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A Contribuição do New Criticism para história da literatura brasileira

Por:   •  23/1/2018  •  Bibliografia  •  3.849 Palavras (16 Páginas)  •  1.596 Visualizações

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A contribuição do New Criticism para história da literatura brasileira[1]

Cássia Cristina Gonçalves Simplício*

RESUMO: Este trabalho visa discorrer sobre os princípios, propostas e ponderações do modelo inovador de análise literária surgido em 1920, o New Criticism. Assim sendo, será realizado um breve panorama sobre a sua origem e como o New Criticism instaurou-se no Brasil. Em conseguinte, será feita uma breve análise do poema Órfica, da poeta brasileira Dora Ferreira da Silva, pairando sob a perspectiva do modelo da neocrítica.

Palavras-chave: New Criticism, Teoria Literária, Dora Ferreira da Silva

  1. INTRODUÇÃO

Buscando romper com a ideologia de que a literatura possa ser interpretada sob a perspectiva de outra ciência, da visão do autor ou da escola literária vigente durante o período de produção da obra, a corrente crítica denominada New Criticism surge em meados do ano de 1920 nos Estados Unidos a partir do ensaio intitulado Tradition and the individual talent feito por Thomas Stearns Eliot, porém é em 1940 que a corrente literária é evidenciada a partir dos estudos realizados por John Crowen Ranson.

A partir do ensaio elaborado por Eliot iniciam-se os estudos sobre uma teoria objetiva da arte. Em 1924, Ivor Armstrong Richards publicou o livro Principles of criticism, em que nele o autor também defendia os postulados do New Criticism, outro autor em destaque desse período é William Empson com sua publicação intitulada como Seven types of ambiguity (1930). Segundo Eliot, o New Criticism distancia-se da ideia de que um poema é expressão da personalidade e dos sentimentos vividos por quem o escreveu. Dessa maneira, o crítico salienta que a visão individual deve ser transformada em sabedoria técnica, já que um texto é a apropriação da tradição literária.

Ao contrário de todas as noções do século XX, surge a partir dos postulados Eliotianos uma das definições mais consagradas no New Criticism: o correlato objetivo. Essa definição trata de um grupo de objetos, situações ou paisagens com o poder de causar no leitor de um poema a emoção desejada. Para Eliot, o autor não deve trabalhar com suas emoções próprias na produção do poema, mas com símbolos universais que causem no leitor reações emocionais, segundo ele:

A única maneira de expressar a emoção em forma de arte é encontrar um ‘correlato objetivo’, em outras palavras, um grupo de objetos, uma situação, uma cadeia de eventos que serão a formula dessa emoção particular, de modo que quando os fatos externos, que devem terminar em experiência sensorial, são fornecidos, ele evoca imediatamente a emoção. (Hamlet and his problems In: The Sacred Wood, 1920, p. 53)

As diferentes abordagens criadas pela Nova Crítica, como também ficou reconhecido o New Criticism, certamente foram uma das maiores revoluções criticas na área dos estudos literários na universidade norte americana do século XX. Tal corrente recebe destaque até o ano de 1950, porém acaba perdendo força, mas não sua importância.

É importante enfatizar que mesmo ocorrendo na mesma época, mas em lugares diferentes, o New Criticism e o Formalismo Russo não possuem nenhum relacionamento histórico. Apesar de haver bastante semelhança entre as duas correntes, como por exemplo, a desconsideração pelos aspectos extralinguísticos.

  1. O New Criticism no Brasil

         

A Afrânio Coutinho deve-se a divulgação do New Criticism no Brasil, após ter permanecido nos Estados Unidos, entre 1942 a 1947, onde foi conferecista e redator secretário da revista Seleções do Reader’s Digest, quando teve oportunidade de ter contato com inúmeros intelectuais, professores de literatura e poder conhecer as novas tendências da crítica literária: o formalismo de Jakobson, os estudos de René Wellek, Leo Spitzer e Helmut Hatzfeld.

A publicação da obra “A literatura no Brasil”, em 1955, obra em 6 volumes reflete o esforço do autor em preconizar uma crítica que “deveria destacar e valorizar a qualidade estética da obra, deixando em segundo plano os fatores históricos e biográficos tidos por exteriores à criação literária” (BOSI, 2002, p. 27), o que, em termos no Brasil, pode ser considerado um grande avanço, uma vez que ate então a análise do objeto literário fundava-se numa avaliação impressionista.

Assim sendo, Coutinho relata que a Nova Crítica não se identificava totalmente com o que vinham fazendo americanos e ingleses; pelo contrário, tratava-se, na realidade, de uma “tendência geral da evolução crítica, a qual caracteriza a primeira metade do século, tudo indicando que a dirige para a constituição da crítica literária como uma disciplina autônoma” (COUTINHO, 1975, p.91).

Com isso, o crítico brasileiro travou um embate com Álvaro Lins, um dos maiores críticos literários dos jornais da época, que em seu trabalho fazia com que Afrânio Coutinho considerava como “crítica de rodapé”, e sobre esse modelo de análise, Coutinho afirma que:

Crítica é aquela atividade que se exerce de maneira sistemática e militante nos folhetins e rodapés de jornais semanalmente, na maioria dos casos. Não interessa o conteúdo. (...) No comum, ela consiste em um longo artigo, em que um livro ou um autor servem de pretexto para divagações mais ou menos pessoais do ‘crítico’, a propósito ou à margem do assunto tratado. Será possível, analisando-se os exemplos mais típicos, reduzir a técnica a uma fórmula ou na nariz-de-cera que se ajusta, mais ou menos, com algumas variantes, à maioria dos casos (COUTINHO, 1975, p.59-60).

De acordo com essas postulações realizadas por Coutinho, a literatura contemporânea necessitava de uma crítica que se preocupar não mais com os fatores historicistas e extrínsecos do objeto literário, mas sim com os valores intrínsecos e estruturais, que possibilitavam a compreensão de obras inovadoras, totalmente diferentes do fazer literário baseado nos conceitos realistas e naturalistas que ainda vigoravam em nossas letras, facilitando de certa maneira a produção de uma crítica de caráter intimista, presa ainda aos moldes da crítica oitocentista.

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