A MANILHA E O LIBAMBO
Por: Fernanda Ribeiro • 7/11/2018 • Resenha • 2.098 Palavras (9 Páginas) • 1.316 Visualizações
A MANILHA E O LIBAMBO
O texto de Alberto Costa e silva inicia-se com base em um pensamento relacionado ao inicio da escravidão de karl Jacoby. Jacoby afirma que assim como os animais foram domesticados, o mesmo teria sucedido com a escravização na África, sendo os animais o modelo de domínio e submissão. Por mais convencível aos olhares humanos, Costa e Silva propôs justamente o contrario. Ele quis dizer que os animais foram futuramente domesticados em função do modelo escravista, e que o único animal que era domesticado pelos africanos da época foi a galinha-d’angola, tendo por certo que segundo ele o “homem pôs a corda no pescoço de outro homem e o fez trabalhar para ele muito antes de colocar um animal”. (Pg. 79).
Assim como os animais se fizeram escravos (onde os animais na busca por comida, comiam os restos de comida, próximas às aldeias para sobreviverem), os homens se tornaram submissos a outros homens em muitos casos por razões de sobrevivência. Muitas dessas eram mulheres e crianças que sobreviviam aos conflitos e se juntavam aos inimigos para sobreviverem, reduzindo-se a servidão.
Costa e Silva analisa o fato da escravidão na maioria dos países africanos como um fenômeno econômico. Muitas destas escravizações foram realizadas para fortalecer o comercio africano, e como a maioria de seus trabalhos eram de caráter braçal, necessitava de muitas pessoas parauma produção cada vez maior, então houve um crescente numero de escravidão devido a ambição de comerciantes em aumentar suas receitas. Mas a escravidão nãos era somente para o uso nas plantações, muitos destes escravos trabalhavam no caso das mulheres como domesticas outros como eunucos, e ainda outros que recebiam cargos elevados de seus senhores. Os escravos eram multifuncionais.
Com o passar dos anos, a divisão de escravos negros e brancos, criou uma espécie de racismo para com os negros, que eram desprezados, enquanto os brancos eram privilegiados. Nas divisões dos exércitos, os manuais de avaliação de temperamento dos cativos e mesmo as diferenças na emasculação de soldados: os eunucos brancos tinham apenas o saco escrotal extirpado, enquanto os negros eram decepados rente ao abdômen.
Costa e Silva explica que os que defendem a tese de que o comercio de escravos à distancia foi responsável pelas transformações que sofreu a África a escravidão lembra que p escravismo em grande escala se verificou sobretudo em sociedades ligadas ao tráfico transaariano e, mais tarde, os transatlântico. Ou a ambos. E apresentam exemplos de povos que sequer conheciam a escravatura, mas acabaram por adota-la, por pressão externa, como os diolas da Casamansa, que só se fizeram senhores de escravos no decorrer do século XIX. Não obstante, é possível argumentar que o desenvolvimento daescravidão na Etiópia e Núbia tenha sido por estimulo as transações com seres humanos (mulheres, rapazes e eunucos).
Seja como for, o que é certo afirmar é que na África os instrumentos de trabalho eram muito primitivos, logo, era mais rico aquele que conseguisse multiplicar o número de homens e mulheres sob seu comando. Era a posso do trabalho do outro que garantia a expansão das riquezas. Com isso pode- se concluir que, o mais poderoso é aquele que tivesse o maior número de homens e mulheres e armas. Essa foi a situação que os europeus encontraram na África. Eles não criaram um novo comercio de escravos, uma nova formula de captura, mas apenas se aproveitaram de um estado que era natural entre os africanos. Como diz o autor, os escravos eram disputados por pelo menos três grandes mercados: o mercado local, o inter-regional e o oceânico ou indico. Incluindo o mar vermelho.
Uma afirmação errada da escravidão na África, é que os europeus chegaram na África e fizeram todos os nativos escravos, pelo contrario, já haviam escravos neste período, não era muito fácil comercializa-los. Os europeus e seus pressupostos tinham de apresentar-se com as melhores condições de compra do que as que já eram feitas pelas comerciantes muçulmanos. Tanto eles quanto os islamitas tinham que propor aos régulos, chefes e homens poderosos da terra compensações muito atrativas para convencê-los a sedesfazerem de um escravo, no qual se media riqueza e o poder.
