista-leninista, buscou estreitar suas ligações para com a URSS a fim de receber apoios militar e financeiro, que levariam o conflito a um desfecho favorável a suas aspirações. Então, recebeu apoio extenso da URSS, bem como de outros países africanos e também de Cuba. Em contrapartida, a UNITA rapidamente buscou apoio estadunidense, uma vez que era adepto da implantação do sistema capitalista em Angola, visando contrabalançar o apoio soviético recebido pelo MPLA, foi contemplado por um grande apoio financeiro e de armamentos por parte dos EUA bem um também do Exército Sul-africano, que tinha como objetivo brecar o avanço comunista no sul da África.
A guerra civil se acirrava... onde todos estavam fortemente armados e apoiados financeiramente por influxos provenientes das grandes potências (Principalmente de armas e dinheiro, mas também com tropas por partes de Cuba e da URSS), o que permitia e facilitava que o conflito se estendesse por vários anos (Os apoios financeiros que se iniciaram na década de 70 somente vieram a se encerrar um ano após a extinção da União Soviética, em 1992.). Em minha concepção, agravando profundamente as questões originárias do conflito e deteriorando gradativamente as condições estruturais e sócias de Angola, que, mesmo com a saída de todas as tropas estrangeiras em 1989, continuou mergulhada em um intenso conflito armado até seu término em 2002. Após eleições gerais em 2002 conforme acordado entre MPLA e UNITA, foi-se restaurado um mínimo de estabilidade política para Angola, entretanto, as cicatrizes da guerra são muito profundas, onde cerca de 80% de sua população não possuem acesso a tratamentos médicos básicos, bem como 60% não tem acesso a agua tratada e própria para consumo humano.
Podemos encontrar um modus operandi de embate entre a URSS e os EUA em outras regiões do Terceiro Mundo durante o mesmo período, como por exemplo, nos conflitos nas as nações do Chifre da África (Somália, Etiópia, ...), Afeganistão, Irã, Nicarágua, dentre outros, onde os agentes regionais viam no contexto internacional da Guerra Fria uma real possibilidade de buscar apoio dos Grandes Atores do palco principal (EUA e URSS) para o sucesso de suas empreitadas regionais. Entretanto, em minha visão, mesmo que em um primeiro momento o apoio por parte de uma das grandes superpotências fosse extremamente vantajoso no curto prazo, isto implicaria invariavelmente numa escalada do conflito, onde a outra parte rapidamente se prontificaria a contribuir para o lado contrário ao apoiado por seu rival.
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