LITERATURA BRASILEIRA: MACHADO DE ASSIS
Por: EDIVANPRATA • 22/5/2016 • Resenha • 8.446 Palavras (34 Páginas) • 1.165 Visualizações
- INTRODUÇÃO:
Machado de Assis contribuiu de forma significativa para o fortalecimento da Literatura Brasileira, na medida em que defendia a utilização do teatro como um meio de demonstrar os problemas sociais e morais do século XIX, apesar de seu teatro ter sido pouco estudado por alguns críticos. Diante desse fato, fica claro a grande importância que Machado possui em âmbito literário. Desde a sua mocidade o autor sempre esteve ligado ao cenário teatral, nesse período já exercia a função de crítico, traduzia peças de autores franceses e começou a escrever as suas primeiras peças teatrais. No ano de 1856, Machado publicou e firmou com sua assinatura os seus três primeiros artigos no jornal A Marmota Fluminense registrando os seus conceitos sobre poesia e teatro. Aos 20 anos de idade, começou a sua carreira como crítico teatral em uma das seções da Revista de Teatro do jornal O Espelho, no ano de 1859. Até meados dos anos 70 o escritor se entregou de corpo e alma somente ao teatro.
O papel como crítico teatral, exercido por Machado, divulgado em vários jornais e revistas cariocas, foi essencial para que alguns estudiosos do teatro brasileiro reconhecessem as transformações e alterações pelas quais a dramaturgia estava passando em meados do século XIX.
Estas transformações estão ligadas às manifestações contrárias assistidas pelo autor entre as escolas românticas e realistas. Em suas obras teatrais podemos perceber a forte presença do modelo, relacionado a estética realista que defende a tese de acabar com os exageros nas cenas, com o objetivo de deixá-las mais naturais e menos emotivas. Desse modo, podemos observar que um dos fatores que levaram Machado a criar as suas primeiras peças de teatro foi a sua representação como crítico e a sua convivência com escritores e artistas que estudavam sobre o teatro daquela época. Dessa maneira, Machado representava em suas peças os problemas cotidianos da sociedade burguesa, registrando a ausência de naturalidade em que vivia aquela sociedade. Essa ausência de naturalidade não está atrelada somente aos costumes de vida das pessoas da classe social a qual pertencia a burguesia, mas se expande ao seu discurso, assim através deles o escritor coloca à mostra esses problemas sociais nas suas peças.
O autor escreveu onze peças teatrais: Hoje avental, amanhã luva; Desencantos; O Caminho da Porta; Lição de Botânica; Não Consultes médico; O Protocolo; Quase ministro; As Forças Caudinas; Os deuses de Casaca; Uma Ode de Anacreonte; Tu só, tu, puro amor.
Durante muito tempo as peças de Machado foram deixadas à margem pela crítica literária; porque poucos escritores dissertaram de forma mais clara a parte dos textos do autor que trata sobre a questão de seu teatro, talvez por serem obras teatrais, alguns escritores não quiseram fazer uma pesquisa mais aprofundada sobre estas peças. Podemos identificar este aspecto na citação de Helena Tornquist:
O romance e o conto de Machado de Assis têm despertado o interesse da crítica, instigada pelo desafio permanente de textos que estão entre os melhores já produzidos na literatura brasileira. O mesmo não pode ser dito sobre as peças de teatro, uma vez que estas, em geral, ficam à margem, quando não passam completamente despercebidas dos estudiosos. O fato de Machado ter-se dedicado ao teatro no início de sua carreira, chegando mesmo a considerá-lo como seu destino literário, já seria motivo suficiente para que recebessem mais atenção. (2002, P.19).
Neste estudo, não poderíamos deixar de registrar sobre algumas críticas que muitos estudiosos fizeram a respeito do teatro de Machadiano, pois estas avaliações nos revelam por que suas obras foram desconsideradas pela crítica literária, assim, podemos pensar sobre os prováveis equívocos cometidos por alguns literatos. A exemplo temos a carta de Quintino Bocaiúva para Machado, se fizermos um estudo minucioso desta carta, podemos verificar que muitos críticos a tomaram como base para justificar a falta de qualidade que, segundo eles, existem nas peças de Machado. Bocaiúva defendia a ideia de que as obras teatrais de Machado deveriam ser aceitas pela crítica literária “[...] como um ensaio, como uma experiência, e, se podes admitir a frase, como uma ginástica de estética” (2001, p.554). Essa afirmação constataria a ausência de qualidade cênica nas produções de Machado de Assis. Segundo Quintino Bocaiúva as comédias de Machado de Assis só servem apenas para atos de leitura e não para serem encenadas, destacando que são produções “não teatrais”.
Diante da crítica construída por Bocaiúva, e por alguns letrados, alguns escritores que estudam a sua obra, nos revelam as incorreções cometidas pela crítica e nos propõem uma análise minuciosa sobre o teatro machadiano. Entre eles: João Roberto Faria (2001), Décio de Almeida Prado (1999), Cecília Loyola (1997), Helena Tornquist (2002), Magaldi Peixoto (1986), Gabriela Maria Lisboa Pinheiro (2008) e recentemente Ana Paula Vital Rocha Araújo (2015) que vêm enriquecendo a dramaturgia criada por Machado ressaltando que para analisar as produções teatrais do dramaturgo precisaríamos identificar o contexto teatral o qual a peça está inserida, para que possamos entendê-las sob um panorama histórico e estético.
Apesar da comédia teatral ter sido raramente abordada, nas universidades, a grande maioria dos estudos analíticos sobre as produções de Machado de Assis se direciona a prosa ficcional do autor, mas alguns literatos machadianos se propuseram a analisar as qualidades do teatro brasileiro como, Alfredo Bosi (1985), Décio de Almeida Prado (1999) e João Roberto Faria (2001), que visam estudar as particularidades do trabalho dos escritores e a maneira de mostrar os problemas sociais através de suas comédias. Partindo-se dessa tendência, o estudo sobre a representação do casamento na peça O Protocolo (1863) se destinará à análise da importância do matrimônio utilizado no século XIX, para refletirmos sobre um novo olhar no que se refere a arte nacional e alguns acontecimentos sociais não revelados nessas peças.
Faremos uma revisão bibliográfica das teorias acerca da representação do casamento, utilizamos como embasamento teórico, as teorias de Jean Michel - Massa (2009) e Helena Tornquist (2002) que apresentam diferentes perspectivas a respeito do tema, oferecendo-nos um olhar mais abrangente sobre a representação dessa temática.
Com esse intuito, focalizaremos neste trabalho a análise da representação do casamento na peça O Protocolo (1863) de Machado de Assis. Analisar a representação do casamento em suas obras teatrais pode contribuir como uma das formas de combater certos pressupostos teóricos estabelecidos pela Literatura Nacional sobre o universo teatral machadiano, o qual foi deixado de lado pela crítica literária. Loyola nos alerta para este fato:
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