Respostas a perguntas sobre a história da educação
Ensaio: Respostas a perguntas sobre a história da educação. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: gabryhela • 31/3/2014 • Ensaio • 3.219 Palavras (13 Páginas) • 812 Visualizações
Lombardi - Historicamente, salta aos olhos do pesquisador que cada formação social produziu uma educação – em sua organização, conteúdo, aparato didático-pedagógico etc – adequada ao modo de produção da vida material, social e espiritual de seus membros. Se você pensa teoricamente dessa forma, é lógico que em sociedades tribais, como as existentes antes da chegada dos europeus às Américas, onde todos eram iguais e onde ainda não havia se desenvolvido o Estado, só podemos entender a educação se a tomarmos como diluída como um bem de todos, como processo constante de ensinar-e-aprender, pela qual todos os membros da sociedade ensinavam e concomitantemente aprendiam. Havia momentos diferenciados de ensinar e de aprender? É óbvio que sim. Só que isso não era tarefa para uma instituição específica ou para uma classe de pessoas que deveriam trabalhar com o ofício de ensinar e aprender.
JU - Quando surgiu essa tarefa?
Lombardi – Foi no momento em que a sociedade se dividiu em classes diferenciadas, decorrência das transformações na organização econômica, social e política. Essa organização passou a ser cindida entre aqueles que detém e os que não têm os meios de produção, a riqueza e o poder. Foi nesse momento que, para além dos saberes comuns a todos os homens, foi preciso criar uma organização social, a escola, que tivesse por incumbência ensinar saberes diferentes a homens diferentes; que apareceu como uma instituição diferenciada que se destinava a pessoas diferenciadas dessa sociedade.
Tomemos como exemplo uma sociedade escravista – como a grega. Nessa sociedade cindida em classes opostas – proprietários e não-proprietários, senhores e escravos – era necessária uma escola para educar os filhos dos escravos? É óbvio que não, pois da mesma forma que as classes se estruturaram para separação de uns e outros pela genealogia que dava sustentação à propriedade, também operou-se uma divisão entre trabalho intelectual e trabalho manual, produzindo uma separação entre o saber e o fazer. Ao escravo cabia executar as tarefas manuais. E, portanto, o processo de transmissão dos saberes que lhe eram necessários se dava, por via direta, no exercício do próprio trabalho.
A escola que foi produzida nessa sociedade, portanto, foi para educar os filhos da aristocracia. Aparece com essa característica, mas que foi ideologicamente explicitada como formação humana, como processo integral de formação do cidadão grego – sentido expresso pelo termo paidéia. Como o escravo sequer era considerado cidadão, a formação integral era exclusivamente direcionada aos membros das polis, para a formação integral do corpo e do espírito, preparando os filhos da elite para o exercício da cidadania, pelo domínio dos saberes necessários na arte da guerra, na política, nas artes, nas ciências, na moral, enfim no exercício da cidadania.
Esta educação, que se deu sob diferentes formas de organização escolar, na medida em que passou a se dar num espaço específico, a escola, também passou a ser atribuição de um grupo social diferenciado – primeiro dos pedagogos, responsáveis pelo acompanhamento e ensino elementar; por mestres que ensinavam a leitura e escrita; por instrutores que cuidavam das práticas esportivas e musicais; etc. É preciso destacar, ainda, que os filhos das famílias abastadas freqüentavam aulas livres ministradas por sábios ou “amantes do saber” - filo + sophos.
“Penso que as chamadas novas tecnologias de comunicação estão abrindo portas para uma revolução sem precedentes na socialização dos saberes”
JU – O senhor acha então que o legado desse modelo predomina ainda hoje?
Lombardi – Do ponto de vista teórico, sem dúvida. Se considerarmos que cada formação social e cada período histórico, da mesma forma que precisam produzir os bens necessários à sobrevivência de seus membros, também produzem as formas de organização social que são adequadas e as idéias que expressam o conjunto das relações estabelecidas pelos homens, chegaremos à conclusão que também a educação expressará essas relações e os interesses de classes diferenciadas. Neste sentido, a escola que cada sociedade vai ter, nos mais diferentes períodos históricos, é aquela adequada aos interesses de quem exerce o poder econômico e, por decorrência, político, social, ideológico...
Para encurtar conversa, já que teríamos que nos alongar muito seguindo o fio condutor da história, é preciso registrar que a escola que conhecemos é muito nova. Ela só começou a ser forjada no longo e contraditório processo de formação do capitalismo – e que também era a desagregação do feudalismo. A escola que surgiu desse processo foi a expressão de um movimento complexo e contraditório, das corporações de ofício às manufaturas; da Reforma à Contra-Reforma; do Renascimento à era das revoluções. Foi nesse longo período que começaram a se criar escolas diferenciadas para classes diferenciadas, organizadas em séries, com conteúdos disciplinarmente definidos, com regras claras e detalhadamente estabelecidas, com métodos de ensinar e aprender e, ainda, com meios e instrumentos facilitadores do ensino e aprendizagem, como o livro didático, por exemplo.
Foi no interior desse processo que o Brasil foi descoberto. E foi nesse contexto que se forjou a nossa educação. Para organizá-la foram trazidos para cá, como parte indiferenciada da empresa colonial, os jesuítas e que, como se sabe, foram um dos principais suportes do movimento da Contra-Reforma. Com os jesuítas organizou-se, então, uma educação destinada para as elites portuguesas e centralizada nos colégios jesuítas, e um trabalho missionário, mais catequético, mas que também era educativo e formativo nas normas, padrões e valores europeus, e que objetivava, como já disse, a europeização e cristianização da população nativa. Entretanto, não mais se fazia que adequá-la à empresa colonial portuguesa no Brasil e aos padrões mercantilistas que então imperavam.
Mas não há como fazer uma análise histórica exaustiva, somente exemplificar as linhas teóricas mais gerais que possibilitam o entendimento histórico de nossa educação.
JU – E o que constata a sua concepção teórica?
Lombardi – É, portanto, ideológica a explicação que a revolução burguesa propiciou uma educação pública e gratuita, voltada à formação de todos os homens. Não foi isso o que ocorreu, pois da burguesia veio uma organização escolar dual, destinada a classes diferenciadas e que, preferencialmente, deveria ser paga, como qualquer outro serviço ou mercadoria.
Somente com os avanços das lutas do proletariado, no
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