A Análise Poema Gregório de Mattos
Por: tainaalves08 • 2/8/2021 • Ensaio • 874 Palavras (4 Páginas) • 385 Visualizações
Juízo Anatômico da Bahia
“1 Que falta nesta cidade?-Verdade.
Que mais por sua desonra? -Honra.
Falta mais que se lhe ponha? -Vergonha.
O demo a viver se exponha,
Por mais que a fama a exalta,
Numa cidade onde falta
Verdade, honra, vergonha.
8 Quem a pôs neste socrócio? -Negócio.
Quem causa tal perdição? -Ambição.
E o maior desta loucura? -Usura.
Notável desaventura
De um povo néscio e sandeu,
Que não sabe que o perdeu
Negócio, ambição, usura.
15 Quais são seus doces objetos? -Pretos.
Tem outros bens mais maciços? -Mestiços.
Quais destes lhe são mais gratos? -Mulatos.
Dou ao demo os insensatos,
Dou ao demo a gente asnal,
Que estima por cabedal
Pretos, mestiços, mulatos.
22 Quem faz os círios mesquinhos? -Meirinhos.
Quem faz as farinhas tardas? -Guardas.
Quem as tem nos aposentos? -Sargentos.
Os círios lá vêm aos centos,
E a terra fica esfaimando,
Porque os vão atravessando
Meirinhos, guardas, sargentos.
29 E que justiça a resguarda? -Bastarda.
É grátis distribuída?- Vendida.
Que tem, que a todos assusta? - Injusta.
Valha-nos Deus, o que custa que
El-Rei nos dá de graça,
Que anda a justiça na praça
Bastarda, vendida, injusta.
36 Que vai pela cleresia? -Simonia.
E pelos membros da Igreja? -Inveja.
Cuidei que mais se lhe punha? -Unha.
Sazonada caramunha
Enfim, que na Santa Sé que mais se pratica é Simonia, inveja, unha.
42 E nos Frades há manqueiras? - Freiras.
Em que ocupam os serões? -Sermões.
Não se ocupam em disputas? - Putas.
Com palavras dissolutas
Me concluís, na verdade,
Que as lidas todas de um Frade
São freiras, sermões, e putas.
49 O açúcar já se acabou? -Baixou.
E o dinheiro se extinguiu? -Subiu.
Logo já convalesceu? -Morreu.
A Bahia aconteceu
O que a um doente acontece,
Cai na cama, o mal lhe cresce,
Baixou, subiu, e morreu.
56 A Câmara não acode? -Não pode.
Pois não tem todo o poder? -Não quer.
Que o governo a convence? -Não vence.
Quem haverá que tal pense,
Que uma Câmara tão nobre,
Por ver-se mísera e pobre,
62 Não pode, não quer, não vence.”
- Gregório de Matos
(disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000119.pdf )
No poema apresentado acima, são evidentes as características da poesia satírica de Gregório de Matos. Em um tom de denúncia, o autor apresenta suas críticas ao sistema colonial baiano ao longo de todo o poema. Logo no início do poema, há uma crítica geral aos valores perpetuados pela sociedade, acentuando a falta de verdade, honra e vergonha, condenando o comportamento das pessoas diante da falta de moral.
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