A Construção do Novo Mundo
Por: Marcos98lrs • 18/10/2019 • Ensaio • 2.011 Palavras (9 Páginas) • 140 Visualizações
A CONSTRUÇÃO DO NOVO MUNDO
Ao pensarmos na história do Brasil em todos seus períodos – colônia, império e república – tentamos buscar explicações para entendermos o que nos unifica como nação e, além disso, no campo epistemológico, entendermos como nós, seres intelectuais, nos organizamos em sociedade. Em vista disso, nas décadas de 30 e 40 do século passado, no período entre guerras no qual ideologias como a eugenia e superioridade de uma raça se expandia na Europa, autores que hoje são considerados clássicos da historiografia brasileira, Caio Prado Júnior e Sérgio Buarque de Holanda com as obras “Formação do Brasil Contemporâneo” e “Raízes do Brasil” respectivamente, (em companhia de Gilberto Freire com ”Casa Grande e Senzala” que inaugurou um movimento de repensar a sociedade brasileira, porém, neste trabalho utilizarei somente as duas primeiras obras), buscaram compreender a contemporaneidade voltando-se para os primórdios da colonização portuguesa, aquele “organismo social completo e distinto” nos trópicos e até mesmo entender a nação que realizava o processo de exploração, em nosso caso, o reino de Portugal. Assim, reavaliando os povos que compuseram o recém achado continente. Sob as perspectivas desses autores buscarei refletir sobre as bases fundadoras que compunham o pensamento colonial e conseguinte a colônia portuguesa.
Com a modernidade e com o advento de um capitalismo mercantilista a Europa, que até então vivia recolhida, se lança sobre as águas. Sendo Portugal e Espanha beneficiados por sua posição geográfica, colonizando inicialmente a costa africana e posteriormente a América. O que mudaria a vida na Europa sendo, este por assim dizer, a “inauguração da Modernidade, seguido pelo renascimento e as revoluções. Assim tinha início a expansão marítima, a partir daí o Velho Mundo seria remodelado, principalmente no que se refere a gêneros alimentícios originários de suas descobertas e estabelecimentos comerciais. Sendo a colonização portuguesa na América mais um desses empreendimentos comerciais.
A expansão marítima dos países da Europa, depois do séc. XV, expansão de que o descobrimento e a colonização da América constituem o capítulo que particularmente nos interessa aqui, se origina de simples empresas comerciais levadas a efeito pelos navegadores daqueles países.1
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1 PRADO JUNIOR, Caio. Formação do Brasil contemporâneo: colônia. São Paulo: Brasiliense, Brasiliense, c2000. p. 9
Caio Prado Júnior, sendo um escritor de viés marxista, baseia-se no materialismo histórico. Explicando assim a fundação da colônia portuguesa. Já que é conhecido de todos nós a desorganização presente na exploração e na sociedade, visto que essa exploração dos trópicos não se processou, em verdade, por um empreendimento metódico e racional, não emanou de uma vontade construtora e energética: fez-se antes com desleixo e abandono.2
Desleixo e abandono representam bem a colonização portuguesa, a qual Sérgio Buarque de Holanda compara com a colonização hispânica no capítulo “O semeador e o ladrilhador” este último remete-se ao colonizador espanhol pois ele maneja o espaço em que se encontra inserido. Já ao português se refere como semeador, em razão do seu descuido com a colônia. Isso se explica pelo fato das explorações, hispânica e portuguesa, se efetuarem de formas diferentes pois se
Comparado ao dos castelhanos em suas conquistas, o esforço dos portugueses distingue-se principalmente pela predominância de seu caráter de exploração comercial, repetindo assim o exemplo da colonização na Antiguidade, sobre tudo da fenícia e da grega; os castelhanos, ao contrário, querem fazer do país ocupado um prolongamento orgânico do seu.3
Esse desmazelo ao gerenciar a colônia se dá pelo momento mercantilista no qual o objetivo é fornecer produtos para uma Europa desprovida de recursos. Inicialmente os recursos agrários, ou seja tudo o que a terra oferece, foram o foco do reino português que se fixou predominantemente no litoral ao contrário da castelhana que parece fugir deliberadamente da marinha preferindo às terras do interior e os planaltos.4 Para controlar este comércio que já contava com o trabalho forçado dos indígenas ou por meio do escambo para extração de madeira, Porém, Sérgio Buarque de Holanda destaca frisa que
Verificou-se, frustradas as primeiras tentativas de emprego do braço indígena, que o recurso mais fácil estaria na introdução de escravos africanos. (...) Os antigos moradores da terra foram, eventualmente, prestimosos colaboradores na indústria extrativa, na caça, na pesca em determinados ofícios mecânicos e na criação de gado.5
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2 HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. 26 ed., 35. reimpr. São Paulo: Companhia das Letras, 2011. p. 43
3 IBIDEM p. 98
4 IBIDEM p. 99
5 IBIDEM p. 48
Com o aumento da exploração Portugal adere a instalações de feitorias, porém este recurso se tornou limitado sendo preciso ampliar estas bases, criar um povoamento capaz de abastecer e manter as feitorias que se fundassem e organizar a produção dos gêneros que interessassem seu comércio.6 Surgindo por esse motivo a necessidade de povoar a terra, pensamento inexistente no início da exploração. Visto que doravante se encontraria ouro nas minas no interior do continente.
Entretanto, Portugal não possuía contingente humano suficiente para entrar nesta empreitada, visto que o pequeno reino mantinha um império em alto mar, além disso, toda Europa se recuperava da avassaladora peste negra. Apesar disso Caio Prado destaca a capacidade miscigenação do português em virtude do repertório de colonização – Cabo Verde, Madeira, Açores – e do próprio contato com os mouros em seu reino. Todavia, a Europa se encontrava em turbulências com reformas religiosas e políticas sendo todo resíduo despejado na América por mais de dois séculos.7 Assim, para povoar a nova terra a miscigenação aconteceu. Unindo três povos o quais se converteriam em um indivíduo miscigenado. Este é visto por Caio Prado como fruto dos interesses econômicos e para Holanda ele será o responsável pela interiorização do continente.
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