Outra pesquisa feita por Costa e silva, mostra que nos séculos VXI XVII, uma grande parte dos cativos feitos por guerras, razias, por captura, e por sentenças penais nãos eram vendidos, mais ficava mesmo como escravos na África. Os donos dos escravos dificilmente se alienavam, guardando os seus melhores e mais adaptáveis, de preferencia jovens e crianças. Os homens eram mais abertos a venda que mulheres, por que estas, além de gerarem mais gente para o grupo, podiam ser mais produtivas na agricultura, tecelã e olearia.
Das guerras muitos dos cativos eram vendidos eram afastados de suas comunidades ocasionando a “morte social”, onde os cativos são totalmente afastados das suas origens familiares, culturais e religiosas. No caso de venda, os escravos eram trocados por cavalos, armas e objetos de prestigio. Com a expansão do comercio atlântico os números de escravos aumentaram drasticamente, o que não era comum no período anterior a essa expansão.
MANILHA
Manilha é uma braçadeira ou tornozeleira, geralmente de cobre ou ferro, prata e ouro, que era utilizada como moeda na África antes da chegada dos europeus e que foi copiada pelos colonizadores.
LIBAMBO
Libambo significa uma corrente que era atada ao pescoço dos negros cativos, geralmente utilizada nos deslocamentos, e não raro também unida às mãos já atadas.
Manilha é uma braçadeira ou tornozeleira, geralmente de cobre ou ferro, prata e ouro, que era utilizada como moeda na África antes da chegada dos europeus e que foi copiada pelos colonizadores. Já libambo significa uma corrente que era atada ao pescoço dos negros cativos, geralmente utilizada nos deslocamentos, e não raro também unida às mãos já atadas.
Com a manilha e o libambo, Alberto da Costa e Silva criou uma metáfora para explicar num extenso ensaio o que foi a África colonial: a escravidão sustentando o desenvolvimento de uma economia que, descoberta e explorada pelos europeus, expandiu-se e serviu para acelerar o crescimento de outras regiões do mundo, especialmente do Brasil, cuja história é inseparável da história africana.
Com este volume de "A manilha e o libambo: a África e a escravidão, de 1500 a 1700", de mais de mil páginas, Costa e Silva, autor de "A enxada e a lança: a África antes dos portugueses" (1992) e de "As relações entre o Brasil e a África Negra, de 1822 à I Guerra Mundial" (1996), retoma um tema que o consagrou como historiador e africanólogo.
De início, vira do avesso um argumento de Karl Jacoby - repetido mais recentemente por David Brion Davis- de que a domesticação de ovelhas, cabras, porcos, bois, cavalos e outros animais, durante o Neolítico, teria servido de modelo para a escravidão de seres humanos. E propõe o inverso: que a experiência de escravizar homens tenha sido aplicada na domesticação dos animais, sem recusar que os dois processos, em algumas culturas, tenham andado de mãos dadas. Para o autor, é mais provável que o homem tenha colocado a corda no pescoço de outro homem e o fez trabalhar para si muito antes de colocar um animal a seu serviço, exceto talvez o cão.
Desde as raízes no Egito faraônico, passando pela Grécia antiga e alastrando-se com a expansão do Islã, que carecia de mão-de-obra e via na prática uma maneira legítima de expiar a culpa dos ímpios, a escravidão é analisada por Costa e Silva como um fenômeno econômico que, posteriormente, derivou em ações de discriminação racial. Na sua longa e bem fundamentada pesquisa, ele deixa isso claro recorrendo a relatos de divisões negras dos exércitos, aos manuais de avaliação de temperamento dos cativos e mesmo às diferenças na emasculação de soldados: os eunucos brancos tinham apenas o saco escrotal extirpado, enquanto os negros eram decepados rente aoabdômen.
Costa e Silva explica que os que defendem a tese de que o comércio de escravos à distância foi responsável pelas transformações que sofreu na África a escravidão lembram que o escravismo em grande escala se verificou sobretudo em sociedades ligadas ao tráfico transaariano e, mais tarde, ao transatlântico. Ou a ambos. E apresentam exemplos de povos que sequer conheciam a escravatura, mas acabaram por adotá-la, por pressão externa, como os diolas da Casamansa, que só se fizeram senhores de escravos no decorrer do século XIX.
