UMA RÉPLICA
Por: Joseane Inácio • 17/10/2016 • Seminário • 1.652 Palavras (7 Páginas) • 295 Visualizações
UMA RÉPLICA
Maurice Dobb
Maurice Dobb aceita a importância de um debate para entender o desenvolvimento histórico e do marxismo como método de estudo desse desenvolvimento e afirma que concorda com muitas coisas que Sweezy diz, porém, em outras, diz que a interpretação dele é enganadora. Dobb concorda com Sweezy quando ele diz que o feudalismo não deve ser definido apenas como servidão, já que apresenta uma definição mais ampla e merece uma análise cuidadosa. Para Sweezy a característica principal do feudalismo é a produção para uso, e Dobb acredita que a principal característica é que os métodos de produção eram relativamente primitivos, sendo que o produtor possui os meios de produção, na qualidade de unidade produtora individual. Segundo Sweezy, Dobb deveria ter entendido separadamente o feudalismo da Europa ocidental, por que em cada região, o feudalismo apresenta algumas distinções. Porém, Dobb acredita que na Europa ocidental e oriental possui “extraordinárias semelhanças” na forma com que é explorado os produtores diretos, sem serem remunerados. Em comparação com o sistema capitalista, que vive em constante mudança, o sistema feudal é “estável e inerte“, entretanto, estudos mostram que desde o início do feudalismo até o seu colapso, o sistema teve consideráveis mudanças. Deve-se olhar para a Europa ocidental, e não a oriental, para considerar as formas mais estáveis, em particular, para as formas asiáticas de servidão tributária. Sweezy sugere que o sistema feudal não é necessariamente estático, mas que os movimentos que acontecem “ não tendem a transformá-lo “, e então, fica implícito que a luta de classes não pode desempenhar qualquer papel revolucionário. Dobb afirma que nunca disse que a luta de classes dos servos para com os senhores feudais desempenhou, de maneira direta, ao capitalismo. O que aconteceu foi que, ao se desligar desse processo de comando do senhor feudal, com o passar do tempo, liberou o pequeno produtor da exploração feudal, e então, foi do pequeno modo de produção, que o capitalismo nasceu. Sweezy interpreta como se Dobb tivesse falado que o processo de declínio do feudalismo deveu-se unicamente de um processo interno. Entretanto, Dobb afirma que foi a interação de forças internas e externas que gerou o declínio, e não apenas uma, ainda que ele acredite que as forças internas sobressaiam às forças externas. As forças internas operaram em todos os casos, mesmo que em épocas diferentes, e elas decidem a maneira e o sentido particulares das consequências provocadas pelas influências externas. Ressaltando que Dobb não retira a importância do processo de crescimento das cidades mercantis, todavia a influência exercida pelo comércio foi apenas para acentuar os conflitos internos do antigo modo de produção. Dobb contesta que existe uma correlação entre a desagregação do feudalismo e a “proximidade dos centros de comércio “, já que no Norte e o Oeste atrasados da Inglaterra a servidão do trabalho desapareceu primeiro e o Sudeste que era mais adiantado, com seus mercados urbanos e vias de comércio, esse tipo de prestação de serviço persistiu muito mais tempo. Então, a proximidade com mercados em vez de favorecer para a desagregação do feudalismo, contribuiu para a intensificação da servidão. O que causa a mudança dos servos para as cidades, não é a mera existência de um mercado, e sim a existência de oferta do trabalho barato, como afirma Dobb. Entretanto, ele não exclui a influência do crescimento do comércio nesse processo. Dobb concorda com Sweezy quando ele diz que a sociedade econômica na Europa ocidental entre o século XIV e o final do séxulo XVI como complexa e transitória, em que os antigos processos estavam se dissolvendo enquanto, simultaneamente, os novos apareciam. E, o sistema feudal estava se desintegrando, mas ainda não estava sujeito às relações capitalistas de produção que, futuramente, acabariam por desintegrá-lo. A classe dominante desse período de desintegração era ainda a feudal, afirma Dobb. E o comércio já se sobressaía nesta época, então, a classe dominante utilizava-se dele para sobreviver, fazendo acordos políticos e econômicos com certos setores da burguesia mercantil. É certo que a exploração da classe dominante com os servos já não era o mesmo no início do feudalismo, ele sofrera alterações ao longo do tempo, porém, não se pode dizer que não apresentava características feudais, embora estivessem degradadas e em rápida desintegração. Dobb cita a importância da pequena e média burguesia para a ascensão do capitalismo, que Sweezy não leva em consideração. Pesquisas mostram os agricultores kulaks subindo com facilidade para a pequena nobreza com a compra de senhorias e engrossando as fileiras dos nobres rurais. Foram a pequena nobreza e os kulaks em ascensão os organizadores da indústria têxtil rural em larga escala. De maneira parecida, nas guildas artesanais urbanas havia muitos empresários parecidos que se dedicaram ao comércio e empregaram artesãos mais pobres no sistema putting-out. Condições técnicas iriam determinar se o pequeno capitalista, saído das fileiras dos artesãos, poderia sobreviver do novo sistema de produção. Enquanto as condições técnicas não mudavam – o que só veio com a Revolução Industrial – o pequeno capitalista ainda podia desempenhar um papel de destaque. Quanto á “fase da realização” o próprio Dobb, depois da crítica de Sweezy, reconhece que tem dúvidas e que as provas são incompletas. Porém, afirma que a existência ou não dessa fase não invalida o que tinha afirmado, pois a expropriação de outrem é que constitui a essência do processo de acumulação. Essa “ segunda fase “, mesmo que nem tenha existido, pode valer como indicação de um período em que é evidenciado uma mudança, na burguesia como um todo, de sua preferência anterior pelos móveis ou objetos ou títulos de valor, para uma preferência em investir em meios de produção e força de trabalho. Então, poderá, por conta dessa mudança, ter havido uma influência sobre os preços desses bens, e sobre as atividades econômicas e sociais.
UMA CONTRIBUIÇÃO PARA O DEBATE
Kohachiro Takahashi
Os Studies de Dobb, ainda que não se restrinjam ao desenvolvimento do capitalismo inglês, não dão a devida atenção aos trabalhos franceses e alemães, que certamente não se encontram em nível inferior aos ingleses.
Tanto os Studies de Dobb quanto a crítica de Sweezy começam com definições conceituais gerais de feudalismo e capitalismo, que não são mera questão de terminologia, mas envolvem métodos de análise histórica.
Dobb, rejeitando os conceitos tradicionais correntes entre historiadores "burgueses", procura a essência da economia feudal nas relações entre os produtores diretos (artesãos e camponeses cultivadores) e seus senhores feudais. Este enfoque caracteriza o feudalismo como um modo de produção, é crucial para a definição de feudalismo dada por Dobb, e em geral coincide com o conceito de servidão.
...