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A Minha Musa

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Por:   •  16/3/2015  •  488 Palavras (2 Páginas)  •  253 Visualizações

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Gonçalves Dias

A minha musa

Minha Musa não é como ninfa

Que se eleva das águas - gentil -

Co'um sorriso nos lábios mimosos,

Com requebros, com ar senhoril.

Nem lhe pousa nas faces redondas

Dos fagueiros anelos a cor;

Nesta terra não tem uma esp'rança,

Nesta terra não tem um amor.

Como fada de meigos encantos,

Não habita um palácio encantado,

Quer em meio de matas sombrias,

Quer à beira do mar levantado.

Não tem ela uma senda florida,

De perfumes, de flores bem cheia,

Onde vague com passos incertos,

Quando o céu de luzeiros se arreia.

Não é como a de Horácio a minha Musa;

Nos soberbos alpendres dos Senhores

Não é que ela reside;

Ao banquete do grande em lauta mesa,

Onde gira o falerno em taças d'oiro,

Não é que ela preside.

Ela ama a solidão, ama o silêncio,

Ama o prado florido, a selva umbrosa

E da rola o carpir.

Ela ama a viração da tarde amena,

O sussurro das águas, os acentos

De profundo sentir.

D'Anacreonte o gênio prazenteiro,

Que de flores cingia a fronte calva

Em brilhante festim,

Tomando inspirações à doce amada,

Que leda lh'enflorava a ebúrnea lira;

De que me serve, a mim?

Canções que a turba nutre, inspira, exalta

Nas cordas magoadas me não pousam

Da lira de marfim.

Correm meus dias, lacrimosos, tristes,

Como a noite que estende as negras asas

Por céu negro e sem fim.

É triste a minha Musa, como é triste

O sincero verter d'amargo pranto

D'órfã singela;

E triste como o som que a brisa espalha,

Que cicia nas folhas do arvoredo

Por noite bela.

É triste como o som que o sino ao longe

Vai perder na extensão d'ameno prado

Da tarde no cair,

Quando nasce o silêncio involto em trevas,

Quando os astros derramam sobre a terra

Merencório luzir.

Ela então, sem destino, erra por vales,

Erra por altos montes, onde a enxada

Fundo e fundo cavou;

E pára; perto, jovial pastora

Cantando passa - e ela cisma ainda

Depois que esta passou.

Além - da choça humilde s'ergue o fumo

Que em risonha espiral se eleva às nuvens

Da noite entre os vapores;

Muge solto o rebanho; e lento

...

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