Os Terraqueos

ha terraqueos na terra.

elxs são perigosxs.

“Women, specifically, have long been commodified as sexual objects (and men have, too, in a different fashion and to different ends). We aren’t just used to sell things, but we are things; we are figuratively “on sale” for consumption all the time. Although women are hypersexualized in this process of commodification, as individuals they are stripped of their own sexuality. If an object has a perspective on its own sexuality, its sexual identity or desires, it is in danger of becoming real, a subject.“ (JOHNK, 2012)

A comodificação do sexo, assim, refere-se à transformação de corpos humanos em commodities sexuais precificadas a partir de normatividades sociais, e ao estabelecimento, nos sistemas econômicos capitalistas1, de economias do sexo fundamentadas na produção – material ou discursiva – de bens, serviços e discursos destinados a alterações, avaliações, precificações, e intervenções sobre corpos e práticas sexuais humanas. Estas economias caracterizariam, de acordo com as complexas intersecções normativas, distintas inserções econômicas de pessoas e grupos sociais.

Vivências transgêneras estão localizadas, pelas suas marginalizações, em pontos particulares desta economia do sexo comodificada. São pontos, entretanto, que se inserem em dinâmicas da comodificação generalizada do sexo: dessa forma, transgeneridades podem ser vistas, neste artigo, como pontos particularmente situados que permitem uma análise crítica de um movimento geral da comodificação do sexo. Em especial, pretende-se analisar três aspectos deste processo social: a especificação técnica de corpos, o mercado sexual 'stricto sensu', e a comodificação do sexo em relação ao conceito de erótico.

Os processos contemporâneos de 'transição' de pessoas transgêneras, popularizados a partir de meados do século passado, consistem fundamentalmente em procedimentos estéticos 'tópicos' (cortes de cabelo, remoção ou manutenção de pelos corporais, indumentária), terapias hormonais e procedimentos cirúrgicos. Para além da costumeira curiosidade e da eventual invasividade envolvida nas considerações destes processos, podemos verificar, através deles, como corpos humanos têm sido crescentemente sujeitos a uma especificação técnica: dos pés às cabeças, há um conjunto de medidas ou “RANGES” que, em conjunto, definem o valor social conferido a estes corpos. A depender dos graus de inadequação a estas medidas, pode-se dizer que a humanidade mesma destes corpos passa a ser questionada2.