O Campo da História” de José D'Assunção Barros
Por: Marta Santos • 23/4/2021 • Trabalho acadêmico • 1.389 Palavras (6 Páginas) • 388 Visualizações
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RECENSÃO CRÍTICA
“O campo da História” de José D´Assunção Barros
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Conteúdo
Breve introdução ao autor 2
Ideias principais sobre o conteúdo do artigo 2
Conclusão 5
Breve introdução ao autor
José D'Assunção Barros, historiador e musicólogo, nasceu no Rio De Janeiro a 22 de Setembro de 1957, e é atualmente professor do Departamento de História da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
Mais do que Historiador e Musicólogo, José D’Assunção Barros foi um estudioso e ensaísta multifacetado, com interesses diversificados, que refletem um espírito crítico inquieto e uma subtileza e análise das diferentes áreas do conhecimento, com destaque para a História e as relações interdisciplinares nos variados campos de análise. De entre as suas obras destacam-se "O Campo da História" (2004), "O Projeto de Pesquisa em História" (2005), "A Construção Social da Cor" (2009) e a "Teoria da História", em cinco volumes (2011).
José D'Assunção Barros também escreveu diversos artigos e ensaios sobre assuntos multidisciplinares, como História da Literatura, História da Arte, História da Música, Cinema, Teoria e Metodologia da História..
Ideias principais sobre o conteúdo do artigo
O texto em análise procura equacionar as relações entre as diferentes modalidades da História, através de uma abordagem que reflete o conhecimento histórico atual e a discussão de objetos, fontes e abordagens mais comuns. De destacar a importância dada à interdisciplinaridade do conhecimento construído, em detrimento da especialização fragmentada, que espartilha uma visão mais alargada, numa ótica humanista global, à qual não pode ser alheia uma atitude pró-ativa do estudioso perante o mundo que o rodeia.
Assim, e embora o estudo da História se divida em diferentes campos, de acordo com as diversas áreas de especialização dos seus autores e das suas esferas de interesse – e também, tantas vezes, de opções de carreira académica - nomeadamente, da Cultura, das Mentalidades, do Imaginário, Quantitativa, entre outras, o autor considera que um trabalho historiográfico de excelência deve munir-se desta multiplicidade de campos, numa interligação constante, para uma melhor compreensão dos saberes. O autor pretende ainda provar que a resposta para esta análise da(s) História(s) reside na distinção entre dimensões, abordagens e domínios/temáticas, sem esquecer ou descurar as inevitáveis interligações, analogias e semelhanças, bem como as diferenças e oposições.
O autor considera que “o oceano da historiografia acha-se hoje povoado de inúmeras ilhas, cada qual com a sua flora e a sua fauna” (p.18), reflexo do interesse especializado de cada estudioso e do seu percurso profissional e académico, imbuído de influências específicas e direcionadas. Os historiadores atuais são, por isso, meros hiper-especialistas de determinado conhecimento histórico, imbuídos de um determinismo preocupante, espartilhados em análises desagregadas, como se a História fosse simplesmente resultante de causa e efeito, de uma maneira única de análise.
Para que possamos entender e concordar com esta posição, o autor exemplifica utilizando a História das Artes Visuais que, ao longo dos séculos, parecia desdobrar-se em estilos estanques de pintura, no tempo e no espaço - Arte Gótica, Arte Renascentista, Arte Barroca ou Arte Neoclássica – como se houvesse fronteiras temporais/espaciais determinadas, para chegar à Era Moderna e constatarmos que a expressão artística de correntes como o Cubismo, o Realismo, o Surrealismo, entre outras, partilham a mesma época, com diferentes tendências, sem padrões rígidos, num única perspetiva de criação artística, análise que entra em rutura com os paradigmas anteriores, Destaque-se que esta análise, simples e assertiva, indicia a direção, o caminho que o autor pretende provar – que não deve existir um conhecimento único, hiper-especializado, estanque e cego à(s) realidade(s).
O autor vai ainda mais longe, quando nos transporta para uma visão holística do estudo da História, numa perspetiva humanista, que se tem perdido devido à especialização das áreas do conhecimento histórico. Assim, invoca-nos à reflexão de que os diferentes domínios/áreas temáticas não podem existir em compartimentos estanques, sem qualquer interligação, uma vez que existem ténues fronteiras entre eles. É legítimo falarmos, por exemplo, de História Política ou de História Demográfica, que implicam dimensões de âmbito social, como por exemplo, análises da população, conceitos de poder; de História Oral, que nos remetem para abordagens diferentes no tratamento das fontes em estudo; ou ainda da História Rural ou Urbana, numa subdivisão ainda mais restritiva na análise de determinados ambientes sociais. Todas são legítimas, mas pecam porque parecem desconhecer que alguns critérios, como a dimensão, a abordagem e o domínio não se nos afiguram estanques, embora os historiadores possam optar por esse tipo de análise, numa perspetiva de estudo mais centrada num tema, como se a construção da(s) História(s) fosse simplesmente uma sucessão de acontecimentos, desagregados entre si, espartilhados por fenómenos exclusivamente naturais, políticos, demográficos, sociais ou outros. Na realidade, parece-nos que a abordagem do autor pressupõe o auto-conhecimento do historiógrafo e a capacidade de consegui ter uma visão alargada, abrangente, de conexões entre todos estes domínios.
Analisemos ainda a questão da polissemia intrinsecamente ligada aos diferentes modos de pensar e de sentir, que atravessam o estudo das “diferentes Histórias” - noções de cultura, de poder, de imaginário, por exemplo, implicam visões e múltiplos significados, para além de noções ambíguas que se prendem com as imagens visuais, verbais ou mentais do historiador.
Se centrarmos a nossa atenção na História Demográfica, é quase óbvio, para todos, que o objeto de estudo será a população, nas suas diferentes variáveis, taxas de natalidade, de mortalidade, crescimento ou declínio populacional, fluxos migratórios. No entanto, conforme vamos analisando métodos estatísticos e os relacionamos com outros aspetos sociais de determinada comunidade, interligamos a História Social. Mas se analisarmos, por exemplo, e mais concretamente, taxas de mortalidade, facilmente ainda se torna mais percetível que, muito para além da História Social, o(s) conceito(s) associados à morte se relacionam com diferentes tipos de mentalidades, o que nos convoca para a ligação a uma História das Mentalidades. Mas esta noção de morte pode ainda estar ligada a fatores económicos – o estudo dos bens aos herdeiros, o valor dos enterros- ao imaginário, relacionado com as expectativas espirituais e os receios de uma determinada comunidade, aos rituais, aos sentimentos e às diferentes representações da morte, ou até ao culto de poder; este estudo mais abrangente da Morte implica, por isso, uma análise demográfica, social, económica e política. E é precisamente neste capítulo que o autor acentua a necessidade de se ser capaz de promover uma análise relacional e de interligação entre todos os objetos de estudo, para não se cair na tentação de abordagens meramente descritivas, mas, acima de tudo, que sejam problematizadas e que apelem a uma reflexão conjugada nos diferentes campos de análise.
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