Tradição do mundo de língua inglesa
Seminário: Tradição do mundo de língua inglesa. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: brasilsuplay • 15/4/2014 • Seminário • 1.113 Palavras (5 Páginas) • 285 Visualizações
A tradição do mundo de língua inglesa é profundamente empírica. Os fatos
falam por si. Um problema particular é discutido ‘em seus méritos’. Temas, episódios e
períodos são isolados para estudo histórico à luz de algum padrão de importância não
declarado, e provavelmente inconsciente... Tudo isso teria sido um anátema para Marx.
Marx não era empirista. Estudar a parte sem referência ao todo, o fato sem referência à
sua significação, o acontecimento sem referência à causa ou conseqüência, a crise
particular sem referência à situação geral, teria parecido a Marx um exercício
infrutífero.
A diferença tem suas raízes históricas. Não é por nada que o mundo de língua
inglesa permaneceu tão obstinadamente empírico. Numa ordem social firmemente
estabelecida, cujas credenciais ninguém quer questionar, o empirismo serve para efetuar
os consecutivos reparos... De tal mundo a Inglaterra do século XIX forneceu o modelo
perfeito. Mas numa época em que todos os princípios são desafiados e nós nos
debatemos de crise em crise na ausência de quaisquer diretrizes, o empirismo não é
suficiente”.6
Seja como for, a máscara do assim chamado empirismo serve para esconder
princípios inconscientes de seleção. “A história”, escreve Carr, “é uma concepção
particular do que constitui a racionalidade humana: todo historiador, quer saiba disso ou
não, tem essa concepção.” Em Que é história? Carr dedicou muita atenção à influência do ambiente histórico e social na seleção e interpretação de fatos pelo historiador, um
aspecto da condição humana que o fascinou desde a época de estudante. Suas anotações
para a nova edição, além disso, exemplificam a relatividade do conhecimento histórico.
Heródoto encontrou uma justificativa moral para a dominação dos atenienses no papel
que ela desempenhou nas guerras pérsicas; e as guerras, demonstrando que os gregos
pensadores deveriam ampliar seus horizontes, persuadiram Heródoto a estender sua
pesquisa a mais povos e lugares.7
A visão árabe da história foi fortemente influenciada
pela afinidade com o modo de vida nômade. Os árabes viam a história como um
processo contínuo ou cíclico em que os habitantes nas cidades ou oásis eram
aniquilados por nômades do deserto, que se estabeleciam e eram então, por sua vez,
aniquilados por novas ondas do deserto; para os historiadores árabes, a vida sedentária
produziu a luxúria, que enfraqueceu o povo civilizado em relação aos bárbaros. Em
contraste, Gibbon, na Inglaterra do século XVIII, viu a história não como um avanço
cíclico, mas como um progresso triunfante: em sua famosa frase, “toda época aumentou,
e ainda aumenta, a riqueza real, a alegria, o conhecimento e talvez a virtude da raça
humana”. E Gibbon viu a história do ponto de vista privilegiado de uma classe
dominante autoconfiante em uma civilização sedentária estabelecida há tempos. Ele
afirmou que a Europa estava a salvo dos bárbaros, uma vez que “antes que eles possam
conquistar, precisam deixar de ser bárbaros”. Carr observa que as eras revolucionárias
exercem uma influência revolucionária no estudo da história: não há “nada como uma
revolução para criar um interesse pela história”. Os historiadores ingleses do século
XVIII apareceram no contexto da vitória da “Revolução Gloriosa” de 1688. A
Revolução Francesa solapou a “perspectiva a-histórica do iluminismo francês, que
dependia de uma concepção de natureza humana imutável”. Nessas épocas de mudança
rápida, a relatividade do conhecimento histórico foi amplamente reconhecida. Macaulay
estava simplesmente afirmando o óbvio a seus contemporâneos quando declarou que “o
homem que mantinha exatamente a mesma opinião sobre a Revolução em 1789, em
1794, em 1804, em 1814 e em 1834, teria sido um profeta divinamente inspirado ou um
obstinado imbecil”.8
Dada a relatividade do conhecimento histórico, em que sentido pode-se dizer que
a história objetiva existe? Em Que é história? Carr afirmava que embora nenhum
historiador possa reivindicar por seus próprios valores uma objetividade além da
história, um historiador “objetivo” pode ser considerado “com uma capacidade para se
colocar acima da visão limitada de sua própria situação na sociedade e na história”, e com “a capacidade de projetar sua visão no futuro de tal forma que lhe dê uma
compreensão
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