A Contação de Histórias
Por: sandramaia • 9/3/2022 • Trabalho acadêmico • 23.290 Palavras (94 Páginas) • 135 Visualizações
CAPA
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CONTAÇÃO
A HISTÓRIA QUE CONTA A VIDA...QUE CONTA HISTÓRIAS
SANDRA MAIA-VASCONCELOS
Recriança
Disse Chaplin um dia: “O coração não é estrada para passeio de muitos. O coração é lugar que só fica quem faz por merecer”. Não consegui a referência dessa citação encontrada em uma rede social. Mas dentro de mim, leitora da então citação de Carlitos, afirmei em resposta:
Pois o meu é praça pública, saguão de aeroporto, pista de samba e forró, é bordel, igreja e beira-mar, fila de supermercado e de cinema, saco do papai noel e navio naufragado. Tenho tudo e tudo doo sem apego a nada que não me aqueça os dias. Amei sozinha uma vez e amei por todos. O amor me basta e não me interessam as correspondências. Essa frase é minha e divido com quem quiser plagiar, rearrumar e até adotar. Jogar no lixo é uma arte que fazemos com desdém, eu faço com pena, muita pena. E dor!
Dedico este livreto, pequeno manual/diário de minhas vivências pessoais e de minhas pesquisas acadêmicas àqueles que, de um jeito ou de outro, me iniciaram no mundo das histórias:
Às crianças do Lar Amigos de Jesus que me ensinaram que toda história tem recomeço...
A meu pai, com quem não tive histórias contadas. Um dia até pensei que não tínhamos uma história... Temos a história de não termos história juntos...
A minha mãe, verdadeira guerreira das maiores batalhas já vividas e contadas, verdadeira alma quixotesca, cujas zangas nos faziam rir com ela, pelas histórias que me contou e pelas que deixou de me contar...
A meus irmãos, sobrinhos e sobrinhos-netos que, juntos comigo, fizeram e fazem acontecer a história de nossos pais...
A meu avô, que muitas vezes me pegou no colo e me contou sobre suas viagens à Amazônia e me apresentou às narrativas, me presenteando com muitos livros de bolso: românticos, de western ou de guerras, alguns eu lia escondido pra minha mãe não brigar...
A meus filhos e netos por que me estrearam como uma contadora incansável de histórias, inventando todos os caminhos do imaginário que eu fui capaz de inventar...
A meu marido, amor de minha vida, verdadeira história de meu passado, de meu presente e de meu futuro, sem quem eu jamais haveria tido coragem de enfrentar tantas vírgulas, tantos pontos, tantos parágrafos ao fio de páginas e páginas que não escrevemos, mas que tecemos e narramos juntos...
Agradecimentos
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPQ pelo apoio financeiro de bolsa de Pós-Doutorado.
À Professora e grande amiga Maria da Conceição Passeggi, que me acolheu como sua pós-doutoranda na Faculdade de Educação, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
À Professora Martine Lani-Bayle pelos ensinamentos que ainda ecoam em mim, mesmo após 13 anos de minha defesa de doutorado.
À Diretora do Lar Amigos de Jesus, Irmã Conceição, pela acolhida, pelo carinho e pela abertura de um espaço de contação de histórias para mim.
Às crianças do Lar Amigos de Jesus por me ensinarem a contar num momento em que o que mais se deseja é o silêncio...
Ao meu Grupo de Estudos em Linguística e Discurso Autobiográfico – GELDA pelas discussões sempre tão florescedoras.
À Tubocone, na pessoa de seu diretor Hélio Perdigão, pela doação de material para construção dos cenários das histórias.
E por fim, porque só Ele é o início, o meio e o fim, a Jesus, meu Pai celestial, meu Deus e meu amigo, que me tem acompanhado nas horas de muitas dúvidas, horas em que a realidade me tentou a desacreditar.
INTRODUÇÃO
É uma realidade que nos últimos anos houve um interesse muito notável pela contação de histórias e seu papel na formação de crianças leitoras. Não se trata apenas e incentivar a leitura por meio de histórias infantis e da literatura nacional ou internacional. O imaginário é tomado como lugar de desenvolvimento infantil, até mesmo por aqueles que não são estudiosos no assunto. A observação que fazemos aqui, entretanto, diz respeito ao resultado ainda insatisfatório nas provas de leitura, o que no leva a pensar que o prazer da leitura nem sempre promove uma aprendizagem competente. Resta a questão se o problema não estaria na formação dos professores contadores.
Em hospitais e casa de apoio é muito comum a presença desses profissionais contadores, que trazem, além da história contada, toda uma dramatização que envolve de maneira intensa as crianças, pelo caráter imagético, pelas mímicas e por todos os atributos contemplados em uma história infantil. Mas por que não essa prática nas escolas? Nos trabalhos praticados em sala de aula observamos grande dificuldade dos alunos no momento de expressar-se diante de um público, bem como dificuldade de dar o tom adequado a sua oralidade.
Acreditamos que seja necessária uma formação mais direcionada para a oralidade em sala de aula, e para a dramatização, sobretudo para aqueles professores que estarão em contatos com crianças num futuro bem próximo. O papel do professor-contador nesta conjuntura é primordial; é essencial, portanto, que o contador goste de ler e goste de literatura. A escolha que se faz de uma história é um primeiro passo apenas. O conto de fadas deve ser transformado na personalidade do contador, em realidade contada, sentida, por tons diferentes, por gestos que se tornem inesquecíveis. É importante que sejam definidos os critérios de contação e os objetivos que orientarão a leitura.
Infância, adolescência ou idade adulta, qual é a idade ideal para se viver? Do que podemos nos lembrar aos cinco anos, vinte anos, sessenta anos? A vida é organizada de acordo com as necessidades e possibilidades de um grupo particular. Criança, adolescente ou adulto, estamos sempre sob o signo do acaso. A vida não escolhe seus caminhos e as situações aparecem para que nos adaptemos. Doenças e hospitalização são um bom exemplo. Neste contexto, como em outros lugares, a experiência frutifica novos conhecimentos, provavelmente, diferentes da expectativa da escola tradicional, mas vai oferecer ao aluno o conhecimento de si mesmo e de sua experiência.
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