TrabalhosGratuitos.com - Trabalhos, Monografias, Artigos, Exames, Resumos de livros, Dissertações
Pesquisar

Cordel do Amor sem Fim

Abstract: Cordel do Amor sem Fim. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicos

Por:   •  26/11/2014  •  Abstract  •  1.904 Palavras (8 Páginas)  •  208 Visualizações

Página 1 de 8

Cordel do Amor sem Fim

(O palco está escuro. Vê-se, apenas, no canto direito do palco, o cordeleiro que

afina o seu instrumento, o violão. Depois de terminada a afinação ele cumprimenta

o público tirando o chapéu, de couro ou de palha, da cabeça. Começa a canção O

Luar, letra e melodia de Carlos Barral.)

Contador – Eu que fui pé no chão nesse rumo

Assumo que vim sem dizer que não.

Sou pedra, sou peixe, sou rio,

Sou tarde de junho e o frio

Sou noite, me lembro, dezembro,

Pé de vento, de chuva e trovão.

Sou um raio de luar

Onde está meu coração.

E lá fora o luar bate claro no algodão

Branco, branco a me lembrar onde está meu coração.

Costas brancas desse mar, bate, bate sem perdão

A lembrança de um luar voa

Onde está meu coração?

(Terminada a canção o homem coloca o violão de lado, apoiado sobre um

pequeno banco que trouxe consigo ou apenas colocando-o nas costas preso por

uma correia. Mal termina o gesto já começa a falar).

Contador – Deus separou o claro do escuro, separou o mar da terra, separou o

macho da fêmea, separou o bem do mal e se Deus já começou separando quem

sou eu pra falar de união? Mas eu digo que o homem é bicho que nasceu pra

ficar tudo junto. Da vida eu digo que é longa demais para dizer que é curta e é

curta demais para dizer que é longa. Do mar eu digo que é grande demais pra

minha canoa e, do rio, eu digo que é o que me corre nas veias. Da grande cidade

eu digo que já me debrucei nas suas varandas e que o mosaico de suas calçadas

já viram o carimbo de meu pé. Sei de seus tumultos e barulhos e digo que nenhum

deles deve ser o som da esperança. Porque os sinos da esperança não tocam

nessas catedrais de pedra, nas ruas de pedra, no peito de pedra desses homens

que andam por tantas ruas e que não chegam em lugar nenhum. Do violão digo

que é meu melhor amigo por ser o único que não me dá conselhos e, do sertão,

digo que é minha casa. Do desejo digo é bicho que não morre, do tempo digo que

é inimigo dos homens e, do amor, digo que é inimigo do tempo.

(O homem toma, novamente, o seu violão e começa a dedilhar a melodia de São

Francisco, de Carlos Barral).

2

Contador - Era dezembro na beira do Rio São Francisco. Pois sim que era

dezembro. Era dezembro na beira do rio, dezembro afogando o sertão, dezembro

nas cidades ribeirinhas, na cabeça dos caboclos, era dezembro também, porque

não podia deixar de ser, dezembro em Carinhanha. Então era o dezembro, a

cidade de Carinhanha e o rio sendo a veia da cidade. Era dezembro de chuva e

calor em Carinhanha e eram três as irmãs: Teresa, Carminha e Madalena.

(O palco se ilumina e vemos os móveis de uma casa simples, sertaneja. Vê-se

Madalena costurando uma roupa. Entra Carminha).

Carminha – Tô fazendo. Agora sem farinha é que não vai poder ser.

Madalena – Manda Teresa buscar farinha.

Carminha – Teresa mal acabou de chegar da rua. Tá cansada.

Madalena – E aquilo lá cansa?

Carminha – Vá você, minha irmã.

Madalena – Agora essa mania de me tirar de casa!

Carminha – Distrai um pouco...

Madalena – E comprar farinha lá é distração, Carminha?

Carminha – Um passeio até o cais...

Madalena – Pra voltar carregada de saco? Manda Teresa.

Carminha – Eu vou contigo.

Madalena – Se pode largar a panela pra ir comigo então por quê é que não vai

só?

Carminha – Eita, que eu esqueci da panela! (Sai)

Madalena – Anda com a cabeça aonde?

Carminha – (de fora da cena, gritando da cozinha) Então vai Teresa.

Madalena – Ela mesma. (gritando) Teresa! Ô, Teresa, essa menina, chegue aqui.

(Teresa entra)

3

Teresa – Que foi?

Carminha – Vai lá no cais, minha irmã, e traz dois saco de farinha pra fazer o

pirão, vai, Teresa?

Teresa – A do cais é mais cara.

Madalena – É mais cara porque é melhor.

Carminha – (Entrando) Tem nada não, Teresa, traz a farinha boa.

Madalena – É pela ocasião.

Teresa – Que ocasião, meu povo? José come aqui dia sim dia não.

Madalena – Mas hoje ele vai te propor, né minha irmã.

Teresa – Diz que é, né?

Madalena – A panela, Carminha...

Carminha – Vou vê...! (Sai)

Madalena – E tu vai aceitar, né, Teresa?

Teresa

...

Baixar como (para membros premium)  txt (11.7 Kb)  
Continuar por mais 7 páginas »
Disponível apenas no TrabalhosGratuitos.com