LENDO TEXTOS VERBAIS E NÃO-VERBAIS: Uma Abordagem Semiótica
Trabalho Escolar: LENDO TEXTOS VERBAIS E NÃO-VERBAIS: Uma Abordagem Semiótica. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: nathalietf • 21/9/2014 • 4.815 Palavras (20 Páginas) • 468 Visualizações
1. Introdução:
Tomada como “teoria da significação”, a semiótica greimasiana (também
conhecida como semiótica francesa ou semiótica do discurso) volta-se para a explicitação das
condições da apreensão e da produção do sentido. Nessa perspectiva, privilegiando a
abordagem do texto como objeto de significação, preocupa-se em estudar os mecanismos que
o engendram, que o constituem como um todo significativo. Em outras palavras: procura
descrever e explicar o que o texto diz e como ele faz para dizer o que diz, examinando, em
primeiro lugar, o seu plano de conteúdo, que é concebido sob a forma de um percurso que vai
do mais simples e abstrato ao mais complexo e concreto. Trata-se do percurso gerativo de
sentido, modelo teórico-metodológico que “simula” a produção e a interpretação do conteúdo
de um texto.
Considerando, porém, que o texto só se constitui a partir da junção de um plano
de conteúdo com um plano de expressão, busca, num segundo momento, a partir das
contribuições da semiótica plástica ou visual, analisar também o plano da expressão daqueles
textos em que esse plano faz mais do que expressar o conteúdo; ele cria novas relações com o
conteúdo: as relações semi-simbólicas. É o que acontece em textos com função estética (o
poema, o ballet, a pintura etc). O semi-simbolismo oferece uma nova leitura do mundo, ao
associar diretamente relações de som, de cor, de forma (plano da expressão) com relações de
sentido (plano do conteúdo).
A semiótica greimasiana propõe-se, dessa forma, como uma teoria gerativa,
sintagmática (já que seu escopo é estudar a produção e a interpretação de textos) e geral,
porque se interessa por qualquer tipo de texto, quer se manifeste verbalmente ou não. Assim,
é apenas depois de examinar o plano do conteúdo (sob a forma do percurso gerativo),
fazendo, por conseguinte, abstração da manifestação, que a semiótica se volta para as
especificidades da expressão e sua relação com a significação (FIORIN, 1995, p.2).
Considerando, portanto, a noção de texto em sentido amplo, procuraremos, no
presente artigo, mostrar a produtividade da teoria fundada por Algirdas Julien Greimas – e
acrescida de seus desdobramentos mais recentes – na análise do “Poeminha do Contra”, de
Mario Quintana, e da tela “Ceia”, de Mestre Ataíde. Antes, porém, de examinar essas
telas/textos, discorreremos, brevemente, sobre as categorias de análise dos planos do conteúdo
e da expressão.
2. O plano do conteúdo e o percurso gerativo de sentido
A dicotomia expressão/conteúdo vem de Hjelmslev (1968). Segundo ele, o
sentido ocorre pelo encontro desses dois níveis que, como tais, são suscetíveis de ser
analisados pela mesma metalinguagem descritiva. Começaremos pelo plano do conteúdo.
Como já afirmamos, esse plano é examinado por meio do percurso gerativo de sentido, que
comporta três níveis: o fundamental (mais simples e abstrato), o narrativo (nível
intermediário) e o discursivo (mais complexo e concreto). Cada um desses níveis é dotado de
uma sintaxe, entendida como o conjunto de mecanismos que ordena os conteúdos, e de uma
semântica, tomada como os conteúdos investidos nos arranjos sintáticos, sendo que a segunda
tem uma autonomia maior que a primeira, o que implica a possibilidade de investir diferentes
conteúdos semânticos na mesma estrutura sintática.
Temos, assim, uma semântica fundamental que – ao lado da sintaxe
fundamental – corresponde à instância mais profunda do percurso gerativo. As unidades que a
CASA, Vol.5, n.2, dezembro de 2007
http://www.fclar.unesp.br/grupos/casa/CASA-home.html 3
instituem são estruturas elementares da significação e podem ser formuladas como categorias
semânticas suscetíveis de ser articuladas sobre o quadrado semiótico. Uma categoria
semântica é uma oposição tal que a vs b, sendo esses dois elementos sobremodalizados com
traços de positividade (euforia) e negatividade (disforia). Já a sintaxe fundamental, com suas
duas operações básicas de asserção e negação, possui um caráter puramente relacional e é
logicamente anterior à sintaxe narrativa, formulada em termos de enunciados comportando
actantes e funções (GREIMAS; COURTÉS, 1993).
No patamar seguinte, temos a sintaxe e a semântica narrativas. Esta deve ser
considerada como a instância de atualização dos valores (presentes como sistemas axiológicos
virtuais no nível fundamental), que são, então, assumidos por um sujeito. Nessa perspectiva, a
passagem da semântica fundamental à semântica narrativa consiste essencialmente na seleção
dos valores disponíveis – e dispostos no quadrado semiótico – e na sua atualização pela sua
junção com os sujeitos. É ainda no âmbito da semântica narrativa
...