Para Costa e Silva, é possível argumentar que o desenvolvimento da escravidão na Etiópia e na Núbia tenha tido por estímulo as transações com seres humanos - mulheres, rapazolas e eunucos - que, desde tempos imemoriais, se faziam pelo mar Vermelho e a descer o Nilo. Mas, retruca, é possível também sustentar que foi em Axum e na Núbia que a Arábia recolheu incentivos para ampliar o uso de escravos.
Fosse como fosse, o certo é que, na África de terras extensas e dotada de instrumentos de trabalho muito rudimentares, era mais rico quem conseguisse multiplicar o número de homens e mulheres sob suas ordens. Era a posse do trabalho de outrem que garantiaa expansão das riquezas. E era mais poderoso quem tivesse sob suas ordens grande quantidade de homens e armas.
Foi essa situação que os europeus encontraram na África. Não inventaram o comércio de escravos, mas só se aproveitaram de um estado de coisas que vinha de tempos remotos. Como explica o autor, os escravos eram disputados por pelo menos três grandes mercados: o local, o inter-regional e o oceânico, fosse atlântico ou índico, neste se incluindo o mar Vermelho.
Por quase toda a parte, os europeus e seus prepostos tinham de apresentar-se com as melhores condições de compra do que as vigentes nas feiras vizinhas e do que as oferecidas pelos mercadores muçulmanos. Tantos eles quanto os islamitas tinham de propor aos régulos, chefes e homens fortes da terra compensações suficientemente atrativas para convencê-los a se desfazerem de um bem pelo qual se media a riqueza e o poder.
Segundo as pesquisas de Costa e Silva, nos séculos XVI e XVII, a maior parte dos cativos produzidos pelas guerras, pelas razias, pelos seqüestros e pelas sentenças penais não era vendida às cáfilas nem às caravelas, mas ficava mesmo como escravo na África. Os chefes não se alienavam senão de umafração, embora grande, conservando os que se tinham por melhores ou mais adaptáveis. Entre guardar jovens adultos ou crianças, estas eram preferidas porque mais fáceis de se incorporarem à comunidade. Preferia-se vender um homem a uma mulher, porque esta, além de gerar mais gente para o grupo, podia ser mais produtiva como agricultora, oleira ou tecelã.
Ler este livro de Costa e Silva é desfazer um sem número de mitos e preconceitos em relação à escravidão. É saber, por exemplo, que, embora importante para as elites de algumas comunidades, o comércio de gente não representava mais do que uma parcela ínfima das economias africanas. E que o africano, sempre que pôde, impediu que os europeus chegassem às fontes de suas riquezas - às minas de ouro e de cobre, por exemplo - ou controlassem um pouco que fosse das produções da terra.
Com as exceções em Angola, no Cabo da Boa Esperança e em Moçambique, ele não permitiu que, descidos em terra, os brancos fechassem espaços para suas plantações ou saíssem a pastorear gado. Até mesmo num enclave como o de Luanda, com os estabelecimentos que dela dependiam, diz o autor, seria necessário distinguir entre o poder nominal português e a hegemonia realafricana. Eram os africanos que controlavam as feiras no interior e a circulação das mulheres, que comandavam os rios e os caminhos do sertão e que regulavam os preços e o comércio. Eram as suas moedas que movimentavam as trocas, e não as de Portugal, que quase sempre tiveram de ser impostas à força.
A prosa rica e o estilo conciso e elegante deste livro, em meio a citações em abundância, têm uma razão: Alberto da Costa e Silva é também um fino poeta, um artesão do verso. Servem de complemento para uma obra atualíssima que, desde já, merece lugar cativo nas estantes dos historiadores da escravidão. Embaixador do Brasil em Portugal de 1986 a 1990, na República de Benim e na Nigéria, o autor serviu na África em várias oportunidades, o que, a par da sabedoria livresca, lhe deu o conhecimento da terra e dos costumes de um continente tão múltiplo. Tudo isso nos permite considerá-lo, hoje, sem dúvida, o maior africanólogo da Língua Portuguesa, embora afirmações categóricas não sejam caminhos de convicção mas de polêmica. Deste seu antológico e exemplar livro, porém, para se repetir o que Agostinho da Silva disse da obra anterior, pode-se afirmar que é a continuação da “bíblia da terra”.
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