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A megera domada

Por:   •  1/12/2015  •  Resenha  •  1.757 Palavras (8 Páginas)  •  1.616 Visualizações

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NOMES

Lucas Lasalvia Balderrama*

Lívia de Brito Arruda*

Jéssica Silva Mendes*

Renato Ehlers Rodrigues​

A MEGERA DOMADA

INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como objetivo analisar a obra “A Megera Domada” de William Shakespeare. Tal análise será feita levando em consideração dois temas que se fazem bastante presentes, tanto na obra, quanto no curso: o casamento, como instituição e o desenvolvimento da figura da mulher que, em Shakespeare se apresenta como o que seria a mulher ideal e a mulher megera. É importante ressaltar, ainda, que as discussões apresentadas foram baseadas na bibliografia do curso e nas discussões feitas em sala.

CONCEITO DE MULHER IDEAL E OBEDIÊNCIA

As mulheres, desde a antiguidade, foram subjugadas e colocadas como inferiores aos homens, os quais ditavam as regras, apoiados em estruturas de poder, inclusive religiosas. A obra A Megera Domada não está desligada desta realidade e acaba tendo como foco a “superioridade” masculina e suas formas de controle, além de tratar da submissão feminina, dentro do conceito de “mulher ideal”.

Catarina e Bianca são irmãs e as personagens femininas principais. Shakespeare usou-as para estabelecer, primeiramente, os extremos de comportamento que as mulheres poderiam ter: Bianca sendo a doce e amável, suas características são descritas como “[...] timidez e a reserva de uma doce virgem”[1] e Catarina, como a própria lista de personagens diz, é a megera e “Seu único defeito (e bastante grave) consiste em ser intoleravelmente brusca, irritada e voluntariosa” [2]. Porém, a questão mostrada vai além de personalidade, implicando num dever da mulher para com o homem: sua obediência. Essa característica era importante, pois, por serem as mulheres inferiores e “viciosas” e os homens superiores e mais sábios, elas precisam sempre de um tutor masculino que delas cuidem e a obediência feminina é essencial para que isso se cumpra.

Levando em consideração as definições, a palavra usada no português para definir Catarina, megera, tem relação com uma das três fúrias da mitologia grega, homônima, que personifica o rancor, a inveja, a cobiça e o ciúme e castiga principalmente os delitos contra o matrimônio[3]. Já a palavra usada originalmente na obra, shrew, não tem relação com uma das fúrias, mas possui uma longa lista de sinônimos, os quais em sua maioria possuem conotação negativa sobre as mulheres[4]. Só por essa definição, já podemos classificar que ser uma megera era algo muito faltoso para com a sociedade da época e uma atitude que deveria ser mudada, pois, como Hortênsio diz, “Não haverá pretendentes para vós, enquanto não fordes mais amável e doce.” [5], pois o amor de uma mulher era a reverência e o do homem era a estima, ou seja, ele deveria regrar sua esposa e aquela deveria obedecer. O amor era, na verdade, a relação entre tutor e tutorada e, quando se fugia disso, não poderia haver amor e casamento; tal como aconteceria com uma megera, pois, não aceitando as ordens e mostrando ser independente da presença do homem, estaria contestando a superioridade masculina, o que era fundamental para essa relação.

CASAMENTO

Antes de tudo, o casamento na obra é visto como um contrato, pois além de alterar juridicamente as partes envolvidas, compreende circunstâncias que se sobrepõem à esfera do afeto, como por exemplo o pagamento de um dote ou a instituição de uma união entre famílias. Esse caráter se confirma quando Petruchio, a fim de tratar com Batista do casamento com Catarina, declara: “Redigiremos, pois, as cláusulas do contrato, a fim de que nossas estipulações sejam observadas” [6]. A legitimização desse acordo é feita pela igreja, que produz as certidões, e uma vez efetuado é indissolúvel, como pode ser visto no casamento das personagens Lucêncio e Bianca e também na interpretação que Philippe Ariès[7] faz do sacramento no período em que a obra de Shakespeare foi supostamente escrita.

Sendo este então um contrato, envolve negociações a fim de garantir as vantagens dos dois lados, podendo ser essas políticas, sociais ou econômicas. Nos dois casamentos retratados em Megera Domada, as exigências se concentram no âmbito econômico, mais precisamente no dote e seu potencial de multiplicador de patrimônio. A própria estratégia adotada por Batista, casar Bianca somente após casar Catarina, poder ser vista sobre esse viés, pois sendo a única maneira que ele encontrou para que as duas filhas casassem, garantiria que ambas tivessem herança em caso de viuvez.

Visto isso, é possível fazer um paralelo entre a visão que Ariès faz da ambição no renascimento e os personagens masculinos de famílias abastadas da obra. O historiador francês define que: “A ambição era considerada um valor. Ninguém devia contentar-se com sua condição, e, ao contrário, devia-se sempre pensar em elevá-la.” [8] e ainda acrescenta: “Para obtê-los, um homem deveria ousar mão mesmo de riquezas iníquas, e não deveria hesitar em dissimular efeitos e simular qualidades” [9]. Tais valores permeiam a maioria das ações que tomam esses personagens, tanto quando Lucêncio e Trânio invertem de papéis para que o primeiro conquistasse Bianca, quanto Petruchio utiliza de táticas cruéis para buscar domar Catarina. O que mais chama atenção é que, por atingirem seus objetivos, esses artifícios não são condenados, e sim exaltados por sua engenhosidade.

 Além disso, a temática do capítulo “O Amor no Casamento” do livro “Sexualidade Ocidentais”, em que o autor discute a separação entre amor conjugal e amor passional pode ser relacionada com a obra de Shakespeare. A maioria das expectativas que as personagens fazem do casamento se restringem ao amor conjugal, dentro do qual espera-se da mulher reserva moral e obediência e cabe ao homem amar com discernimento e não com paixão[10]. A única personagem que demonstra alguma resistência a esse tipo de amor é Catarina, a qual parece tender mais para um amor passional e por isso é duramente repreendida e classificada como megera.

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