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História no Mundo Medieval

Por:   •  11/3/2018  •  Seminário  •  60.102 Palavras (241 Páginas)  •  279 Visualizações

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Departamento de História.

Centro de Humanidades II – Universidade Federal do Ceará

Avaliação de História Medieval - 2017.2

Nome: Pedro Douglas Alves Cavalcante

Professor: Drº Pedro Airton Queiroz Lima

1 QUESTÃO

Ao adentrarmos no debate que se diz respeito ao comércio no período denominado – de forma genérica – Idade Média, logo nos remete que e a economia juntamente com outras atividades comerciais desse período estava restritas ao campesinato dos feudos, o que de certa forma, torna o debate simplista, visto que essa concepção de Idade Média já foi demolida por pesquisadores que estudam esse campo com rigor científico. Autores como Jacques Le Goff, por exemplo, em sua obra ‘’A Civilização do Ocidente Medieval’’ se desapega de toda e qualquer linha cronológica bem definida, como já era de se esperar de um membro da Escola dos Annales, o livro possui uma narrativa direcionada para os grandes acontecimentos da época, foca em vários aspectos políticos, religiosos, sociais e econômicos do Ocidente Medieval. Logo no Capítulo I do livro, intitulado A Instalação dos Bárbaros, o autor na introdução do capítulo discorre bem rapidamente de aspectos estruturais, conjunturais e econômicos da Roma, antes da instalação dos bárbaros no Império. ‘’O Ocidente Medieval nasceu sobre as ruínas do mundo romano. Nelas encontrou, ao mesmo tempo, apoios e desvantagens. Roma foi o seu alimento e foi sua paralisia. ’’ A partir dessa afirmativa do autor, podemos discorrer que o Império Romano, no seu auge, se desdobrou por grande parte do território que chamamos hoje de Europa, porém era conservador. Nenhum povo foi mais conservador que os romanos. O autor problematiza a grande crise do século III, que retardou e esclerosou a unidade do mundo, e uma faz uma análise da formação de uma nova ordem, de um novo modo de organização do Ocidente. A cidade de Roma conquistou uma grande extensão em nível territorial, para além dos limites do que entendemos hoje em dia como Ocidente, porém no século I depois de Cristo, parou de avançar, para assim criar uma medida de segurança, uma muralha que em seu interior havia um imobilismo termo usado pelo próprio Jacques Le Goff, para designar o conservadorismo do povo romano. Apesar desse imobilismo, Jacques Le Goff vai mostrar ao longo do texto que após a quebra dos grilhões do conservadorismo do Império Romano, a Europa conseguiu se reinventar no que se diz respeito às técnicas, que foram vistas como inovações de acordo com aquela época.

Jacques Le Goff, vai também ao longo do seu texto, discorrer sobre a importância do comércio naval para o Império Romano naquele momento, nos lugares onde o comércio terrestre não poderia atravessar, a única alternativa viável seria as estradas fluviais ou seja, os rios, tais como Jacques Le Goff vai chamar de estradas naturais, a partir disso ocorrerá uma grande reorganização dos mapas e das artérias fluviais da anêmica rede de circulação da Alta Idade Média assim como afirma Jean Dhondt.

A circulação de comércio pelas fluviais do Mediterrâneo se configurou como uma rede de comércio importante era transportado produtos de necessidade primária, como o sal, azeite, e objetos preciosos (tecidos caros e especiarias).

O historiador belga Henri Pirenne ainda continua sendo um clássico nos estudos medievalistas, mesmo que suas ideias, expostas com bastante criticidade em seus textos, hoje em dia, já seja alvo de bastante críticas de outros medievalistas as suas concepção sobre o que foi o período designado Idade Média, ainda continuam vivas em nossas mentalidades. Henri Pirenne faz um contraponto à visão ‘’consagrada’’ que a civilização bárbara possui ao longo da História Ocidental. Para dar uma breve contextualização, Pirenne foi um dos únicos historiadores medievalistas à sua época que tratou a questão comercial como um elemento importante para o aspecto urbano das cidades medievais. O autor endossa a ideia de que a Idade Média teve o seu inicio quando o Império Romano caiu, uma vez que, na concepção do autor, os povos bárbaros não o destruíram, mas sim, se romanizaram. Em seu texto ‘’Maomé e Carlos Magno’’ Pirenne inicia exaltando o Império Romano, através das suas características geográficas, dentre elas, está o Mediterrâneo, ou mare nostrum [que foi quebrado logo após a ascensão de Maomé] como está destacado no texto. Ele diz que as províncias do Norte, a Bélgica, a Bretanha, a Récia e a Nórica são apenas barreiras/muralhas que impedem as invasões bárbaras. No texto consta que o Império Romano, em seu processo civilizatório contou com a construção e o de diversos povos dentre eles está egípcios, sírios e até gregos, em consequência disso, a vida social, econômica, religião, costume e ideias se mesclavam com o desaparecimento da navegação marítima as cidades caiam em ruínas, pois com a navegação no Mediterrâneo o Ocidente é abastecido pelas mercadorias (vinhos, tecidos de luxo, artigos de luxo, etc) que advém do Oriente, e era com o comércio naval que a economia era aquecida. Como defende Jacques Le Goff, o autor vai afirmar que a navegação não conseguirá atingir as demais províncias causando a substituição de uma economia urbana por uma rural. Os invasores muçulmanos usaram como uma estratégia a interdição do Mar Mediterrâneo, dessa forma, convertendo as relações comerciais que a Europa possuía em redução de sua riqueza, e surgimento de feudos, esse fenômeno propiciou muito a confrontação de cristãos e muçulmanos. Na concepção de Pirenne somente com a evolução comércio nos séculos posteriores e com o crescimento embrionário da burguesia no século XI é que haveria o ascensão e o desenvolvimento das cidades urbanas. Na concepção de Jacques Le Goff, por exemplo, esse período não é marcado por uma grande recessão econômica e muito menos de afastamento da economia, mas sim circunscrito dentro de uma denonimação que ele conceitua como Renascimento Carolíngio, a partir dessa afirmativa ele vai conceber esse período como uma grande marca de progresso e crescimento na Idade Média, esse é o contraponto com Pirenne.

Jacques Heers, assim como Jacques Le Goff, também é francês e medievalista. Na sua obra intitulada como História Medieval, ele vai analisar de forma bem minuciosa alguns pontos do período que chamamos de ‘’Alta Idade Média’’ e assim como Le Goff, ele vai conceber que nesse período, não haverá um tipo de estagnação ou recessão econômica, como concebe o autor Henri Pirenne. Outras contribuições de Heers são a de uma evidente disputa entre a burguesia e aristocracia medieval para conquistar devidas liberdades econômicas. Dentro das concepções que tecem o trabalho de Pirenne, não ignorando a época em ele trabalhou e viveu (final do séc. XIX e início do XX), ele erra e nisso tanto Jacques Heers como Jacques Le Goff chamam a atenção para as inconsistências teóricas e metodológicas dele, donde se percebe que o recorte que ele estabelece (Europa do Norte) não contempla a complexidade do período, e não permite generalizar para toda a Europa e nem para um período tão longo como ele propôs (dos séc. VII ao X).

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