Análise da canção Eleanor Rigby
Por: Carolcaoli • 16/5/2016 • Resenha • 1.691 Palavras (7 Páginas) • 4.900 Visualizações
ANÁLISE DA MÚSICA ELEANOR RIGBY DOS BEATLES
Carolina Camargo de Oliveira, 25
RESUMO
A análise a seguir é a interpretação da música Eleanor Rigby interligada com as outras músicas do albúm “Revolver” dos Beatles. É uma tentativa de compreender as mensagens que a banda deseja transmitir através das canções escolhidas.
Eleanor Rigby (tradução)
Ah, olhe para todas as pessoas solitárias!
Ah, olhe para todas as pessoas solitárias!
Eleanor Rigby, apanha o arroz na igreja
Onde um casamento aconteceu
Vive em um sonho
Espera na janela
Vestindo um rosto que ela guarda num jarro perto da porta
Para quem é?
Todas as pessoas solitárias
De onde todas elas vêm?
Todas as pessoas solitárias
A que lugar todas elas pertencem?
Padre McKenzie, escrevendo as palavras de um sermão
Que ninguém vai ouvir
Ninguém chega perto
Olhe para ele trabalhando, remendando sua meias à noite
Quando não há ninguém lá
O que é importante para ele?
Todas as pessoas solitárias
De onde todas elas vêm?
Todas as pessoas solitárias
A que lugar todas elas pertencem?
Ah, olhe para todas as pessoas solitárias!
Ah, olhe para todas as pessoas solitárias!
Eleanor Rigby morreu na igreja
E foi enterrada junto com seu nome
Ninguém veio
Padre McKenzie limpando a sujeira de suas mãos
Enquanto caminha do sepulcro
Ninguém foi salvo
Todas as pessoas solitárias
De onde todas elas vêm?
Todas as pessoas solitárias (Ah, olhe para todas as pessoas solitárias!)
A que lugar todas elas pertencem?
INTRODUÇÃO
A análise da canção é reproduzida a fim de refletirmos quão solitárias as pessoas podem sentir-se e como o isolamento pode impedir-nos de viver satisfatóriamente e felizes. É uma tentativa de responder algumas perguntas feitas na música e um exemplo claro que nos faz pensar em como a poesia contida na letra é uma representação subjetiva de fatos reais, psicológicos, acasos e mistérios da inspiração.
Eleanor Rigby é o tipo de música que nos faz refletir sobre quão solitárias as pessoas são.
A letra triste mas serena inicia-se com uma ordem, quase uma oração. Pede que por um instante paremos para olhar as pessoas solitárias. O ritmo musical dessa parte faz com que o pedido pareça não só uma súplica, mas uma intimação. Pede para abdicarmos do nosso precioso tempo por pelo menos alguns minutos e olharmos além de nós mesmos para ouvir a história de dois personagens solitários. A própria Eleanor que vive sozinha esperando por algum acontecimento e o Padre Mckenzie que parece estar alienado até mesmo de seu rebanho.
Até mesmo a canção parece querer evitar o contato direto com os personagens. Quando ouvimos a letra atentamente imaginamos um narrador, de longe, observando e fazendo crônicas sobre a solidão representada na mulher que limpa o arroz da Igreja após os casamentos ali realizados. Neste paragrafo podemos imaginar uma senhora limpando o chão da Igreja. Talvez até se lamentando pelas oportunidades perdidas por ali, lugar onde seu casamento poderia ter sido realizado ou talvez pela perda de um amor consagrado. Ela volta para casa e espera. Espera pelo que? Por quem? Um amor, talvez. Ou até mesmo, espera ansiosamente pela morte. Vê sua vida passar pela janela. Com sua expressão fingida, que já está guardada na jarra perto da porta, aquela reservada para ser usada na frente de outros, até mesmo porque pensa que na rua ela é alguém, uma no meio de tantas e em casa é sem rosto, sem expressão, é nada. Não consegue acreditar naquela vida, talvez ache que é só uma passagem, um sonho e que a vida mesmo vem após a morte. Ou talvez esteja alienada de sua própria vida real, vivendo fantasias criadas em sua imaginação.
A súplica, no próximo parágrafo, vem acompanhada agora de duas perguntas: De onde vêm todas as pessoas solitárias? A que lugar todas elas pertencem? Infelizmente, são perguntas irrespondíveis, mas que nos fazem olhar mais atentamente as pessoas a nossa volta. Quão bem resolvidas são as pessoas que conhecemos? E as que não conhecemos? São felizes? De onde vem? Por que estão aqui? Qual batalha enfrentam diariamente? Por quais dificuldades já passaram e ainda passam? Quem e o que amam? Onde passam seus fins de semana? Onde passam seus dias? São felizes?
Mais e mais perguntas retóricas aparecem em nosso pensamento. Não é possível obter respostas a todas elas. Podemos descobrir informações sobre diversas pessoas, mas nunca suas histórias inteiras. Cada um enfrenta suas próprias batalhas e não é possível ter tempo para ouvir a luta de cada um.
Padre McKenzie escreve um sermão que ninguém vai ouvir. Talvez porque a fé religiosa tenha desaparecido da vida das pessoas, ou porque simplesmente estão ocupadas com outras coisas. Como salvará alguém se não tem fiéis? Como salvará a si mesmo sem poder cumprir sua missão? Quando está sozinho, trabalha. Remenda suas meias à noite. Ninguém chega perto. Ele está sozinho. Com o que ele realmente se importa? Ele é feliz?
As perguntas retóricas voltam a surgir em nossa mente e as presentes na música são repetidas no mesmo ritmo sereno: De onde vêm todas as pessoas solitárias? A que lugar todas elas pertencem? E logo são seguidas, quase como se fossem respondidas com a intimação do começo da canção, a ordem, a súplica para pararmos de ser egoístas e olhar para e pelas pessoas solitárias.
Não há tristeza ou desespero claramente explícito na letra da música. O ritmo da melodia, porém, faz parecer que a solidão é um sentimento neutro (percebe-se quando o som está sereno) que aos poucos, entre um parágrafo e outro, torna-se um vazio que cresce por dentro e torna-se um buraco negro que suga qualquer tipo de emoção. Parágrafos estes representados pelas intimações que a letra faz, onde o ritmo fica intenso, frio e curto, representando fortemente pelo violino, causando um certo suspense e melancolia.
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