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O Moisés e Monoteísmo

Por:   •  26/4/2020  •  Resenha  •  5.469 Palavras (22 Páginas)  •  277 Visualizações

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Moisés e o Monoteísmo

              O personagem Moisés, fundador do Judaísmo, foi uma das figuras históricas que mais intrigou Freud. Em 1914, ele já havia publicado “Moisés de Michelangelo”, um breve estudo psicanalítico inspirado em detalhes insólitos desta célebre escultura.  

               No início dos anos de 1930, sentindo o futuro da psicanálise ameaçado ao tempo por dentro e pelo avanço do anti-semitismo, Freud começou a examinar as conseqüências de uma hipótese surpreendente, que tinha extraído de suas leituras: Moisés, o fundador do Judaísmo, não era um judeu, mas um egípcio que teria imposto a religião de Aton ao povo hebreu.

         Iniciada em 1934, a obra foi publicada em 1939, alguns meses antes da morte de Freud.

          Moisés e o Monoteísmo constitui não apenas um prolongamento de Totem e Tabu, na medida em que Freud atribui ao assassinato de Moisés pelos hebreus um valor análogo ao assassinato do pai da horda primitiva, mas também do Futuro de uma ilusão, na medida em que vê nesse assassinato a origem longínqua da religião de Cristo, com sua dimensão sacrificial.

        Evidentemente, as teses de Freud eram contestáveis do ponto de vista histórico, o que foi reconhecido pelos próprios comentaristas pós-Freudianos.

         Mas, não vamos minimizar hoje as questões que ele levanta e que não pode deixar de nos intrigar, de nossa parte, tanto no âmbito da religião quanto no âmbito científico.

               Moisés era um nobre egípcio

       Ao atribuir uma origem egípcia a Moisés, liberador e legislador do povo judeu, que o considera o maior de seus filhos, Freud tem plena consciência da audácia de sua tese, “sobretudo quando a gente mesmo pertence a esse povo” (p. 63).  

                 Ele começa se indagando sobre a origem do nome Moisés e apresenta vários argumentos de ordem lingüística em defesa de uma origem egípcia. Freud se apóia também nos trabalhos de Rank, sobretudo tem O Mito do nascimento do herói (1909), e compara o relato do nascimento de Moisés com diversos mitos acerca da origem do herói.  

               Essa aproximação evidencia uma característica comum: o herói geralmente é filho de pais de posição elevada, filho ou filha de rei, e é condenado à morte pelo pai; mas a criança é recolhida e criada por uma família de condição humilde e assim, escapa da morte.

               Na adolescência, o herói se vinga de seu pai e acaba por vencê-lo. No mito de Moisés, ele vem de uma família modesta e é recolhido por um egípcio. Freud acha que na verdade Moisés pertencia a uma família real egípcia, mas para alimentar o mito atribui-se a ele uma família de origem modesta, aquela que abandonou a criança.

          Daí a hipótese de Freud: “... de repente, ficou muito claro para nós que Moisés era um egípcio, provavelmente de posição elevada, cuja lenda transformou em judeu. (...) Enquanto o usual é que um herói se eleve acima de suas origens humildes ao longo de sua vida, a vida de  herói do homem Moisés começou por um rebaixamento; ele desceu de sua altura para se dirigir aos filhos de Israel.” (p.73).

                                Se Moisés foi um egípcio

                               A religião de Athon imposta aos hebreus

        Que motivo pode ter incitado um egípcio de posição elevada a se colocar à frente de estrangeiros emigrados e abandonar seu país com eles?

       Para Freud o que impulsionou Moisés, foi, sem dúvida, o desejo de converter os judeus estabelecidos no Egito à sua própria religião, a religião egípcia, mas não qualquer uma: uma religião monoteísta. Ora, ao longo da História só existira uma, a que foi introduzida pelo Faraó  Akhenaton, que subiu ao trono em 1375 AE. Esse jovem Faraó, afastou os egípcios do culto de Amon, que se tornara poderoso demais, para glorificar o deus Aton, um deus solar.

         Contudo, assinala Freud, Akhenaton não venera o sol como objeto material, mas como símbolo de um ser divino único e universal. Ele deixou Tebas que era dominada por Amon por uma nova residência a que deu o nome de Akhenaton, cujas ruínas foram encontradas em 1887, em um lugar chamado Tell-el-Amarna. Não se sabe que fim levou Akhenaton, salvo que uma revolta de sacerdotes oprimidos restabeleceu o culto de Amon, aboliu a religião de Aton e apagou qualquer vestígio dela.

          Examinando mais de perto, a religião de Aton, Freud destaca vários elementos comuns com a religião judaica, como a exclusão de elementos mágicos, a ausência de representação figurada da pessoa de Athon - a não ser seu símbolo sob a forma de um disco solar de onde saem os raios que acabam em mãos humanas – assim como a renúncia à crença em uma vida depois da morte.

       A esses elementos acrescenta-se a prática da circuncisão, prática tipicamente egípcia e desconhecida de outros povos do Oriente Médio, e foi Moisés quem impôs ao povo judeu. Com esse ritual, segundo Freud, Moisés pretendia marcar uma continuidade com sua origem egípcia: “queria fazer deles um “povo santo” como ainda se diz expressamente no texto bíblico, e em sinal de uma tal santificação ele introduziu entre eles a prática que pelo menos os colocava em igualdade com os egípcios”(p.97).

             O culto de Yahvé: retorno a um deus primitivo

    Na sequência da história do povo hebreu, o relato bíblico diz que em uma determinada época, posterior ao êxodo do Egito, mas anterior à chegada na Terra Prometida, o povo adotou uma nova religião. Ele resolveu venerar o divino Yavhé, um deus de caráter primitivo e assustador próximo dos deuses Baal. Esse episódio marcou uma ruptura de continuidade na transmissão da religião de Moisés.  Mas Freud, explica isso revelando o indício de uma tradição segundo à qual o Moisés egípcio foi assassinado pelos judeus durante uma sublevação do povo recalcitrante, e que a religião egípcia criada por ele foi abolida. Segundo o historiador Ed Sellim (1922), onde Freud encontrou suas fontes, essa tradição teria se tornado o fundamento de todas as esperanças Messiânicas posteriores.

           O culto de Yahvé eclipsado pelo retorno da religião Mosaica

        Fundamentando-se num fenômeno conhecido em Psicanálise como Entstellung (deslocamento, mudança de posição, passagem de um lugar a outro), Freud mostra que o que se tenta negar acaba reaparecendo de uma forma modificada, e ele aplica esse conceito ao reaparecimento da antiga religião de Moisés.

      Moisés teria sido portanto, assassinado pelos seus, e sua morte foi o resultado da rebelião contra a autoridade que ele próprio tinha usado para impor sua fé ao povo. Prova disto é o episódio bíblico da adoração do veado de ouro e da cólera de Moisés que se seguiu a isso. Contudo, observa Freud, o Moisés egípcio tinha dado a uma parte do povo uma representação de deus bem mais elevada do ponto de vista  espiritual do que o deus Yahvé, primitivo e terrificante. De fato, a religião egípcia mosaica proporcionará a seu povo altamente espiritual “(...) a idéia de uma divindade única que abarcava o mundo inteiro, tendo tanto amor por toda criatura quanto onipotência que, inimiga de todo cerimonial e de toda magia, fixava aos homens como objetivo supremo de uma vida de verdade e de justiça”(p.124).

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