Admirável Mundo Novo e Totalitarismo
Por: Bruna Saldanha • 28/6/2016 • Artigo • 1.224 Palavras (5 Páginas) • 1.033 Visualizações
Após ser mandado para servir o exército inglês durante a primeira guerra mundial e viver na Itália fascista de Mussolini, Aldous Huxley escreveu, em 1932, o livro de ficção Admirável mundo novo. Huxley, um membro da classe aristocrática Inglesa, começou a cursar medicina mas, devido à um problema nos olhos, abandonou o curso e acabou formando-se em jornalismo.
Na obra, o autor descreve uma sociedade onde o Estado totalitário tem um controle absoluto sobre os indivíduos. Um controle que é tanto biológico quanto psicológico e social. É imaginado um sistema de produção de seres humanos que são geneticamente modificados em incubadoras especiais e predestinados socialmente.
É evidente que o autor tinha como objetivo fazer uma crítica ao modelo fordista de produção usado nas indústrias e aos métodos de dominação usados pelos regimes totalitários que estavam aparecendo na época. Para fazer a crítica, Huxley cria um mundo em que o Estado atinge o mais alto nível totalitário ao criar indivíduos que não pensam por conta própria. Indivíduos inconscientes e sem livre-arbítrio que, por tecnologias de condicionamento, sentem-se felizes com as suas funções pré-determinadas para as quais estão adaptados.
A década de 30, na qual o livro foi escrito, foi a época em que as ideologias de governos autoritários começaram a tomar conta de grande parte da Europa, formando exércitos de homens iguais e disciplinados com o objetivo único de combater o Estado inimigo. Assim como para os indivíduos no Mundo Novo criado pelo autor, para os homens desses exércitos, o Estado, por ter total controle de suas vidas, era seu pai e sua mãe.
Com os avanços da tecnologia, as descobertas científicas eram cada vez maiores. Apesar de a ideia de clonar um indivíduo ser muito antiga, apenas em 1950 foram iniciadas as experiências de clonagem. Nesse fato fica nítida a capacidade visionária do autor. Supõe-se que o mesmo tenha sido inspirado pelos grandes avanços no estudo da genética que estavam ocorrendo na época para usar a ideia de clonagem como elemento fundamental para a sua obra.
3. MUNDO NOVO: O FUNCIONAMENTO
Na sociedade futurista, criada pelo autor, eram os cientistas, contratados pelo Estado, que controlavam o processo de criação de pessoas com o objetivo manter a estabilidade social. Os seres humanos produzidos eram classificados em castas definidas: Alfas, Betas, Gamas, Deltas e Ípsilons. Cada casta tinha um condicionamento diferente para que os indivíduos fossem felizes com a sua relativa posição dentro da sociedade. O livro inicia-se com o Diretor de Incubação e Condicionamento apresentando o Centro de Incubação e Condicionamento de Londres Central (CIC) a uma turma de estudantes. O Diretor, além de apresentar o estabelecimento, explica todo o processo da produção de seres humanos. É aplicado um processo chamado Bokanovsky. Este se baseia em constantes interrupções no processo de desenvolvimento de um óvulo que fazem com que, ao invés de originar apenas um ser humano, esse único óvulo origine 96 indivíduos idênticos uns aos outros. É aplicada, então, o ideia de produção em serie, uma herança do modo de produção fordista, na produção de seres humanos. Esses seres humanos produzidos são entendidos como máquinas, como é mostrado na explicação do Diretor sobre o Processo: “Noventa e seis gêmeos idênticos fazendo funcionar noventa e seis máquinas idênticas!” (HUXLEY, 2014, p. 24).
A partir da quantidade de oxigênio no cérebro é feita uma predestinação social. A direção do Centro determina a qual casta o embrião pertencerá, quais serão seus aspectos físicos e qual será o trabalho que desempenhará na sociedade.
Através da hipnopedia — aprendizagem durante o sono —, os indivíduos são educados e condicionados para aceitarem e serem felizes com as suas posições na sociedade.
Nós os condicionamos de tal modo que eles se dão bem com o calor. [...] Nossos colegas lá em cima os ensinarão a amá-lo. [...] é o segredo da felicidade e da virtude: amar o que se é obrigado a fazer. Tal é a finalidade de todo o condicionamento: fazer as pessoas amarem o destino social a que não podem escapar. (HUXLEY, 2014, p. 34)
Esse processo de hipnopedia determina os valores de cada indivíduo relativos à casta a qual pertence e também a sua relação com as outras castas da sociedade, criando assim o preconceito entre essas diferentes camadas. No livro, há uma cena que se passa em uma sessão de hipnopedia em que, durante o sono, as crianças aprendiam sobre consciência de classe:
As crianças Alfas vestem roupas cinzentas. Elas trabalham
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