O Eurocentrismo e Encobrimento do Outro
Por: Stardog • 9/2/2019 • Trabalho acadêmico • 1.621 Palavras (7 Páginas) • 176 Visualizações
Instituto Federal de Goiás - Campus Goiânia
História da América I
Prof. Dr.: Rafael Borges
Nome: Vinícius Costa de Aguiar
Sabendo que é dever do historiador analisar as diferentes perspectivas da história e procurar, mais do que fazer qualquer tipo de julgamento, entender os processos históricos, devemos entender o porquê da existência de conceitos como ''eurocentrismo'', por exemplo, tal qual é necessário investigar os motivos, as razões de tentar escrever uma história com tendências a enxergar um único viés, com grande dose de reducionismo e rigorosamente parcial em discurso e como isso acaba influenciando, sobretudo, na alteridade de alguns grupos, assim como colabora grandemente para o processo de colonialidade da mentalidade de inúmeras pessoas. Desde a chegada do europeu ao continente americano em meados de outubro de 1492, quando segundo Enrique Dussel em seu ''O Encobrimento do Outro'', a Europa (sobretudo a ocidental) deixa de ser ''periferia'' do restante do mundo, o continente ganhará um status que lhe é conferido até os dias atuais: o de modelo a ser seguido, exemplo de civilização e de "progresso", o apogeu da organização, a mais alta matriz cultural que se pode encontrar. O processo de conquista e dominação determinado pelos europeus em relação aos nativos americanos é sempre colocado de forma suavizada pela historiografia como um todo, há um processo de heroicização interligado à figura do conquistador, branco, puro. Esta visão nos é imposta e na maioria das vezes não se percebe. Não se possui conhecimento a respeito dos povos indígenas que aqui habitavam antes da chegada dos europeus, a imagem destes é distorcida, são vistos como incivilizados, bárbaros, selvagens, nós os projetamos justamente como estes homens do século XV os viam. Levando em consideração que a escrita da história é também uma disputa de poder, ao distorcer, subjugar ou rechaçar a história dos povos indígenas e glorificar a história europeia, mesmo morando no continente americano, percebe-se bem como as mentes passam por esse processo de lobotomia eurocêntrica, todavia, denota também um caminho a se seguir e a responsabilidade que o historiador pode ter em participar deste processo de desconstrução, de decolonialidade.
A história também é representatividade, é preciso compreender que cada pequeno lugar tem sua própria história, portanto, não se pode usar um único exemplo europeu para explicar as singularidades de todos lugares, não existe um modelo perfeito, reflexão esta, dentre muitas outras, que podemos tirar de Chimamanda Adichie e sua fala em ''O Perigo da História Única''.
Há, quando se trata de falar dos povos africanos ou americanos, um processo de estereotipá-los, não os conferem legitimidade e especificidade. Os hábitos, os costumes, a cultura, a mentalidade que importa é branca, os negros e os indígenas não têm nada a oferecer. São povos que têm suas culturas assassinadas todos os dias, renegadas. É necessário quebrar essa barreira de superficialidade no momento de tratar da cultura destes grupos, é dever do historiador também garantir que a história não caia no abismo da história única, que rejeite essa concepção que já se mostrou insuficiente, mas que ainda é muito disseminada, inclusive pela mídia, que muito contribui para que esses estereótipos de povos, de nações não-brancas e não-europeias perdurem. É de extrema importância, para iniciar, tentar desconstruir esta ideia de Europa como modelo a ser seguido, não se pode desconsiderar o fato de que a construção desta se deu de uma forma manipuladora, baseada em mitos e que sem a presença da América ela nunca teria atingido toda essa falsa imagem que possui e que foi construída por ela mesma, é importante entender que a Europa não é protagonista e coadjuvante de seu processo de desenvolvimento, mas que atingiu isso, digamos, às custas da América. Outro passo para que essa desconstrução possa ser feita é entrar em contato justamente com obras que mostrem diferentes pontos de vista, um historiador, seja ele professor ou não, não pode se basear unicamente em uma visão europeia para construção de um conhecimento especializado. É necessário levar às pessoas que não possuem uma gama muito grande de conhecimento sobre os povos nativo americanos, por exemplo, um retrato mais fiel e legítimo do que foram estes grupos. Que eles eram sim organizados, que sabiam viver por conta própria, que tinham uma destreza e um visionarismo muito peculiar – basta ver as construções realizadas nas regiões andinas ou o proto-urbanismo trazido pelos olmecas, que podem ter sido um dos primeiros a trazerem a ideia de uma divisão de trabalho, enquanto simultaneamente, na Europa, se vivia algo completamente distinto.
Ao analisarmos o processo de invasão e de posterior colonização dos povos indígenas americanos pelos europeus, por exemplo, podemos observar com maior clareza o poder de distorção que a história pode ter e como uma mentira, muitas vezes repetida, pode se tornar verdade. É um contexto de opressão, violência, morte. O europeu criará uma visão totalmente selvagem e bárbara do indígena que deverá se contrapor, justamente, à figura modelo dele, quando na realidade este mesmo europeu é que é o bárbaro, violento, perigoso. É imprescindível dar visibilidade aos povos andinos e mesoamericanos, que muito antes da chegada europeia à América já demonstravam inúmeros indícios de autossuficiência e organização, podendo inclusive, se formos entrar neste mérito de desenvolvimento, serem considerados mais avançados e organizados que os europeus. Esta ideia do moderno, que tinha grande teor racional e era baseado na teoria do progresso, serve como pretexto para que a Europa exerça sua força,
pratique atrocidades contra a população indígena, assim como a ideia de que são infinitamente superiores. Todavia, essa versão atroz e brutal dos colonizadores é minimizada, ainda tentam passar essa imagem benéfica, de que eles estavam aqui justamente para civilizar um grupo que não tinha qualquer tipo racionalidade, que não poderia sobreviver por si só, enquanto os métodos violentos, a escravização indígena, as mortes, são colocados como segundo plano, assim como o processo de apagar do indígena suas próprias origens, tentar fazer com que vivam nos moldes dos povos ''civilizados''. É importante ressaltar também que a própria Europa tem origem mestiça, ela mesma não surge, não se constitui como sendo esta organização perfeitamente branca, mas também através da distorção de acontecimentos históricos se pode modificar esta origem multicultural, através do mito fundador.
...