O Cangaço: A História do Corisco Preto ( Manoel Luiz de Jesus)
Por: Heloísa Carvalho Dos Santos • 14/8/2023 • Resenha • 2.407 Palavras (10 Páginas) • 99 Visualizações
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia
Departamento acadêmico de História
Curso técnico integrado em química
Disciplina História
Cangaço
Heloísa Carvalho dos Santos
Salvador
2023
O Cangaço foi um movimento associado aos bandoleiros que atuavam nos limites do sertão e do agreste armados. Eles cruzavam as fronteiras de outras cidades e estados, no início com a desculpa de “vingança” de família, ou buscando refúgio, para se proteger das perseguições policiais e de outros inimigos. Depois, passaram a utilizar os roubos, saques e extorsões como forma de sobrevivência, para obter ganhos materiais.
O cangaço surgiu por conta do sistema político, econômico e social do Nordeste brasileiro, por conta das dificuldades enfrentadas na agricultura e pecuária, as secas, a falta do poder público, as rivalidades entre famílias, a injustiça dos coronéis, a falta de esperança por dias melhores, entre outras razões. Porém, a história do cangaço ganha maior significado quando em conjunto com as trajetórias individuais dos cangaceiros. Figuras como Antônio Silvino, Sinhô Pereira, e especialmente Virgulino Ferreira, o Lampião.
Lampião entrou no banditismo rural em 1916, percorrendo vários estados brasileiros com seus salteadores. Vivia da violência, roubando fazendas e vilas, fazendo “justiça”, estuprando mulheres, fazendo reféns, etc. Lampião espancava, saqueava, e até matava quem ele não gostava. Ele enganou e venceu as forças policiais tantas vezes e de formas tão estratégicas, que o povo do sertão passou acreditar que ele tinha poderes, se tornando figura de temor e respeito de uma grande região. Tinha fornecedores, informantes e protetores, negociava com autoridades públicas e chefes políticos, e era amigo de pessoas e famílias poderosas. Era muito entrevistado, filmado e se tornou o bandido mais conhecido do Brasil, saindo até em uma manchete nos Estados Unidos.
As pessoas que participaram do cangaço eram muito diversas: ex-escravos, agricultores, criadores de miuças, vaqueiros, comerciantes, artesãos, foragidos da Justiça, desertores do Exército, pistoleiros, negros, brancos, caboclos, entre outros. Muitos se tornavam cangaceiros por conta de injustiças sofridas. O sertão estava dividido entre os policiais e os cangaceiros, então parte da população se alistava à polícia, enquanto outra parte se tornava bandoleira por medo da polícia ou por já ter sofrido nas mãos da polícia, e até mesmo para se vingar de algum crime cometido contra sua família, por um inimigo ou família rival. Porém, a maioria dos cangaceiros eram pessoas que seguiam Lampião porque não tinham nada melhor a fazer, sem esperança de um futuro que não envolvesse trabalhar no campo. Assim, ser cangaceiro passou a ser visto como uma profissão, muitas pessoas entravam no cangaço vendo a possibilidade de ter prestígio e fortuna.
O Cangaço teve seu auge entre os anos de 1900 e 1940. Os ataques às cidades causavam pânico nas populações. Muitas vezes, suspendiam o trabalho, as festas, só de saber que os cangaceiros estavam próximos da cidade. E as autoridades policiais reforçavam a segurança na cidade. As pessoas também ficavam interessadas e curiosas com a presença de Lampião. Eles seguiam pelas cidades saqueando comerciantes, praticando violências e exigindo “contribuições” dos moradores. Outra figura que ficou conhecida foi Manoel Luiz de Jesus, conhecido como Corisco Preto, que se tornou o grande terror das populações sertanejas de Sergipe, pois era extremamente violento e cruel.
Manoel Luiz de Jesus era natural de Frei Paulo, município localizado numa região entre o agreste e o sertão de Sergipe, onde as secas eram frequentes e o solo árduo. Nasceu dia 3 de janeiro de 1897, filho de Manoel Tavares e Clara Maria de Jesus, eram negros, lavradores e de origem humilde.Quando Manoel Luiz tinha apenas 13 anos seu pai foi brutalmente assassinado e seu assassinato ficou impune, assim, ele assume a responsabilidade de trabalhar, junto ao seu irmão, para sustentar sua família.
Não era viciado em drogas ou em álcool, se casou pouco antes de atingir a maioridade e teve duas filhas, uma faleceu aos 7 anos de idade e a outra faleceu após ser infelicitada por um homem casado.
Além do sofrimento pela morte de seus entes queridos, a raiva pela impunidade desses crimes, visto que, a justiça tendia a ser negligente e tendenciosa com casos envolvendo a população pobre, negra e sertaneja despertaram o sentimento de vingança em Manoel Luiz.Ademais, existia um sujeito que passou a persegui-lo, ao tentar as vias legais e nada conseguir, ele resolveu fazer justiça com as próprias mãos. Manoel invadiu a casa do homem e o agrediu fisicamente, neste mesmo dia Corisco havia assaltado o tal sujeito e assim, Manoel Luiz levou a fama de seus feitos.
Corisco era Christiano Golmes da Silva Cleto, um cangaceiro famoso por sua crueldade, em uma ocasião ele e outros cangaceiros seqüestraram um homem e, mesmo após o pagamento do resgate, ele o assassinou e esquartejou, em outra, tirou a pele de um sujeito ainda vivo e arrancou suas mãos fora.
Decidido a entrar na criminalidade, Manoel Luiz se aproveitou da fama de Corisco e se auto-intitulou Corisco Preto, a sua ideia era se associar a um cangaceiro já conhecido e temido. Manoel, seu irmão João Luiz, Andrelino Bispo de Jesus e o ex-soldado João Baptista dos Santos formaram uma quadrilha que realizava furtos, roubos e depredações.
Corisco Preto e seu grupo invadiram casas e extorquiram dinheiro de seus residentes alegando estarem ligados a Lampião. Cabe ressaltar nesse ponto que Lampião dividia seu grupo de cangaceiros em subgrupos autônomos e que operavam em lugares distintos, ele trabalhava como comandante geral, designando serviços aos seus representantes. Porém, não existem evidências que Manoel Luiz e seu grupo tivessem alguma relação com Lampião, ou, que sequer, tenham aderido ao cangaço. Tratava-se uma jogada para capitalizar em cima da fama de Lampião, essa era uma estratégia ousada e arriscada, pois Lampião tendia a ser cruel com impostores.
Como Corisco Preto nunca aderiu de fato ao cangaço, considera-se que ele era apenas um ladrão comum que usava da criminalidade para sobreviver, esse tipo de movimento foi comum durante o período do cangaço.
Manoel Luiz acabou ficando famoso por todo o agreste e o sertão sergipano. A polícia abriu um inquérito e o juiz decretou sua prisão preventiva. A polícia o prendeu e encontrou objetos roubados em sua casa. Ele foi denunciado como chefe de uma quadrilha de malfeitores responsável por inúmeros crimes. Sua entrada na criminalidade pode ser atribuída às condições sociais adversas em que viveu, mas ainda há perguntas sem respostas sobre por que alguns indivíduos se tornam criminosos enquanto outros não, mesmo vivendo nas mesmas condições. A explicação parece estar na interação entre as trajetórias individuais e os contextos sociais em que vivem. É necessário uma abordagem que não seja individualista ou estritamente determinista para entender as escolhas, incertezas e possibilidades humanas em um contexto social.
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