A Reviravolta Cultural
Por: gabriel guioto • 9/11/2017 • Resenha • 2.095 Palavras (9 Páginas) • 473 Visualizações
FONTANA, J. A história dos homens. Bauru: EDUSC, 2004, 508p
O presente trabalho tem como objetivo expor brevemente algumas das reflexões contidas em “A história dos homens”, do historiador espanhol Josep Fontana, mais especificamente nos capítulos “A reviravolta cultural”, “A crise de 1989”, “Por uma história de todos” e “Em busca de novos caminhos”.
Nascido em Barcelona em 1931 e doutor pela Universidade de Barcelona, o autor é especialista em Teoria da História, História Econômica e História da Espanha, sendo bastante influente no Brasil principalmente por seus trabalhos voltados ao campo teórico.
1. A reviravolta cultural
Fontana inicia o capítulo apontando mudanças culturais e teóricas ocorridas após serem frustradas as esperanças erguidas pela derrota do fascismo ao fim da Segunda Guerra Mundial. Um dos resultados dessa frustração seria a negação da cultura estabelecida, inclusive no campo teórico, através do que descreve como “uma sucessão de etapas da evolução do pensamento filosófico” (p. 382) Primeiro, cita os pós-modernistas, em resposta a um modernismo que não mais atua como vanguarda. Além deles, também a superação do existencialismo pelo estruturalismo, apenas para que este fosse por sua vez superado pelos pós-estruturalistas. A revolta da geração de jovens dos anos 60 contra a ortodoxia acadêmica vigente, valorizando agora uma “construção cultural de realidade” (p. 383) em detrimento de um “estudo da cultura como produto da sociedade”. (p. 383) A seguir, ao fim da Segunda Guerra Mundial, uma nova teoria. Nos anos 2000, outra mudança de gerações nos historiadores.
Para o autor, essa sequência extensa de tentativas teóricas revela, na verdade, certo desnorteamento, sendo que cada uma das novas teorias surge apenas para adequar-se ao contexto histórico em que se insere. Passando pelo estruturalismo de Foucault e a propagação de suas ideias entre os nouveaux, Fontana fará críticas à a “história das mentalidades”, conceito que considera vago e impreciso principalmente por não ter seus domínios definidos – motivo pelo qual talvez tenha alcançado tanta popularidade. Além disso, aponta também que historiadores ignorados pelos nouveaux como Norbert Elias, Collingwood e Febvre, ao tratar da “sensibilidade”, por exemplo, já haviam abordado alguns dos temas dos quais se ocupava a história das mentalidades. Assim, uma das principais críticas presentes no capítulo, é ao fato de os problemas apresentados pela reviravolta cultural não serem novos, mas apenas agora apresentados sob novos e confusos nomes.
A seguir, após terem experimentado seu período de glória entre os anos setenta e oitenta – entrevistas para jornais, revistas e programas de TV, recepção positiva nos Estados Unidos – os nouveaux seriam também criticados pela revolta de uma nova geração, a do tournant critique, os post-nouveaux, aumentando ainda mais a fragmentação e a dispersão no terreno da história.
Em contraponto, elogia as reflexões de Gerard Noiriel que, segundo Fontana, “não se limita a reflexões teóricas abstratas, como fazem com frequência os post-nouveaux, mas integra suas formulações em estudos sobre temas especialmente engajados, como o direito de asilo na França ou as origens do regime de Vichy”, (p. 398).
O autor conclui afirmando que é importante nos lembrarmos de que a reviravolta cultural abordada na obra trata-se apenas de um episódio dentro de um fenômeno maior e de alcance global, e que não merece ser tratada como mais que isso, alertando que é infrutífero nos focarmos apenas nos historiadores franceses e em seus debates enquanto deveríamos tratar do “surgimento de linhas de estudo que formulam novos problemas relevantes para os homens e mulheres de hoje ou oferecem novos métodos para analisar os velhos problemas.” (p. 399).
2. A crise de 1989
No capítulo seguinte de “A história dos homens”, Josep Fontana se preocupa com o que chama de “A crise de 1989” referindo-se ao momento posterior à queda do Muro de Berlim e à derrota dos regimes socialistas do leste da Europa. Como consequência desses eventos, há na história uma tendência a negar qualquer teoria que estivesse ligada ao marxismo, uma vez que esses acontecimentos representariam “uma vitória final e definitiva da ordem estabelecida contra a ameaça subversiva da revolução” (p. 414) , “o fim da história”. (p. 414)
Como exemplos da onda conservadora que irá permear os estudos históricos, o autor cita os estudos de Fukuyama sobre o “fim da história” e de Samuel Huntington, autor de um paradigma conservador mais duradouro que o de Fukuyama, mas igualmente criticado por Fontana. Para Huntington, a história não havia acabado, mas, agora, os conflitos mundiais não mais seriam pautados por questões econômicas ou ideológicas, mas culturais.
Entre as muitas diferentes reflexões surgidas no campo da História neste momento, Fontana irá abordar também as questões acerca do liberalismo que, para alguns estudiosos, irá triunfar com a decadência do socialismo, mas que, para outros, como Wallerstein, terá em 1989 o símbolo perfeito de seu fracasso “como geocultura definitiva do sistema mundial”. (p. 418) Também são abordados debates como: o ataque às interpretações de esquerda, a volta à narração em detrimento da história analítica, as tentativas de associar história e ficção, a “micro-história”, a história oral, a “new economic history”, acusando alguns desses historiadores de utilizarem métodos de outras disciplinas que podem, é claro, ser úteis, mas que podem também conduzir o historiador ao fracasso completo.
As exposições anteriormente mencionadas servem como base para que Fontana passe agora a discutir detalhadamente o pós-modernismo, sua genealogia e contribuições à História. Existente em campos diversos (como arquitetura, artes, música), o pós-modernismo surge na história a partir da negação dos métodos da história social que dominaram os anos sessenta. Porém, diferentemente das correntes teóricas que também pretendiam negar os métodos tradicionais, os pós-modernistas serão defensores de uma mudança ainda mais radical. Formuladas por Jean-François Lyotard, aqui estavam às verdadeiras ideias que representariam “o fim da história”. Agora, uma teorização que se afastaria do confronto com a realidade, uma vez que seria, para os pós-modernos, impossível conhecer o verdadeiro significado do que ocorreu no passado.
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