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Iracema, Bertoleza e Rita Baiana

Por:   •  29/7/2023  •  Trabalho acadêmico  •  4.269 Palavras (18 Páginas)  •  112 Visualizações

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Contexto histórico das obras e da época de produção

Em meio ao século XIX, José de Alencar escreve Iracema, uma obra indianista que reflete

em sua história o contexto nacionalista da recém independência vivenciada pelo romancista.

A exacerbação sentimental, a atmosfera lírica das cenas de amor, a tendência do fantasioso

e o tom nacionalista são alguns traços característicos da escola romântica refletidos nos

comportamentos das personagens e no respectivo enredo.

É nesse mesmo século que Aluísio de Azevedo busca retratar a sociedade brasileira em

seu livro “O Cortiço”. É em meio a recém abolição da escravatura e posterior à Proclamação

da República que surge o início de uma urbanização, a qual não foi acompanhada de forma

equilibrada por todas as classes econômicas. Nesse sentido, quem sofre com isso são os

pobres, principalmente aqueles recém libertos que devido à falta de infraestrutura e da

exclusão social, dão início aos cortiços.

Zoomorfismo

A beleza e a perdição são características destacadas na representação das personagens

femininas na literatura brasileira. Tais aspectos são amplamente observados tanto em

“Iracema” como em “O Cortiço’, obras que mesmo representando contextos históricos

diferentes, possuem diversas semelhanças entre si. Iracema (“Iracema”) e Rita Baiana (“O

Cortiço”) são duas personagens que carregam em suas personalidades um veneno, capaz

de atrair o olhar dos homens colonizadores, de tal forma que estes passam a desejá-las.

Contudo, ambas também levam consigo uma espécie de antídoto que tem o poder de

amenizar os efeitos do veneno.

Em meio a essas descrições, o uso excessivo de comparações relacionadas com a

natureza é empregado fortemente. No entanto, enquanto para a personagem romântica o

uso dessa figura de linguagem é aplicado com fins positivos, remetendo a um sentido

agradável; para a personagem realista este uso se torna pejorativo, o que acaba por

depreciar sua imagem.

Nesse sentido, a virgem tabajara é descrita desde o seu nascimento com adjetivos que

remetem principalmente a fauna e a flora, de tal forma que a personagem e a natureza se

tornam um único indivíduo, como analisa o crítico literário Antônio Cândido (0.4) Uma das

principais comparações utilizadas está relacionada ao mel de andiroba, uma especiaria doce

e ao mesmo tempo venenosa que se assemelham aos seus lábios e resumem a sua

personalidade (0.1).

Há momentos, contudo, que são feitas alusões de aves com Iracema, isto porque esses

animais, em geral remetem a ideia de liberdade e tranquilidade. Colibri, por exemplo, é um

beija-flor, pequeno, leve, grácil e de uma beleza peculiar. Essa comparação com colibri

ocorre quando ela vai conversar com Poti, chefe do grupo inimigo. Ela fala com tanta

suavidade que com sua doçura salva toda a tribo. Além disso durante este período faz-se o

uso da expressão “como o colibri borboleteando” (0.2), de tal forma que além de reforçar a

graciosidade da beleza do pássaro, ela também reforça o símbolo da liberdade de uma

borboleta. (0.3)

A construção da imagem indígena foi moldada por uma concepção da mulher nua e grácil

como uma flor, que atrai animais com o objetivo de propagar sua semente. Nesse sentido a

virgem é comparada a plantas, árvores e folhas que remetem não somente à ideia de

formosura, mas principalmente ao conceito de fertilidade. Esse arquétipo é mantido durante

o romance e fica mais claro quando a jovem é relacionada a espinhosa planta de açucena a

qual está ligada com a noção de fragilidade, delicadeza e principalmente a noção de

proteção, pois quem se aproximar infelizmente sairá ferido. Esta comparação resume o

encontro da virgem com o guerreiro que ao se encantar com a jovem, transforma suas vidas

em um profundo sofrimento.

Por outro lado, Rita Baiana, a mulata que desde seu surgimento no Cortiço tem seus

aspectos físicos e psicológicos descritos de forma pejorativa pelo uso de palavras

relacionadas a natureza. (0.5). A personagem realista é inicialmente retratada através da

visão do português Jerônimo, o qual em uma festa se encanta pela sensualidade da dança

da brasileira. Assim, ele a remete ao movimento sedutor e ao veneno mortal de uma

serpente. Paralelamente, ele compara sua beleza com o doce da fruta de sapoti

contrastando com o óleo tóxico da castanha do caju e as doenças trazidas das muriçocas,

que são os insetos que mais causam mortes em seres humanos. Por fim, sua figura é

remetida ao cantáridas, que são insetos afrodisíacos, responsáveis por causar estímulos

sexuais e podem levar a morte.(0.5)

Entretanto, foi construído um símbolo de representação da natureza brasileira em torno

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