O Homem e o mundo natural
Por: Isac Medeiros • 23/4/2018 • Resenha • 1.223 Palavras (5 Páginas) • 1.227 Visualizações
AUTOR: ISAC ALISSON VIANA DE MEDEIROS
THOMAS, Keith. O homem e o mundo natural. São Paulo: Companhia das Letras, 1988
Keith Thomas nasceu em 1933 na Inglaterra, é historiador. Estudou na Barry Country Grammar School e em Balliol College, Oxford. É professor da Universidade de Oxford e membro da Academia Britânica.
A obra de Keith Thomas ajuda a desconstruir alguns determinismos que circulam no campo historiográfico, dentre eles, a ideia de que anterior ao período da industrialização, o homem impregnava mais valor em sua relação com a natureza. Em O homem e o mundo natural é abordada justamente uma tese contrária, ou seja, o sentimento de afeto, gosto e apreço pela flora e fauna só serão carregados de um alto valor positivo mediante o mau trato anterior de ambos. Dessa forma, Keith analisa o processo de mudança no tratamento do mundo natural, que vai de um estabelecido sentimento de violência para um vínculo de simpatia.
Ainda, outra característica interessante na escrita do autor se deve a preocupação em mostrar que esse processo não ocorreu de forma linear e, sim, a partir de várias rupturas e (des) continuidades que variam de acordo com o tempo e espaço analisados. Nesse sentido a obra se detém ao recorte da Inglaterra, durante os séculos XVI-XIX. O autor também faz uso intenso de um corpo documental baseado em fontes literárias que permitem nos oferecer um pouco da ideia e sentimentos da sociedade analisada, ou, pelo menos, dos setores mais articulados dessa população. Segundo a introdução da obra a qual analisamos o estudo abordado “constitui um tema vasto e inquietante, que nos últimos anos recebeu bastante atenção por parte de filósofos, teólogos, geógrafos e críticos literários”. (THOMAS, 1988,p. 19) Portanto, percebemos aí um certo nível de interdisciplinaridade do autor com outras áreas do conhecimento científico que ajudarão a dar ênfase ao texto historiográfico.
Os conceitos discutidos por Thomas referem-se primeiramente a ideia de percepção, onde o autor entende como a forma em que o homem percebe a natureza a partir dos sentidos. Estes são mediados pela cultura de cada época. Desse modo, os órgãos percebem a natureza e a cultura lhe propõe um sentido. Ou seja, ao passo que os olhos veem o que é posto a frente do homem, a cultura responsabiliza-se por atribuir um significado ao que é visto. Dando continuidade, o autor trabalha a ideia de sensibilidade e mentalidade. A primeira entendida como a maneira de sentir as coisas e, a segunda relacionada à forma de pensar sobre as coisas. Ambos os conceitos são voláteis mediante o tempo e espaço.
A análise aqui apresentada será realizada tendo como base os capítulos 4 e 5 respectivamente, os quais abordam de forma mais direta essa mudança de perspectiva em relação à fauna e flora. Em menção ao primeiro, o capítulo quatro, intitulado: A compaixão pelas criaturas brutas será direcionado para o exame da mudança do sentimento em relação aos animas. O autor inicia relatando o choque de sujeitos ingleses no exterior ao se depararem com a “rudeza e barbárie” das touradas espanholas, visto o mau trato oferecido aos animais. Nesse ponto, Keith explica que apesar dessa reação por parte dos ingleses, os mesmos, em épocas anteriores também aderiam a esse sentimento de crueldade as criaturas brutas e, dessa forma, o autor passa a contextualizar historicamente essa mudança de valores morais.
Nesse sentido, o autor faz uma extensa exemplificação que mostra a falta de qualquer consideração moral visível pelos animais por parte da sociedade inglesa anterior ao século XVIII. Só a partir desse período é que passa a se notar um começo de mudança de postura no que condiz ao sentimento em relação aos animais . Dessa forma era-se permitido ferir ou matar animais para segurança ou alimento, mas proibia-se a eliminação dos mesmos por prazer. Esse sentimento mais favorável aos animais nasceria da tradição cristã, onde se condenavam os maus tratos aos bichos por acreditarem que tal atitude poderia influenciar negativamente na moralidade humana, criando um efeito brutalizante no caráter das pessoas. Esse argumento sofreria uma mudança no século XVII onde surgiria a ideia de que o homem deveria se comportar perante as criaturas inferiores.
Em seguida o autor lança a ideia de “descentralização do homem”, ou seja, a partir do século XVII passa a ser considerada a tese de que o mundo não existiria somente para o homem. Várias eram os estudos e descobertas que dariam prosseguimento a esse pensamento,
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