A História Unilateral

O que parece inquestionável

Ao longo de sua vida, o ser humano é exposto a uma série de acontecimentos e princípios que ele absorve, e na maioria das vezes, toma para si como verdades incontestáveis. São padrões estabelecidos por uma determinada comunidade, ou até paradigmas que atravessam continentes, impondo através de visões limitadas de mundo, um modelo de sociedade ideal.

Toda história, possui no mínimo dois lados, porém conhece-los não garante a compreensão de toda a verdade. A verdade é complexa e mutável. Ela compreende pontos de vista, interpretação, e acima de tudo criticidade. Por isso, aceitar uma história unilateral- seja aquela contada de geração a geração através da oralidade, seja a perspectiva difundida pela mídia- sem ao menos buscar conhecer a autenticidade dessas informações, é formar uma concepção errônea do que se supõe ser conhecido.

A criação de estereótipos fixa ideias de mundo que são a base para um determinado preconceito, que acaba por se alicerçar na sociedade, ultrapassando as barreiras do tempo. Se ao longo da história algumas pessoas não tivessem repensado suas convicções, nunca teriam descoberto que a mulher no volante não é perigo constante, e que a fragilidade é relativa e não uma característica feminina. Que os índios não são apenas pessoas agressivas e sem cultura como pregava a união Ibérica, os gays e lésbicas não são todos aidéticos, o negro não nasceu para ser escravizado, assim como nem todo português é inepto, e que um país não se resume apenas em um estilo de música, dança, modalidade de esporte, ou ainda em seu estado mais famoso.

O mundo é formado por pessoas de etnias, crenças, estilos, e ideais diferentes, que de forma alguma podem ser generalizadas e vistas como um “pacote” de características comuns. Nada, nem ninguém é formado apenas por um atributo, mas sim de contradições, paradoxos e emaranhados de qualidades e defeitos.

Mesmo, que seja tão atrativo assimilar as ideias prontas e “vendidas” para o público, de maneira constante - principalmente por aqueles influentes que visam consolidar ou conservar um sistema definido - e deixar se levar pelo fluxo da maioria, isso não é saudável, tanto para o receptor, que acaba por se privar de conhecimento, quanto para a cultura e História completa do objeto de que se discute, que vai sendo gradativamente destruídas pelo tempo.

Logo, antes da formação de julgamentos precipitados, moralistas e preconceituosos, as pessoas precisam aprender a serem críticas, formadoras de opiniões embasadas no que é lógico e concreto, e não simplesmente, estabelecerem juízos de valor fundamentado no achismo ou no que diz uma e outra emissora de TV. Pois então, só se pode escolher um lado, apontar o correto, classificar a sociedade, quando se tiver toda a instrução sobre o assunto, até lá, a História continuará sendo um enigma, enigma esse que nunca terá apenas um lado.