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ESTRUTURALISMO ALTHUSSERIANO

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Por:   •  18/9/2014  •  6.767 Palavras (28 Páginas)  •  350 Visualizações

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O marxismo althusseriano e as bases do Estado burguês no Brasil

O cientista político Décio Saes é autor de uma obra que combina rigor teórico em elevado nível de abstração, frequentemente apoiado na pesquisa histórica, com a investigação de temas centrais da formação social brasileira – sobretudo na passagem do escravismo para o capitalismo. Concentrando-se no estudo teórico do Estado e da democracia, foi um dos principais responsáveis pela manutenção do Estado como objeto central da Ciência Política brasileira, sobretudo quando o liberalismo buscava questionar a centralidade do seu estatuto teórico.

Articulando ainda a análise dos fenômenos políticos com uma marcante perspectiva sociológica, especialmente voltada para o estudo das classes e dos grupos sociais. Para isso, não apenas apoiou-se na contribuição de Nicos Poulantzas, como promoveu uma reinterpretação original das teses do marxismo althusseriano, sobretudo as relativas à teoria da história.

O resultado foi a abertura de novas possibilidades para uma análise articulada e coerente da formação social brasileira em seus diferentes momentos históricos. Além disso, como intelectual engajado, Décio Saes tem elaborado análises conjunturais fecundas como mostra, por exemplo, o artigo sobre o governo FHC. Mais recentemente, Décio Saes, sem abandonar os estudos de Ciência Política e sobre o materialismo histórico, dedicou-se à análise crítica do tema da cidadania e da educação.

Concedida a Marcelo Lira Silva, a entrevista abaixo foi publicada originalmente naRevista Aurora, nº 2, páginas 19-32, jan-jul, 2013.

Revista Aurora: Gostaria de pedir ao professor que falasse um pouco sobre sua trajetória pessoal e intelectual.

Décio Saes: Eu nasci em São Paulo em 1942, minha família faz parte da classe média tradicional, de formação universitária; uma família de muitos professores. Terminei os meus estudos iniciais e logo busquei a Universidade de São Paulo (USP); a época, essa era a grande opção para a classe média universitária. Minha opção foi o curso de direito, mas depois, tendo terminado tais estudos, não me animei com a perspectiva de militar na área jurídica. Então, acabei fazendo o curso de Ciências Sociais também na USP. Após terminá-lo, fui contratado pela Unicamp, primeiro como professor de Sociologia, posteriormente de Ciência Política.

Naquela época, em 1969, a Pós Graduação não estava implantada nos termos atuais no Brasil. Desta forma, para fazer a pós-graduação com carga horária, grade curricular, professores e orientador, era necessário ir para o exterior. Assim, resolvi fazer meu doutorado na França. O mestrado foi feito no regime antigo (que não implicava fazer cursos ou disciplinas); nele, eu falava sobre a Classe Média – que virou um tema recorrente na minha carreira. Na França defendi minha tese também sobre a Classe Média Política, tendo sido orientado pelo Professor Alain Touraine, que está aposentado, mas militando ainda. Passei três anos nestes estudos, voltando então ao Brasil. Fiz minha carreira por 30 anos na Unicamp (como professor de ciência política), passando por todas as etapas do percurso universitário: concursos de livre docência, adjunção e titularidade. Nesse período, acumulei funções por certo tempo na Unicamp, como professor de Ciência Política, e na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), na USP, como professor de Sociologia Urbana. Após este período, voltei a ser professor exclusivo da Unicamp e encerrei minha carreira na Universidade Pública em 1998. Depois disso, fui contratado como pesquisador pela Reitoria da Universidade de São Paulo e fiz um estágio no Instituto de Estudos Avançados, onde realizei pesquisas sobre a evolução da cidadania no Brasil. Depois desse período de dois anos, prestei concurso no ensino privado, tornando-me professor de sociologia da educação na Universidade Metodista de São Paulo, localizada em São Bernardo do Campo, e Professor de Ciência Política na Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado. No momento, continuo atuando na UMESP. Meus principais trabalhos são os livros: Classe Média e Política na Primeira República Brasileira; Classe média e Sistema Político no Brasil; A Formação do Estado Burguês no Brasil; Estado e Democracia – Ensaios Teóricos; Democracia; e República do Capital.

Revista Aurora:Como foi ser estudante universitário e depois docente neste período tão agitado da história do Brasil?

Décio Saes: Na verdade, neste período eu consegui me subtrair pessoalmente aos efeitos mais dramáticos da conjuntura política. No período mais turbulento foi o que se estende de janeiro de (1969 até início do ano de 1974: ou seja, o período Médici). Ora, no segundo semestre de 1971, saí para o exterior para fazer o doutorado. Quando voltei já tinha se iniciado a abertura.

O período anterior do regime militar (1964 - 1968) como já foi reconhecido por muitos sociólogos, foi um período de muita agitação cultural. A primeira fase do regime militar foi um período em que o regime político era mais “flexível”. A agitação cultural e a efervescência cultural aumentaram muito no Brasil naquele período por força da classe média, mas também pelo que grassava no mundo desenvolvido. Foi o período das grandes revoluções estudantis

no campus da Califórnia, em Paris, na Itália, na Alemanha e assim por diante. Então, foi um período brilhante da vida cultural brasileira, não obstante a presença do regime militar.

Quando voltei da França, já estávamos em um período em que os constrangimentos já eram bem inferiores; já estava havendo uma liberalização inclusive na própria vida universitária. A Universidade sofreu as conseqüências da instauração do regime autoritário por um período relativamente curto. Assim, a despeito de muitos intelectuais terem sido aposentados, ou ido para o exílio, mesmo que alguns deles não tenham voltado, a universidade conseguiu rapidamente se recompor, de tal modo que não chegou a uma situação de ruína absoluta como aconteceu em outros casos de regime autoritário. Com isso, não estou querendo louvar as “virtudes” do regime militar, mas querendo dizer que , na minha avaliação pessoal, o conjunto da categoria universitária foi “relativamente poupado” de uma repressão mais violenta que teria levado à total ruína a vida acadêmica no Brasil. A minha experiência , nesse terreno , é uma experiência relativamente tênue. O que realmente a universidade sofreu (de certa maneira, indiretamente) foi a perseguição aos intelectuais

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